Me chame no WhatsApp Agora!

Roosevelt de Paula Almado

Gerente de Pesquisa e Meio Ambiente da ArcelorMittal BioEnergia

Op-CP-23

Perspectivas de produção na área de carvão

Não temos condições de prever qual exatamente será o futuro do biorredutor renovável (carvão vegetal proveniente de cultivos florestais), mas podemos avaliar o passado, analisar o presente e planejar o futuro. A sustentabilidade da fonte de matéria-prima renovável de qualidade que temos à nossa disposição é indiscutível. Nossas plantações deram um boom de produtividade, passando de 12 m3 para mais de 40m3, portanto três vezes mais, nos últimos 40 anos. Isso demonstra, entre outras coisas, a capacidade técnica e gerencial dos profissionais do setor.

Apesar de termos a melhor produtividade florestal do mundo, a base florestal nacional sofre com vários problemas: carência de uma política setorial de médio e longo prazo; legislação complexa e restritiva aos plantios florestais; descompasso entre investimentos na área industrial e na base florestal. Uma atenuante foi que, em praticamente todas as regiões de Minas Gerais, a madeira para energia apresentou um aumento da demanda dos setores da agroindústria localizada no meio rural, na secagem de grãos, chá ou tabaco e na indústria cerâmica.

Isso está contribuindo para a limitação ao crescimento do setor, na importação de madeira e uma consequente pressão sobre florestas nativas. Minha análise se refere ao setor de siderurgia a biorredutor  renovável e, como não poderia deixar de ser, falo do estado de Minas Gerais, maior parque siderúrgico do Brasil.

Os números mostraram que o setor de base florestal mineiro contribuiu para a geração de mais de 700.000 empregos diretos e indiretos, sendo o setor de metalurgia (siderurgia integrada, ferro-gusa e ferro ligas) responsável por mais de 100.000 empregos desse total. Em sete anos, de 2001 a 2008, o metro de carvão (mdc) subiu de US$17,00 para US$ 77,00. Com a crise em 2009, caiu para US$ 45,00 e está, hoje, em US$ 62,00.

Foram cultivados em Minas Gerais, no ano de 2010, segundo a Associação Mineira de Silvicultura, mais de 100.000 hectares de Eucalyptus, sendo que 38 % desse total foram declarados para a produção de gusa. O setor de siderurgia foi afetado fortemente pela retração do mercado internacional. Na busca pelo equilíbrio entre estoque e demanda, desde o surgimento da crise, a indústria ainda busca alternativas de corte de custos.

Programas de ampliação de capacidade foram desenvolvidos e estoques, reduzidos. Seis dos quatorze alto fornos de grandes siderurgias integradas no País foram abafados. No momento, para a área florestal, a revisão do Código Florestal é o ponto político de destaque, com a geração de muita polêmica e em fase de consolidação e ajustes que podem influenciar na análise dessas perspectivas.

Fato é que o desempenho do consumo de biorredutor em Minas Gerais foi decrescente de forma geral, mas, de maneira marcante, para o ferro-gusa; além disso, cultivaram-se menos 19.000 hectares quando comparado a 2009. A perda de competitividade do gusa nacional frente ao internacional foi marcante; altos custos e burocracias de alguns setores públicos vêm impedindo a total recuperação dos plantios e, consequentemente, da produção  de gusa.

A indústria do binômio biorredutor e ferro-gusa é sustentável tendo um grande potencial de alinhamento com a necessidade premente da humanidade em reduzir a emissão de gases de efeito estufa e mitigar os efeitos das mudanças climáticas sobre o ambiente. O balanço de CO2 mostra que, a cada tonelada de gusa produzido com biorredutor renovável, evita-se a emissão de aproximadamente 3 toneladas de CO2 na atmosfera – em comparação com o uso do coque.

A questão ambiental passa a ser relevante e estratégica. A possibilidade de agregar valor ao negócio, através de projetos de aproveitamento de energia do processo de carbonização, otimizando processos, reduzindo custos e aumentando a receita, não é mais utópica. Vários projetos estão com os seus PDD’s (Project Design Document) em trâmite no Executive Board da UNFCC-ONU.

Os Sistemas de Certificação de Manejo Florestal adotados pelas empresas vêm contribuindo também para fortalecer as boas práticas de manejo florestal numa abordagem sistêmica. Para nós, o real é que mais do que nunca será preciso plantar. Dados em fase final de consolidação direcionam que, tomando-se como base o consumo médio do estado de Minas Gerais, para atendimento de 100% da demanda de gusa para os próximos 5 anos, seriam necessários cultivos florestais em torno de 70.000 ha/ano.

Esses investimentos deveriam ser feitos, preferencialmente, nas regiões potencialmente demandantes, pois a falta de uma política, conforme mencionado, não permite que sejam orçados investimentos suficientes no desenvolvimento de uma malha logística eficiente, integrando diversos tipos de modais de transporte, permitindo o escoamento da madeira e do biorredutor renovável.

O planejar “para o futuro” é buscar incansavelmente a melhoria das condições de desenvolvimento da floresta através da definição da base genética, preparo de solo, fertilização, tratos culturais, manejo e colheita. Apesar da citada evolução da produtividade, precisamos atuar nos monitoramentos nutricionais da floresta, pois, mais do que nunca, é preciso mantê-la, melhorando as características da madeira desejáveis ao nosso produto final.

É preciso criar uma real dependência da base florestal com a indústria receptora, no caso do biorredutor renovável. Maior resistência mecânica, maior densidade e menor friabilidade são as características mais importantes. Porém isso começa na pesquisa e no desenvolvimento, passando pela  qualidade da entrega da madeira dentro das especificações de bitola, contaminação por resíduos florestais, umidade e controle de processos térmicos das fases de produção do biorredutor.

Politicamente, precisamos que o governo federal, através do MDIC e demais órgãos governamentais, amplie e melhore as condições de linhas de financiamento dos bancos nacionais de fomento com espécies arbóreas exóticas; determine que a madeira de florestas plantadas possa ser colhida e comercializada pelo proprietário, sem prévia autorização de órgãos estaduais e federais; e o principal: inserir a floresta plantada e o biorredutor renovável nos esforços de promoção institucional dos bicombustíveis brasileiros no âmbito da diplomacia internacional e das ações coordenadas pelo Itamaraty em diversos fóruns internacionais. A perspectiva para o futuro “planejado” do setor de biorredutor renovável é gerar riquezas, educar o homem, conservar os recursos naturais e, em especial, a energia.