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Jeanicolau Simone de Lacerda

Gerente Florestal da Key Associados

Op-CP-11

O sistema florestal e as mudanças climáticas

Independentemente de formação ou atividade profissional, é automática a associação entre florestas, ou a manutenção destas, e as mudanças climáticas. Assim, o Brasil, como possuidor de alguns dos mais importantes e extensos biomas do planeta, sofre pressão intensa para manutenção dos mesmos, e nem poderia ser diferente.

Penso que as mudanças climáticas estejam, indiretamente, funcionando como um catalisador de bons projetos florestais no Brasil, em contra-partida a um histórico conturbado nesta área. Temos uma ligação umbilical com florestas. Quando pensamos em sistemas florestais no Brasil, não podemos desconsiderar que nosso relacionamento com florestas remonta toda nossa história.

É tão profundo este relacionamento que, segundo vários historiadores, no século XVI, eram conhecidos por brasileiros, não os nascidos aqui, mas sim os contrabandistas de pau-brasil, que a esta terra vinham explorar à exaustão o valioso bem. Obviamente, sem a autorização dos órgãos competentes da época. Assim, ao longo de 500 anos, alteraram-se os motivos, mas o uso e a exploração de florestas nativas, de forma desordenada e perdulária, foram se aprimorando.

Hoje, com a crescente pressão do mercado e a conscientização dos empresários, convivemos com uma gama de situações, que variam desde projetos baseados na destruição de grandes extensões de florestas, sem propriedade definida (o modelo do século XVI), chegando até o nível de empresários conscientes que, pelos mais diversos motivos – reputação, interesses econômicos lícitos, marketing ambiental, ou simplesmente por vontade de preservar - tentam executar seus projetos da forma mais correta possível e, pela facilidade de monitoramento, acabam sendo extremamente cobrados pelo Estado.

O custo de se manter uma floresta, ou mesmo de se implantar um projeto sustentável, dentro dos ditames da lei, é tão elevado (considere-se aqui não só custos diretos, relativos a investimentos em terra, projetos, licenciamentos, certificações e operação, mas também segurança das áreas, tempo para se obter as autorizações, entre outros), que, muitas vezes, somos levados a crer que a posse legal de florestas, independentemente do uso, é um “mico”.

Acredito que o principal motivo deste prejuízo dos empreendedores florestais é aquela nossa ligação atávica com as florestas, onde tendemos a vê-las como fonte de extrativismo predatório, onde produtos são coletados e o ciclo encerra-se, e não como um sistema produtivo contínuo. Todos nós sabemos que florestas produzem muito mais que madeira, levando a deduzir que valham muito mais em pé, preservadas e produzindo, do que cortadas.

Ocorre que ainda não sabemos direito como cobrar, pelo que não é cortado ou extraído. Os serviços ambientais, produzidos pelas florestas nativas são a “bola da vez” e estão sendo muito discutidos. É consenso que é muito custoso manter uma floresta em pé, e seria necessário ser remunerado por tudo que elas produzem, enquanto estão íntegras, e não apenas quando são reduzidas a algumas peças de madeiras nobres ou um monte de lenha.

Porém, para que possamos mantê-las devidamente intactas e protegidas, precisamos de recursos. Assim, depois de sabermos exatamente como valorizar as florestas em pé, consideradas como um bem de uso comum (daí a dificuldade de valorizá-las), temos que convencer os prováveis pagadores pelos tais serviços que isto não é uma forma terrorista de chantagem, mas sim um serviço vital para manutenção da vida no planeta, merecendo ser remunerado como qualquer outro serviço, produto ou bem tangível.

Há ainda outros aspectos, ligados à formação de opinião pública, que têm sido reforçados, pela constante discussão do tema Mudanças Climáticas. Não bastasse o negócio florestal ter longa maturação, pressões, nem sempre lícitas, dificultam ainda mais o gerenciamento, tanto nas florestas nativas, como nas implantadas.

Nas implantadas, por exemplo, mitos quanto ao impacto do eucalipto sobre o solo ou os recursos hídricos são amplamente difundidos, fazendo com que a presença de pastagens totalmente degradadas seja muito mais tolerada ou, erroneamente, considerada menos impactante ao meio ambiente, que nossas florestas.

Ou seja, quem implanta uma floresta, apesar de promover não só a recuperação ambiental da área objeto do empreendimento (ressalte-se que, na maioria das vezes, empreendimentos florestais são implantados em áreas bastante degradadas), viabiliza um mecanismo muito eficiente para retirada dos gases de efeito estufa da atmosfera, provocando um impacto positivo em todo o planeta. Mesmo assim, ainda há um ranço entre parte da opinião pública e o silvicultor.

Os atuais mecanismos de remuneração por fixação de CO2 equivalentes em florestas comerciais implantadas são pouco abrangentes, visto que o Protocolo de Kyoto não tem foco em florestas, mas em energia. Restam mecanismos voluntários, que pouco remuneram as mesmas atividades.

Por tudo isto, creio que do ponto de vista do negócio florestal, as mudanças climáticas vêm abrindo novas oportunidades na área florestal para empreendedores sérios, onde serviços ambientais, em médio prazo, devam vir a ser remunerados, viabilizando negócios até então impensados. Da mesma forma, projetos em florestas implantadas já começam a viabilizar ganhos oriundos da fixação de carbono e devem, com o tempo, intensificar-se, melhorando as taxas de retorno, pela adição de mais um produto florestal, a fixação de carbono.