Presidente da Câmara da Indústria de Base Florestal da Fiemg
Op-CP-05
Meu histórico profissional, vinculado à intensa atuação no setor de base florestal brasileiro, permitiu-me vivenciar de perto as possibilidades de expansão da produção florestal no País e como isso poderia contribuir para o desenvolvimento socioambiental do Brasil. Temos o maior potencial de produção florestal do planeta, devido às condições favoráveis do solo e clima e pelo alto nível tecnológico da silvicultura brasileira. Mesmo assim, alguns dados demonstram que há muito caminho a percorrer.
O país detém menos de 3% do mercado mundial dos produtos de base florestal, que movimenta cerca de US$ 200 bilhões anuais, sendo que somente 0,6% do território brasileiro é utilizado para esse fim. Um rápido olhar sobre esses números, porém, não pode ofuscar o desenvolvimento pelo qual vem passando o setor florestal nos últimos anos, com participação crescente no Produto Interno Bruto (PIB), na geração de divisas e de postos permanentes de trabalho e nos tributos arrecadados.
Em Minas Gerais, por exemplo, o reflorestamento tem grande importância para a economia, seja como fonte energética ou como matéria-prima de vários segmentos industriais. No Estado, a maior parte dos plantios destina-se à siderurgia a carvão vegetal e à produção de celulose. Assim, a área reflorestada de Minas Gerais, a maior do Brasil, é de 1,16 milhão de hectares, o que representa 23,2% das plantações florestais nacionais.
Daí vem a magnitude econômica do empreendimento para Minas: em 2003, o setor rendeu para os cofres públicos R$ 354,7 milhões de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e mais R$ 17 milhões em taxas florestais. A evolução desse segmento não se restringe aos dados econômicos. Há melhorias também nos indicadores ambientais e sociais. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), referência internacional para a análise da qualidade de vida, evoluiu em todos os municípios mineiros, entre 1991 e 2000.
E esse crescimento foi ainda maior nas regiões com atividades florestais, onde as taxas do IDH são superiores às verificadas para o conjunto de municípios do Estado. Por exemplo, em municípios da área mineira da Agência de Desenvolvimento do Nordeste – pólo consolidado da produção florestal – houve uma expressiva taxa de crescimento do IDH, que variou de 13,1% a 19,3%, entre 1991 e 2000.
Os reflexos da atividade florestal também são percebidos na geração e manutenção de postos permanentes de trabalho no campo e na indústria, absorvendo parte da mão-de-obra dispensada por outras atividades econômicas. Em 2003, o setor de base florestal empregava, direta e indiretamente, quase 1,3 milhão de trabalhadores no Estado, tanto nas atividades industriais, quanto no campo.
Somente nas atividades agroflorestais foram gerados 732,4 mil empregos. Estima-se ainda que o setor tenha propiciado a inserção de mais de 548 mil pessoas em outros setores da economia, por meio do “emprego efeito-renda”. Outro ponto que merece destaque diz respeito às plantações florestais e ao meio ambiente – assuntos que tem sido alvo de restrições e preconceitos, muitas vezes ocasionados por simples desinformação.
Essa “carga” negativa contribui para desestimular investimentos no cultivo de eucaliptos e disseminar a idéia de que a silvicultura provoca degradação ambiental. Nada mais equivocado. Em tempos de efeito estufa, as plantações florestais significam uma nova força no equilíbrio ambiental, devido à sua capacidade de seqüestrar carbono da atmosfera. As florestas brasileiras de eucalipto fixam 9,2 toneladas de carbono por hectare ao ano, enquanto os Estados Unidos respondem por apenas 3,5 e a Suécia por 1,5.
As florestas plantadas também protegem o solo da erosão superficial e propiciam a infiltração de água nos lençóis subterrâneos. Afora essas evidências, um estudo da USP, Universidade de São Paulo, jogou literalmente por terra a “lenda” de que o eucalipto consome água em doses excessivas. O trabalho destaca que o consumo total de água por plantações de eucalipto situa-se dentro da faixa de consumo de árvores nativas, sendo até inferior às principais culturas agropecuárias.
É preciso deixar claro que a produção da madeira, seja ela para quaisquer fins, significa proteção às florestas nativas. O plantio do eucalipto em áreas degradadas, de relevo acidentado, sem cobertura vegetal e com escassez hídrica representa, segundo texto preparado pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais, “um fator de recomposição do solo e melhoria da sua permeabilidade, criação de ambiente ameno para instalação de outras espécies, além de outros benefícios, como a geração de emprego e renda”. Assim, cada hectare de eucalipto permite a preservação de até cinco hectares de cerrado.
O contexto acima exposto revela, portanto, que a atividade florestal é uma alternativa sustentável, considerando seu baixíssimo custo ambiental e sua capacidade de multiplicar postos de trabalho. Ela acompanha de perto as diretrizes dos Oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, lançados pela ONU, Organização das Nações Unidas, em 2001, com o intuito de promover a sustentabilidade em âmbito global.
Aliás, as atividades industriais, em quaisquer segmentos, devem-se orientar por esses Objetivos, na tentativa de reverter o quadro que se apresenta de miséria humana e degradação ambiental. É com essa missão que assumi a responsabilidade de dirigir a Superintendência de Desenvolvimento Sustentável e Relações Corporativas da V & M do Brasil, em junho de 2006, para ajudar a empresa a atingir suas metas, relativas ao desenvolvimento socioambiental. O exemplo da V&M é eco de um movimento global e espelha, especificamente, a organização da indústria de base florestal brasileira.