Me chame no WhatsApp Agora!

Karina Carnielli Zamprogno Ferreira

Gerente de P&D Florestal da International Paper

Op-CP-57

Pesquisa e qualidade na produção de mudas
O setor de florestas plantadas apontou que, em 2018, o Brasil atingiu a marca de 7,84 milhões de hectares. Para atendimento de toda essa área de plantio, estima-se terem sido produzidas, aproximadamente, 1,4 bilhão de mudas. Nesse cenário, a International Paper, líder mundial na produção de celulose, papéis para imprimir e escrever e embalagens, é responsável por mais de 100.000 hectares de florestas plantadas e certificadas por instituições reconhecidas globalmente.
 
Com esse resultado positivo para o setor, espera-se que, para os próximos anos, esse número não sofra reduções, pelo contrário: a expectativa é produzir a quantidade demandada com qualidade e custos adequados. Mas como ser sustentável e competitivo ao mesmo tempo? É possível, e nós temos esse compromisso. 
 
Se analisarmos o processo de produção de mudas em larga escala, o que vemos, aparentemente, é apenas uma espécie vegetal sendo replicada, equivalente a uma linha de montagem industrial; em alguns casos, utilizando tecnologias inspiradas nessas linhas. Poucos se atentam ao trabalho prévio de pesquisa e desenvolvimento embutido naquelas mudas e em cada etapa daquele processo. Estudos e testes operacionais foram determinantes para direcionar, a cada etapa de produção, 
 
as melhores práticas de manejo, o melhor pacote nutricional, os cuidados fitossanitários, os materiais genéticos mais produtivos, entre outros, que, somados às oportunidades de melhorias estruturais, de segurança e ergonômicas, resultam em alta qualidade das mudas, lotes homogêneos e pessoas engajadas para um único objetivo: elevar o potencial produtivo de uma floresta futura. 
 
Muitas das práticas convencionais, que hoje nos parecem simples e dominadas, podem interferir na qualidade e, indiretamente, nos custos da produção de mudas. Na formação dos jardins clonais, por exemplo, um diferencial positivo é a seleção de mudas sadias, escolha de exemplares com bom enraizamento (mesmo um conjunto de mudas pode apresentar variação individual de performance), além de um manejo que suporte a produção constante de brotos. Atualmente, é possível recorrer a técnicas modernas de micropropagação e rejuvenescimento de materiais em laboratório para garantir que todos esses itens sejam atendidos. 
 
A cultura de tecidos proporciona o isolamento de uma célula ou tecido vegetal e o cultiva em um meio nutritivo artificial sob condições de plena assepsia, garantindo principalmente a sanidade vascular dessas matrizes e, na maioria das vezes, elevando seu potencial de enraizamento. Essas técnicas permitem a obtenção de grande número de plantas uniformes, com otimização de tempo e espaço.
 
Outra solução que minimiza problemas futuros e se encaixa muito bem nessa etapa de formação de minijardins é certificar-se, sempre que possível, se cada uma das cepas ou matriz de fato é uma representante da muda que se pretende multiplicar, por meio de análises de DNA, que se tornaram mais acessíveis em laboratórios especializados, sejam eles particulares ou conveniados a universidades e institutos de pesquisa. 
 
A fase de estaqueamento também se pode beneficiar de pesquisas associadas à fisiologia de cada muda e a suas respectivas necessidades em relação aos estímulos hormonais. Esses hormônios poderão ser oferecidos no momento do estaqueamento ou diretamente nos minijardins, por meio de produtos indutores à base de aminoácidos, conhecidos por potencializar a síntese de proteínas e de compostos intermediários, precursores de hormônios vegetais importantes.
 
Por outro lado, observa-se que alguns princípios básicos nem sempre são considerados, como o tempo entre a coleta do broto e seu estaqueamento, que pode interferir diretamente no sucesso do enraizamento - em alguns materiais, mais que em outros; a periodicidade das coletas, permitindo um restabelecimento e menor estresse das cepas; a preservação e viabilidade das estacas por meio de refrigeração, principalmente nos períodos mais quentes do ano, entre outras ações que não dependem de altos investimentos. 
 
O ideal é ter um pacote de recomendações técnicas específico para grupos de mudas com características e particularidades semelhantes, reduzindo, assim, o índice de eliminação de mudas de boa qualidade, com alto potencial produtivo e anos de pesquisa embarcados, devido ao baixo desempenho no enraizamento ou à não adaptação ao pacote de manejo “padrão” do viveiro. Em contrapartida, é preciso que o modelo ideal seja operacionalmente viável.
 
Ter a possibilidade de separar o manejo, principalmente na fertirrigação, possibilitando que grupos de mudas recebam diferentes concentrações ou soluções nutritivas, conforme demanda, ainda que estejam na mesma etapa do processo, representa uma alternativa interessante para tratar as particularidades de cada material genético. 
 
Nas etapas de crescimento, a evolução maior pode ser notada nas estruturas modernas e automatizadas. Ambientes protegidos, com temperatura, irrigação e luminosidade controladas, podem variar desde uma simples automação com um temporizador que aciona a irrigação sistematicamente conforme programação prévia, até uma irrigação fundamentada em expressões matemáticas e balanço hídrico das mudas, onde um sistema capta temperatura e umidade no interior das casas de vegetação e correlaciona com as características fisiológicas daquele grupo, acionando a irrigação quando e na quantidade real demandada.
 
O mesmo princípio pode ser estendido para os sistemas que controlam abertura e fechamento de tetos retráteis conforme intensidade luminosa e temperatura ambiente. No entanto é preciso considerar um equilíbrio entre o custo e o benefício que a modernização pode proporcionar, incluindo, nessa conta, a sustentabilidade do negócio.
 
As seleções ou avaliações de qualidade das mudas no decorrer do processo produtivo poderão indicar oportunidades de melhorias importantes que, se consideradas e resolvidas, contribuirão para os ganhos de performance. Mudas mal formadas, acometidas por doenças ou pragas, que são plantadas fora do padrão, via de regra, excedem os custos de formação florestal, pois despendem de irrigações extras, controle químico, elevado índice de replantio, adubações de reforço, entre outras intervenções, que uma muda bem formada, com alto padrão de qualidade, não demandaria na mesma proporção. É preciso considerar, inclusive, os ganhos na formação florestal.
 
Independente do grau de modernização de um viveiro, o mais importante é garantir a qualidade final de suas mudas, mantendo-se competitivo no mercado. E, nesse cenário, o manejo sustentável é de suma importância para garantir ecossistemas florestais saudáveis e produtivos para as futuras gerações. 
 
Nem sempre altos investimentos refletirão em maior qualidade ou produtividade. É preciso garantir que o essencial permaneça sendo realizado. Também é possível obter ganhos com soluções simples e de baixo investimento, como a capacitação e a reciclagem da mão-de-obra, a otimização de estruturas e os recursos existentes, a utilização de energia solar para assepsia de tubetes e bandejas, a liderança engajada, gerando respeito e motivando as equipes, entre outras oportunidades similares e com retornos positivos, mas sempre estabelecendo e acompanhando os indicadores de produção, de qualidade e econômicos. São medidas como essas que proporcionarão tomadas de decisões ágeis e sensatas e ajudarão a buscar o modelo “ótimo econômico” e ainda mais sustentável.