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Antônio Claret de Oliveira

Presidente da Câmara da Indústria de Base Florestal da Fiemg

Op-CP-09

Pontos-chave na eucaliptocultura brasileira

Se falamos em planos de longo prazo, sejam governamentais ou empresariais, na indústria de base florestal brasileira, precisamos nos atentar para pontos estruturais e culturais importantes, não apenas para esse setor, mas também para todo o desenvolvimento do país. Dentre esses pontos, gostaria de destacar cinco, que julgo de extrema relevância.

O primeiro diz respeito à imagem e aos mitos criados sobre o eucalipto, durante muitos anos. Uma série de afirmações errôneas contribuiu para que a sociedade formasse uma imagem ruim das florestas plantadas. Uma das mais descabidas e, impressionantemente, mais difundidas é a de que o eucalipto não é bom para o solo, ressecando-o.

Estudos já comprovaram que as raízes do eucalipto ficam muito distantes do lençol freático, sendo que a água disponível para o seu crescimento vem da camada superficial do solo. Dessa forma, é importante salientar que as florestas plantadas de eucalipto consomem a mesma quantidade de água que as nativas, no entanto são mais eficientes na conversão de água em madeira, pois crescem mais rapidamente.

Para se ter uma idéia, o eucalipto consome, em média, 0,43 m³ de água para produzir 1kg de madeira, enquanto a floresta nativa, 1,3 m³. Bem ao contrário do que afirmam esses mitos, as florestas plantadas proporcionam benefícios para o meio ambiente. Além da contribuição para a neutralização de carbono, o plantio em áreas degradadas atua como fator de recomposição do solo e melhoria da sua permeabilidade. Isso cria um ambiente adequado para instalação de outras espécies, de modo que para cada hectare de eucalipto, dez de cerrado são preservados.

O segundo ponto importante para o desenvolvimento do setor florestal brasileiro é a difusão de tecnologia e treinamento dos pequenos agricultores. É evidente que as empresas, com seu maior poder econômico, investem em pesquisas e detêm conhecimento. O que é preciso ser feito é levar esse conhecimento para aqueles que ainda não têm acesso ao mesmo, seja por meio de programas de governo ou de parcerias público-privadas.

O terceiro ponto trata de um fator que influencia não apenas o setor florestal, mas também todos os outros setores produtivos do país. Estou falando da infra-estrutura logística, ou seja, as estradas e ferrovias que realizam o escoamento da produção. Recente pesquisa divulgada pelo CEL – Centro de Estudos em Logística,do Coppead/UFRJ, estima que as empresas brasileiras deixam de ganhar US$ 40 bilhões por ano, em razão dos custos elevados e da precariedade da infra-estrutura de transporte e logística no país.

É claro que investimentos nessa área são importantíssimos para o desenvolvimento do setor florestal. Do contrário, mesmo que sejam atingidos grandes avanços nos processos de produção, ficaremos literalmente encalhados e sem perspectiva de atender, em tempo hábil, as demandas do mercado. O quarto ponto diz respeito às dificuldades de acesso ao financiamento para o setor florestal. Alternativas como o Propflor – Programa de Plantio Comercial de Florestas, e o Pronaf Florestal são essenciais para os produtores.

No entanto, eles precisam ser ampliados, de modo a permitir que a atividade florestal seja integrada ao consumo industrial, criando acesso à tecnologia e à assistência técnica pelo produtor, além de, principalmente, propiciar mais facilidade, em termos de garantias. O quinto ponto que aqui destaco tem muita relação e influência com as dificuldades de acesso ao financiamento mencionado acima. Isso evidencia a importância da desburocratização do setor florestal que, infelizmente, ainda é tratado como uma cultura diferente das outras como, por exemplo, a da soja, laranja, ou até a cana-de-açúcar.

Isso provoca um grande entrave, no que se refere ao licenciamento ambiental e muitos outros fatores. As conseqüências dessa burocracia podem ser bem negativas, como, por exemplo, o aumento da ilegalidade no setor. Não se trata, evidentemente, de ignorar as leis ambientais, mas sim de ressaltar a importância de serem mais modernas, ágeis e eficientes.

A questão primordial é que, ao não considerarmos esses importantes pontos, que podem contribuir para o desenvolvimento do setor florestal brasileiro, estaremos negligenciando um setor que contribuiu, por exemplo, com R$ 10,4 bilhões em tributos, no ano de 2006; arrecadou US$ 5,7 bilhões em exportações, no mesmo período – o correspondente a 4,18% do total exportado pelo Brasil. Ainda em 2006, a atividade também foi responsável por 4,3 milhões de empregos diretos e indiretos.

Se o país deseja crescer mais de 4% nos próximos anos, como foi anunciado pelo Governo Federal, é preciso ter esse cuidado especial com o setor florestal. Caso contrário, diversas empresas produtoras de ferro-gusa, aço e ferroligas a carvão vegetal, celulose, painéis, chapas de aglomerados, entre outros segmentos de base florestal, poderão entrar em colapso.

Assim, precisamos, urgentemente, nos unir, numa maratona para consolidar a base florestal brasileira. Para isso, não serão necessários desmatamentos. O próprio Governo Federal informou, via Ministério da Agricultura, que temos cerca de 90 milhões de hectares de terras em estado de degradação e que, um dia, foram plantadas. Isso vai gerar mais ganhos para o país, pois também vamos proteger e recuperar as terras e as matas nativas, haja visto que cada hectare plantado com eucalipto, retira-se a pressão de destruição sobre 10 hectares das reservas nativas, tão importantes para nós e para nossas futuras gerações.

Isso, ainda, sem contar a contribuição dos eucaliptais no desaquecimento global. Finalmente, precisamos falar do eucalipto com responsabilidade e sem medo, como o coco-da-baía foi discutido assim um dia. Hoje, ele é considerado, praticamente, um símbolo das praias brasileiras e foi, de fato, adotado como um filho muito querido do Brasil. Pensem sobre isso!