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Paulo Eduardo Stabile Arruda e Rose Mary Estádio

Diretor Técnico e Consultora do Sebrae-SP

Op-CP-10

Competitividade para as pequenas empresas dos APLs

O sistema Sebrae, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, tem como missão fortalecer e consolidar o motor social do país – as micro e pequenas empresas. São 5,5 milhões de pequenos negócios formais, responsáveis por quase 70% de geração de empregos. Aprimorar a gestão, capacitar administrativa e financeiramente seus proprietários e estimular a inovação de seus processos, produtos e serviços e, conseqüentemente, aumentar a competitividade, é o que nos move, diariamente.

Entre as várias estratégias adotadas para concretizar este objetivo maior, o Sebrae-SP optou por promover a criação dos Arranjos Produtivos Locais, APLs, em conjunto com uma série de parceiros. Esta forma de atuação conjunta é fundamental no desenvolvimento econômico, social e tecnológico de uma região, beneficiando todas as empresas e engajando ao seu redor comunidades locais, centros de tecnologia e pesquisas, instituições de ensino e entidades públicas e privadas.

Existem diversas definições para APL. O Sebrae-SP optou pelo conceito de aglomeração de empresas, que possuem a mesma especialização produtiva e se localizam em um mesmo espaço geográfico. Estas empresas mantêm vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com diversos agentes sociais: governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa.

O processo inicia-se com a identificação de um território, região, ou simplesmente um “bairro”, que tenha identidade e características de coletividade; após o diagnóstico, desenvolvem-se projetos integrados, sustentáveis e costumizados, utilizando uma metodologia que será implementada por e com vários atores.

O presente artigo tem como objetivo detalhar a experiência e os conhecimentos que a entidade adquiriu, ao implantar os APLs do setor moveleiro. De acordo com a Abimovel, Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário, o setor moveleiro no Brasil tem 16.104 empresas formais, sendo 12 mil microempresas (75%); 3.372 pequenas empresas (21%); 740 médias e grandes empresas (4%); além de uma estimativa de 32 mil empresas informais. No ano de 2006, o setor faturou R$ 14 bilhões, exportou US$ 945 milhões e produziu 309 milhões de peças, gerando 234 mil empregos formais.

No estado de São Paulo, mais especificamente nos pólos localizados no noroeste paulista, envolvendo os municípios de Mirassol, Votuporanga; e sudeste paulista, com as cidades que formam a região metropolitana de São Paulo e do Grande ABC, o Sebrae-SP, desde 2004, estruturou e implantou projetos com pequenas indústrias moveleiras.

Nestes três anos, a proximidade com os maiores mercados consumidores, a mão-de-obra qualificada e a existência de importantes instituições de suporte e apoio, aliados à cooperação, ao aprendizado coletivo e à capacidade de inovação dos empresários, foram os fatores determinantes para se obter os excelentes resultados destes pólos moveleiros.

O Sebrae-SP, por meio de sua rede de escritórios regionais, estrategicamente localizados em todo o estado de São Paulo, inicia esta prospecção, através de um levantamento de informações em entidades, institutos, fundações e outros, para se estabelecer as melhores relações entre as oportunidades do APL e “atores locais”.

Faz-se necessário ainda, uma avaliação minuciosa e qualitativa desses “atores”, para que se identifique o quanto podem contribuir para a consolidação do APL. A atividade cooperada e contributiva também ocorre em patamares verticais, com interação entre subcontratadas e subcontratantes, fornecedores e clientes horizontais, onde empresas congêneres e/ou que possuem a mesma base de insumos integram-se, ou ainda multilaterias, com interação entre universidades, centros de pesquisa, órgãos governamentais e associações empresariais.

Entre as atividades desenvolvidas nas empresas integrantes do APL estão a capacitação dos recursos humanos em cooperação empresarial;  a criação de um grupo gestor e a implantação do processo e prospecção estratégica, visando a melhoria das relações entre governo, setor privado e sociedade civil. Em paralelo ao acordo do projeto comum, o APL definirá a forma de gestão do Projeto (caso não o tenha realizado anteriormente). 

Segue-se a sugestão da formação de grupos temáticos, que estejam vinculados à coordenação do projeto (grupo gestor), como atribuições de transformar os desafios estratégicos, em ações a serem desenvolvidas. A competitividade da indústria moveleira depende não somente da eficiência dos processos produtivos, mas também da qualidade e do design dos móveis. Por isso, um dos pontos fortes de atuação, dentro dos APLs do segmento, é a incorporação de inovações.

Entende-se por inovação, a concepção de um novo produto ou processo de fabricação, bem como a agregação de novas funcionalidades ou características ao produto ou o processo que implique em melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade e produtividade. Ou seja, o estabelecimento de normas técnicas e a adoção de um programa ostensivo de design para a produção de móveis são da máxima importância para a elevação do nível de qualidade dos produtos e, portanto, de sua competitividade.

Por existir uma relação de interdependência entre todos os elos da cadeia produtiva, entendemos que as ações de modernização não podem se restringir apenas àquelas empresas que produzem os móveis. Políticas de modernização devem ser implementadas junto a outros segmentos da indústria brasileira, que estão atreladas ao segmento de móveis de madeira.

Pela nossa experiência junto as estes APLs, é necessário, em particular, inovar e elevar a competitividade da  indústria de madeira aglomerada, como forma de reduzir custos para a indústria de móveis. No segmento das serrarias, que atuam na extração de madeiras de lei, é preciso atualizar seus equipamentos e métodos de extração, para reduzir os desperdícios atuais.

Em relação aos reflorestamentos, é necessária uma melhoria da tecnologia silvicultural, com o desenvolvimento de plantios, especificamente direcionados para a indústria de móveis. Outras medidas que contribuirão para o sucesso destas empresas são do campo macroeconômico, como a continuidade da redução de tarifas e impostos nas importações de bens de capital, a promoção de uma reforma tributária que reduza a incidência dos impostos indiretos e a aceleração da definitiva implantação do programa de modernização dos portos.

No campo do financiamento, o BNDES pode agilizar linhas especiais de financiamento, vinculadas a projetos específicos de modernização e voltados para exportação. Ressaltamos, ainda, a importância de se investir fortemente na qualificação da mão-de-obra que, atualmente, se apresenta muito deficitária, e realizar convênios tecnológicos com as empresas da região, para uso, inclusive, de laboratórios de ensaios para madeira e móveis.

Na estratégia traçada pelo Sebrae-SP, dentro do APL, a atuação das empresas nos mercados nacional e internacional é fundamental. Embora as exportações brasileiras de madeira e móveis tenham aumentado consideravelmente nos últimos anos, no mercado internacional nossa participação ainda é insignificante (1,5%).

Ou seja, existe um vasto campo de oportunidades no segmento. Com apoio do Sebrae-SP e de outros parceiros, as entidades que integram o APL participam de missões (visitas técnicas) e feiras e visitam grandes pólos moveleiros nacionais e internacionais. Com isso, trazem na bagagem informações sobre oportunidades de negócios, que podem se transformar em novos produtos de exportação, como a recente incorporação do selo verde e certificação, que algumas empresas dos APLs já buscam.

A evolução sustentável dos pequenos negócios torna-se uma tarefa cada vez mais desafiante e complexa. Assim, as ações coletivas, cooperadas e/ou associadas são formas de superação de dificuldades, que devem ser estimuladas. Nesse sentido, micro e pequenas empresas de um mesmo segmento de atividade, que atuam em Arranjos Produtivos Locais, são fortes candidatas a uma atuação conjunta com êxito.