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Fabiano da Rocha Stein

Gerente de Suprimentos de Madeira da Veracel

Op-CP-47

Mudança no processo de colheita florestal com interação na silvicultura
A busca por melhorias e inovações em processos florestais, procedimentos operacionais e equipamentos de trabalho é foco de todas as empresas de base florestal na busca de redução de custos, aumento de produtividade e qualidade de trabalho e segurança. Sendo assim, a realização de estudos que aperfeiçoem as operações e reduzam os custos operacionais torna-se cada vez mais importante. Para as atividades de colheita florestal, são amplamente usados os equipamentos do sistema Full Tree (feller buncher, skidder e garra traçadora), ou sistema Cut-To-Lenght (harvester e forwarder), sendo a escolha do sistema geralmente definida pelo uso final da madeira.
 
O processo Cut-To-Lenght é caracterizado pela realização de todas as atividades complementares ao corte (desgalhamento, destopo, traçamento e descascamento), no próprio local onde a árvore foi derrubada. A derrubada é a que desencadeia mais impactos na manutenção mecânica, pois, com a queda da árvore suportada pelo cabeçote, o choque da queda provoca vibrações em todo o sistema estrutural e hidráulico do equipamento.

O cabeçote processador possui uma estrutura metálica que envolve o conjunto de corte chamado “caixa do sabre”. Tal estrutura tem como uma de suas funções suportar e proteger o sabre com corrente quando apoiado no solo para realizar o corte da árvore. Assim, a distância do sabre, somada à massa de resíduo vegetal sobre o solo e perfil do terreno, não permite que a operação seja feita normalmente rente ao solo sem que haja danos à estrutura do cabeçote e sua ferramenta de corte.
 
Já no processo Full-Tree, as árvores são derrubadas, arrastadas até estradas ou carreadores, onde são traçadas, podendo ser descascadas ou não por um processador. O feller buncher, equipamento florestal responsável pela primeira etapa desse sistema, possui cabeçote acumulador com ferramenta de corte tipo disco, no qual estão distribuídos os “dentes” que podem ser fabricados em material de aço e revestidos com outro metal de maior dureza chamado de vídia.

Estes possuem alta resistência à abrasividade e ao esforço de trabalho. Isso permite esse tipo de equipamento colher áreas com grandes diâmetros como também áreas de segunda rotação, principalmente do gênero Eucalyptus.Nas atividades da Veracel, o sistema adotado é Cut-To-Lenght, por permitir adicionar, em média, 14 t/ha de matéria seca de casca (florestas colhidas aos sete anos de idade). Juntamente com outros resíduos deixados no campo, como folhas (2,5 t/ha) e galhos (6,87 t/ha), são a principal fonte de material orgânico para a formação futura de matéria orgânica do solo, por meio da ação decompositora dos microrganismos. Além disso, esses resíduos servem como cobertura e proteção do solo contra a incidência direta da irradiação solar e o impacto da chuva sobre o solo.
 
Dentre todos os resíduos que permanecem na área, os tocos de eucalipto remanescentes após a colheita são os que mais dificultam a mecanização das operações silviculturais, como preparo do solo e adubação, impossibilitando o tráfego de máquinas e implementos devido ao impedimento físico. Portanto, assim como a silvicultura exerce forte influência sobre as operações de colheita, a colheita florestal tem papel fundamental na contribuição dos bons padrões de florestas, principalmente no que tange à compactação de solo pelo tráfego de equipamentos, organização da área pós-operação e altura de tocos resultantes do corte.
 
Pensando nessa relação, a Veracel mudou seu sistema de colheita, buscando unir, mesmo que de forma parcial, as vantagens de cada equipamento participante e otimizar a especialidade de cada um, sendo assim o feller buncher destinado para a derrubada, harvester realizando somente o processamento e forwarder para o baldeio das toras. Manutenção de resíduos distribuídos na área colhida, ganhos de produtividade dos equipamentos, rebaixamento dos tocos, ergonomia operacional e melhor aproveitamento das árvores foram os principais ganhos encontrados nessa mudança. 
 
De forma resumida, foram encontrados, nas operações de colheita, ganhos significativos em produtividade dos equipamentos harvester e forwarder, ganhos ergonômicos nas atividades, melhora de logística interna de trabalho e redução de danos aos cabeçotes. Considerando a interação do novo sistema com as atividades silviculturais, este é ainda mais benéfico ao processo operacional de formação de florestas, sendo uma das grandes vantagens o rebaixamento de tocos remanescentes de segunda rotação, os quais, anteriormente, não eram possíveis de rebaixamento pela operação de colheita devido às limitações do cabeçote processador do harvester.

O corte rente ao solo, permitido pelo uso de feller buncher, possibilitou à silvicultura mecanizar as áreas sem a necessidade prévia de rebaixamento de tocos. Os tocos remanescentes de florestas de segunda rotação dificultam a mecanização das atividades subsequentes da silvicultura. 
 
Outro benefício foi o aproveitamento de madeira, pois tocos altos significam perda de madeira do tronco, exatamente no local onde o diâmetro do tronco está em seu máximo valor, que é na base da árvore. Quando deixamos cerca de 5 a 10 cm de altura de toco, perdemos entre 0,4% a 0,7% do volume útil e comercial do tronco. Quando esse toco fica alto demais, acima de 15 cm de altura, chega-se a perder até 1,5% a 2% do volume do tronco comercial da árvore.

Em áreas de segunda rotação, a base da árvore possui alta densidade e acúmulo de areia e terra, impossibilitando o corte da cepa a uma altura menor que 15 a 20 centímetros, pois, além do impedimento físico proporcionado pelas laterais inferiores dos troncos, há o risco de quebra do sabre por prensagem pelo peso da árvore e alto desgaste das correntes de corte, reduzindo a eficiência operacional da atividade. Colher com feller buncher permite melhor aproveitamento da árvore, pois esse equipamento permite não somente nivelar o ângulo de ataque como também o corte de materiais de maior densidade.
 
Esse foi um exemplo de que precisamos questionar os modelos de sistemas que existem em nosso setor e quebrar alguns paradigmas. Isso foi feito por dois engenheiros da Veracel, o que oportunizou aumento de qualidade, ganhos de produtividade, racionalização dos processos e de custos, pois, só assim, teremos condição de manter a indústria de base florestal brasileira sendo competitiva mundial.