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Ricardo Anselmo Malinovski

Professor do Curso de Engenharia Florestal da UFPR

Op-CP-29

Tecnologia e inovações nas operações florestais

O incremento médio anual do gênero eucalipto aumentou em torno de 40% nos últimos 10 anos; atualmente, estamos atingindo uma média de 42m3 por hectare/ano. Realmente um número incrível, que nos orgulha. Por outro lado, nesse mesmo período, tivemos um aumento de mais de 200% no valor do salário mínimo e no preço da terra, por exemplo.

Além disso, estamos passando por um momento crucial pela escassez da mão de obra, fato que, certamente, se agravará nos próximos anos. Soma-se a esse quadro a tendência iminente da primarização das atividades operacionais e os crônicos problemas de infraestrutura e logística no território brasileiro, que oneram, de forma significativa, toda a cadeia produtiva.

Nesse quesito, estamos atrasados, no mínimo, 30 anos quando comparamos o Brasil com os países desenvolvidos. Não temos controle para alterar as políticas macroeconomias, e, infelizmente, a insatisfação e a lamentação dos empresários do setor não são suficientes para sensibilizar os governantes a mudarem esse cenário a curto prazo. Resta-nos, então, pensar e atuar da “porteira” da fazenda para dentro.

Muitas empresas buscam, com frequência, novas tecnologias para minimização dos custos da produção, porém, às vezes, é mais fácil iniciar essa procura dentro da própria casa. Rever os processos, as metodologias e os possíveis “gargalos” da produção. Sempre há algum procedimento que pode ser melhorado.

Em alguns casos, a regra padrão dos receituários operacionais precisa ser revista, pensando em cada unidade produtiva de forma distinta. Precisamos, mais do que nunca, inovar e reinventar as técnicas e equipamentos utilizados, sempre visando ao aumento da produtividade, seja do equipamento, seja do crescimento da floresta.  

No ciclo das operações florestais, sem dúvida, a área de colheita de madeira evoluiu de forma fantástica e atingiu um status tecnológico satisfatório; por outro lado, o processo de mecanização das operações silviculturais ficou aparentemente adormecido.

Não ocorreram mudanças significativas nos equipamentos. Alterou-se apenas a técnica de preparo do solo, saímos do cultivo intensivo, onde se fazia o preparo de toda a área e posterior queima dos resíduos, e evoluímos para o cultivo mínimo, mas isso já faz mais de 20 anos.

Obviamente, é indiscutível que os ganhos com o melhoramento genético, atrelados à evolução das técnicas e das dosagens de adubação e manutenção dos povoamentos, foram os grandes responsáveis pelos aumentos significativos dessa produtividade.

Nesse quesito, o mérito vai para os excelentes pesquisadores brasileiros, que, a cada dia, divulgam novas opções de clones adaptados e novas formulações químicas desenhadas especificamente para as diferentes condições de sítio. A mecanização da silvicultura é a “bola da vez”.

Felizmente, já está em operação, em algumas empresas do setor, um implemento para o preparo do solo que é tracionado por um trator de esteira, capaz de fazer, ao mesmo tempo, várias operações: o rebaixamento e o corte dos tocos, possibilitando o realinhamento em áreas de reforma; o afastamento dos resíduos da linha de plantio; e o preparo do solo com a aplicação de herbicidas e fertilizantes.

Nesse equipamento, também está acoplado um sistema para monitorar a velocidade do trator e a respectiva aplicação do fertilizante, tecnologia avançada que permite o melhor controle da atividade. Outro equipamento multifuncional e em pleno desenvolvimento e aprimoramento são as plantadeiras mecanizadas que realizam o preparo do solo e imediato plantio das mudas.

Estima-se uma produtividade de 1.200 mudas por hora. A maior limitação são o relevo e as áreas de reforma em função da presença dos tocos. Infelizmente, para as pequenas empresas, em função do custo/benefício, essas tecnologias ainda estão distantes.

Para áreas declivosas, características em empresas de base florestal, principalmente no sul do País, existem algumas opções tecnológicas interessantes, um pequeno trator de esteira, com baixo ponto gravitacional, que permite o trabalho a uma inclinação lateral de até 38º e longitudinal até 45º; o mais interessante é que esse equipamento já opera na cultura de cana-de-açúcar em áreas acidentadas, desde 2006, e poucos profissionais florestais possuem conhecimento dele.

Esse equipamento poderia ser utilizado para inúmeras atividades, do preparo do solo à aplicação de adubação e herbicidas. Outras novidades que podem dar certo: implemento acoplado no trator para realização de irrigação automatizada, não precisando de operadores com as tradicionais mangueiras; combate à formiga mecanizado; tesouras elétricas para poda, que podem cortar galhos com até 40 milímetros de espessura.

Enfim, mesmo que de forma incipiente, estamos vivenciando algumas iniciativas para aumentar a produtividade operacional, visando à redução dos custos de produção. Espera-se que, em breve, mais empresas possam anunciar ao mercado novas opções tecnológicas para a mecanização de silvicultura.