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Aguinaldo José de Souza

Especialista em Tecnologia da Suzano

OpCP65

A origem e o tratamento da variação da densidade básica

É incontestável a importância da densidade básica (DB) da madeira de Eucalyptus para a produção de celulose. A literatura descreve inúmeros efeitos dessa variável no processo de produção e nos produtos das diferentes fábricas do Brasil e do exterior. Sabe-se, hoje, que, para o planejamento de construção de uma nova fábrica de celulose, é preciso haver um casamento perfeito entre a qualidade de madeira (QM) disponível, tanto para o início da produção, como para o futuro abastecimento, com a tecnologia a ser adotada na indústria.


A DB será a principal variável dessa QM, já que, além de ajudar a definir as especificações dos novos equipamentos, ela será fundamental para predizer qual será o consumo específico do principal insumo na futura fábrica.


O território brasileiro, assim como as áreas da própria Suzano, em função da diversidade edafoclimática, possui plantios de diferentes espécies/procedências e clones de Eucalyptus, com predomínio do híbrido de E. grandis x E. urophylla. Esse híbrido, em função da maior ou menor carga genética de um dos genitores, pode ter sua DB variando de 350 a 600 kg/m³.



É de conhecimento que as procedências de E. grandis originadas de regiões mais ao sul da Austrália (ex. Coffs Harbour), em clima mais ameno, entregam DBs mais baixas, enquanto E. urophylla da Ilha de Flores na Indonésia (menores altitudes e temperaturas mais elevadas) apresentam DBs mais altas.


Além disso, um mesmo clone desse híbrido pode ter sua variação da DB ao longo do território brasileiro, tendo uma elevação dessa variável quando plantado em latitudes mais baixas. Essa variação de latitude também altera as características morfológicas e químicas, o que proporciona, nas áreas da Suzano e para um mesmo clone, o aumento da espessura da parede da fibra, a redução do diâmetro do lúmen e o crescimento do teor de extrativos, sempre que o plantio sai do Trópico de Capricórnio e vai em direção ao Equador.


O principal objetivo da área de melhoramento genético de uma empresa de papel e celulose, em relação à DB, é ir além da busca da melhor interação genótipo x ambiente voltada para o volume, ou seja, não basta alcançar a máxima produção de madeira por hectare, é preciso complementar com a interação madeira x processo x produto. Hoje, a DB também é a principal variável de QM para seleção de clones no programa de melhoramento genético do setor de celulose, já que ela tem boas correlações com outras variáveis importantes para o processo e para o produto.


Na Suzano, em função da localização, tecnologia das fábricas com suas florestas dedicadas e das necessidades dos clientes, o programa de melhoramento genético foi se moldando em relação à DB.  O E. grandis de Coffs Harbour, com baixa DB, foi melhorado especialmente para ter alta produtividade para as fábricas de papel de imprimir e escrever em São Paulo, enquanto o híbrido E. grandis x E. urophylla, com DBs mais altas, foi melhorado e direcionado principalmente à produção de celulose de mercado para tissue nas demais localidades.



Desde a recomendação de clones para o plantio anual, esse voltado para uma determinada unidade industrial, é fundamental que não haja grandes amplitudes de variação na DB (ex. entre 450 e 550 kg/m³), uma vez que essa madeira, no futuro, com essa amplitude e em altos percentuais de cada classe, poderá entrar na fábrica num mesmo dia.


Se isso ocorrer, haverá sérias complicações para o processo e para a qualidade do produto. A área de planejamento do abastecimento (ex. PCP) tem a função de cuidar para que a DB chegue diariamente, nos caminhões, até a fábrica, com a melhor uniformidade e a mais baixa amplitude possível, ou, no mínimo, dentro de uma distribuição normal (curva de Gauss), de forma a permitir e garantir a cadência das DBs extremas.


A Suzano possui 3 indicadores importantes para controlar a variação da DB ao longo do mês, sendo eles: Range (amplitude diária), Coeficiente de Variação (mensal e diário) e Fator U (controle da distribuição normal diária). Devido à complexidade desse planejamento e controle do abastecimento de madeira, desde 2019, a Suzano vem desenvolvendo projetos de melhoria via otimização digital, os quais implantaram e padronizaram esses 3 indicadores para todas as unidades da empresa.


A DB, além de ser a principal variável da QM para produção de celulose e ter correlação com características morfológicas e químicas, também é uma importante variável para os modelos matemáticos, quando associada a outras variáveis silviculturas e de QM, visando predizer propriedades físicas, como bulk, índice de tração e “drenabilidade” (oSR). Essa importância da DB para a Suzano exige um grande esforço da empresa para se obterem informações em quantidade e confiabilidade exigidas pelos diferentes processos.



São 3 diferentes avaliações de DB feitas na Suzano:

a) DB P&D: análise feita para a área de melhoramento genético a partir de testes e experimentos, em diferentes idades, para fins de seleção de clones;

b) DB Operacional: calculada pela área de planejamento florestal a partir de modelos e tabela de referência de clones operacionais para fins de abastecimento de madeira;

c) DB de Inspeção: feita nos cavacos, após a entrega da madeira, pela área de qualidade industrial, visando confirmar a DB planejada. Atualmente, na empresa, novos aprimoramentos estão sendo feitos para essas 3 avaliações, destacando o uso do NIR, amostragem não destrutiva, modelagem matemática e otimização digital para interação madeira x processo.