Me chame no WhatsApp Agora!

Carlos Marx R. Carneiro

Oficial Florestal Principal da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação

Op-CP-02

Fortalezas e oportunidades do setor de celulose e papel brasileiro no contexto florestal internacional

De acordo com o Programa de Avaliação dos Recursos Florestais Mundiais da FAO de 2005, a cobertura florestal natural mundial é de 4,036 bilhões de hectares, dos quais o Brasil ocupa 472,3 milhões de hectares, ou seja, 14,26 % do total mundial, constituindo-se no segundo mais rico país do planeta, em florestas nativas.

Por outro lado, as plantações florestais produtivas na América Latina passam dos 12 milhões de hectares, porém, o Brasil só ocupa 5,34 milhões de hectares desse total, constituídos, em grande maioria, por eucaliptos e pinus, que oferecem incríveis taxas internas de retorno, na ordem de 18 a 24 %, tornando as plantações brasileiras as mais competitivas do hemisfério.

Na realidade, a expansão histórica dessas plantações não cresceu de forma proporcional às necessidades do setor. Ainda de acordo com as cifras da FAO, o mundo produziu em 2003, 170 milhões de toneladas de madeira para pasta, 19 milhões de toneladas de pasta de outras fibras, 328 milhões de toneladas de papel e derivados e 145 milhões de toneladas de papel reciclável.

Entre os maiores exportadores, o Brasil ocupa a honrosa colocação de quarto país, no quesito pasta de papel. É interessante verificar que o consumo de pasta na região duplicou nos últimos anos, alcançando, em 2003, 9,8 milhões de toneladas. O consumo de papel e cartão alcançou 20,5 milhões de toneladas e a demanda por pasta e por papel de fibra curta, da qual o Brasil é campeão mundial, também cresceu substancialmente, tendo representado, em 2003, quase 65% das exportações de nossa Região.

No contexto do setor florestal como um todo, a indústria de papel e celulose foi a que mais progresso alcançou, em nossa região, principalmente, no Brasil e Chile e, mais recentemente, na Argentina, México e Uruguai. Na realidade, mais de 90% da produção e exportação de papel e celulose concentra-se na esfera dos primeiros quatro países. Dez empresas produzem mais de 50 % do papel e cartões de toda a região e o Brasil lidera o ranking de atração dos investimentos florestais, segundo recente estudo, formulado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID.

Porém, quando comparados a estatísticas globais de produção e exportação, os valores brasileiros são modestos. Analisando todos esses números e indicadores, confirmamos que o Brasil tem um potencial fantástico no contexto regional e global, no entanto, quando observamos as exportações do hemisfério americano nos damos conta que, dos US$ 44 bilhões exportados em 2004, o Brasil participou com pouco mais de 10%, enquanto o Chile, país com extensões de terras produtivas inferiores às do Brasil, exportou valores semelhantes aos nossos.

É o setor florestal Chileno mais eficiente? São os custos brasileiros de produção maiores que os do Chile? Creio que não. Paralelamente, se analisarmos o comércio internacional com a Ásia, especialmente com a China, verificamos que em 2005, este país foi o terceiro mercado de exportação para o Brasil e o segundo para o Chile e cerca de 21,2% da madeira e pasta da região já são exportadas para a China.

Isso representa uma enorme oportunidade para o Brasil, porém, como menciona o Banco Mundial, seria necessário que o país, e outros da região, para aumentarem sua produtividade e competitividade, invistam, pelo menos, de 4 a 6% do seu PIB em infra-estrutura, sendo que estamos bem abaixo disso, atualmente.

Adicionalmente, não esqueçamos que a China, em muito pouco tempo, poderá converter-se em competidor no mercado internacional, com os mesmos produtos que hoje adquire do Brasil, o que poderá mudar drasticamente os atuais termos de intercâmbio comercial. Com a previsão de que o consumo de pasta, papel e derivados alcance os 55 milhões de toneladas no ano 2020, as perspectivas para o setor, no Brasil, são muito positivas, o que poderá contribuir para um crescimento das exportações setoriais de, pelo menos, 6% ao ano, alcançando quantidades comercializáveis da ordem dos 13,5 milhões de toneladas, para pasta, e 4,5 milhões, para papel e derivados, e ainda poderá contribuir para dobrar o número de empregos que o setor florestal brasileiro oferece.

Na realidade, o cenário do cone sul será cada vez mais competitivo para o Brasil e os países citados abaixo podem tornar-se sérios competidores do Brasil: o Chile, com seus 2,5 milhões de hectares plantados, especialmente com pinus radiata e eucaliptos, com tecnologia de ponta e alta competitividade, aumentou, em 2005, em 30,6% as exportações somente para a China; a Argentina, com mais de 1 milhão de hectares de eucaliptos; o Uruguai, com 750 mil hectares de eucaliptos e duas plantas de celulose em instalação na região de Frei Bentos, com capacidade de produção, para 2008, de 1,5 milhão de toneladas de pasta - e outras que desejam se instalar no país vizinho; o México que está levando muito a sério o negócio florestal, tanto que, de janeiro a julho de 2005, registrou um aumento de 9,4% nas exportações florestais, com um incremento de 11% de pasta branqueada de eucalipto, para os mesmos mercados exportadores do Brasil.

Finalmente, deixo a observação de que, se considerarmos as potencialidades brasileiras, verificaremos que o setor, mesmo quando comparado a outros países emergentes, necessita melhorar, para fazer frente às necessidades e expectativas de todos. Isso fica mais evidente quando analisamos as estatísticas regionais e globais de produção e exportação de produtos florestais. A competição está cada vez mais acirrada, o que tornará bem mais difícil a tarefa do setor de papel e celulose do Brasil.