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Carlos Frederico Wilcken

Professor de Entomologia Florestal da Unesp

Op-CP-03

Controle biológico de pragas florestais

O Brasil é um dos 10 maiores produtores de papel e celulose do mundo, com produção baseada em florestas de eucalipto e Pinus. A alta produtividade das plantações florestais brasileiras é fruto de programas de melhoramento genético e de manejo florestal adequado. Entretanto, a manutenção da produtividade pode ser afetada pelas pragas e doenças.

O principal método de controle de pragas florestais ainda é baseado em inseticidas químicos. Porém, nos últimos anos, as exigências impostas pela certificação ambiental têm restringido o uso amplo desse método. Nesse contexto, a principal alternativa é o controle biológico. O Brasil é reconhecido internacionalmente pelos programas de controle biológico bem sucedidos na área agrícola, principalmente, nas culturas de cana-de-açúcar e de soja. Na área florestal, o mesmo caminho tem sido trilhado.

O setor florestal tem sofrido perdas consideráveis com a introdução acidental de pragas exóticas, nas duas últimas décadas. As florestas de Pinus foram as mais afetadas, com a ocorrência da vespa-da-madeira (Sirex noctilio), em 1988, e com as detecções dos pulgões do Pinus (Cinara pinivora e C. atlantica), entre 1996 e 98. As florestas de eucalipto têm como principais problemas pragas nativas, como as formigas cortadeiras, cupins e lagartas.

Porém, a invasão de pragas exóticas, como a broca-do-eucalipto (Phoracantha semipunctata), o gorgulho-do-eucalipto (Gonipterus scutellatus) e o psilídeo-de-concha (Glycaspis brimblecombei), também tem causado prejuízos econômicos aos produtores florestais. No caso de pragas exóticas, a estratégia é a importação de inimigos naturais da sua região de origem, sendo chamado de controle biológico clássico.

Um dos programas de maior sucesso no Brasil é o controle biológico da vespa-da-madeira, proposto pela Embrapa, que procedeu à introdução de um nematóide parasito, que esteriliza as fêmeas da vespa, impedindo que a praga multiplique-se. No caso dos pulgões gigantes do Pinus, também houve a introdução de uma vespinha, para realizar o controle dos pulgões. Esse programa, atualmente, está em andamento, com resultados bastante promissores na região Sul e em SP.

Nas florestas de eucalipto, o principal problema, hoje, é o psilídeo-de-concha, inseto minúsculo que suga a seiva das folhas, causando desfolha e até a morte de árvores. Essa praga, presente em dez estados brasileiros, tem limitado a manutenção dos plantios com Eucalyptus camaldulensis no Brasil, que é a espécie mais suscetível. Nesse caso, também a estratégia utilizada tem sido o controle biológico com a vespa parasitóide Psyllae-phagus bliteus, criada em laboratório e liberada em cinco estados brasileiros.

Esse programa é um dos maiores na área florestal, coordenado pela Unesp, Embrapa Meio Ambiente e Ipef, e com a participação de 16 empresas florestais brasileiras, representando área de aproximadamente um milhão de ha de florestas de eucalipto. Até o momento, foram produzidos e liberados mais de 25.000 parasitóides, atendendo 12 empresas florestais, com índices de parasitismo variando de 10 a 84 %. Outro caso interessante foi a ocorrência do gorgulho do eucalipto nas florestas de eucalipto do ES, em 2004.

Essa praga causa desfolha dos ponteiros, levando ao atraso no crescimento das árvores. A introdução do parasitóide de ovos (Anaphes nitens), trazido do RS, juntamente com a aplicação do fungo entomopatogênico Beauveria bassiana, levou ao controle da praga em 6 meses, enquanto em outros países, o controle satisfatório foi obtido entre 2 e 3 anos, após a liberação do parasitóide. Outra estratégia é o controle biológico conservativo - uma abordagem mais ecológica, visando alterar o manejo do agroecossistema, para promover a manutenção dos inimigos naturais no controle de pragas.

O controle biológico conservativo é dependente de fatores ambientais. Entretanto, o maior desafio é convencer os produtores rurais a alterarem práticas agrícolas tradicionais, visando criar condições favoráveis para que os inimigos naturais, já presentes no campo, possam exercer, com eficiência, o controle das pragas. As plantações de eucalipto e Pinus, no Brasil, sempre foram manejadas como monoculturas, com problemas crônicos de pragas, como as lagartas desfolhadoras em florestas de eucalipto.

Atualmente, várias empresas florestais têm modificado o manejo florestal, com o aumento das áreas de preservação de floresta nativa, ou o plantio de faixas de vegetação nativa entre as plantações florestais, ou ainda permitindo a existência de um sub-bosque mínimo. O primeiro desafio vencido foi comprovar que o aumento da diversidade vegetal também tinha correlação com maior diversidade de inimigos naturais.

Trabalhos realizados em plantações de E. grandis em SP e PR, durante 1994 e 96, demonstraram que houve maior diversidade de inimigos naturais, quando foi mantido o sub-bosque (SP) e em plantios vizinhos à fragmentos de mata nativa (PR). Estudos realizados em MG e ES, pela UFV e Esalq, corroboram esses resultados. Alguns produtores e pesquisadores questionam que a maior diversidade de inimigos naturais, nem sempre implica em controle biológico.

Para verificar essa relação, foi instalado um estudo em Buri, SP, em 2001, visando avaliar o impacto de diferentes manejos de plantas invasoras sobre o pulgão gigante do Pinus e de seu complexo de predadores, em plantios de Pinus taeda. Após dois anos de levantamentos, verificou-se redução de danos nas mudas de P. taeda, com aumento na população dos predadores, quando se permitiu a manutenção de mato nas entrelinhas, em comparação com áreas limpas, pela aplicação de herbicida.

Para a empresa houve retorno econômico, devido aos menores danos da praga e à redução no uso de herbicidas, com economia de aproximadamente US$ 28,00/ha. Portanto, o controle biológico em plantações florestais pode proporcionar a manutenção da produtividade, com redução expressiva nos danos e nos custos de controle, além de atender às exigências da certificação ambiental.