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Cleber Caniçali e Antonio Carlos R. Caniçali

Produtor Rural fomentado pela Aracruz

Op-CP-04

Se demorarmos, chegaremos atrasados mais uma vez

Convidado pela revista Opiniões para expressar minha experiência com fomento florestal e meus conceitos a respeito do assunto, aceitei o desafio. Quero relatar a minha história. Aposentei-me como professor, mas toda a vida estive ligado a atividades rurais, uma vez que sempre possuí uma pequena propriedade. Durante longos anos, dediquei-me à pecuária de leite, sendo esta a minha atividade principal. No entanto, cultivei simultaneamente café, fruticultura e demais atividades de pequenas propriedades.

Em 1990, a Aracruz implantou no Estado do Espírito Santo o projeto de fomento florestal para cultura de eucalipto. Fui um dos primeiros a aderir, gostei e até hoje participo dos seus programas. À medida em que fui evoluindo na atividade, abandonei as culturas menos rentáveis e hoje trabalho quase que exclusivamente com florestas plantadas. Em l999, eu e meu filho Antônio Carlos montamos uma empresa prestadora de serviços, que atua na área de plantio de florestas, a Preservam, Prestação de Serviços Ambientais, atendendo a fomentados e particulares.

Conceito do fomento: O fomento florestal, do qual participo, consiste em um contrato de compra e venda, celebrado entre a empresa e o produtor rural, no qual a empresa entra, por sua conta, com o projeto, técnicos, mudas, adubos, defensivos, herbicidas e os recursos financeiros para a implantação da cultura, cujos valores são convertidos em metros estéreos de madeira, e que serão cobrados, sem acréscimo de juros, por ocasião da colheita.

O Produtor entra com a terra, o trabalho de implantação da floresta, a manutenção, o corte e o transporte até a fábrica ou posto de entrega. Os preços são ditados pela empresa e corrigidos pelos índices oficiais e outros fatores econômicos. Hoje, o preço praticado pela Aracruz Celulose é R$ 34,00 por metro estéreo. Nos 16 anos de cultura, considero os resultados financeiros obtidos satisfatórios.

Nas cinco colheitas realizadas, em uma média de 5 hectares cada, consegui um rendimento líquido de aproximadamente um salário mínimo mês, por hectare plantado. Parece pouco, mas comparando a outras atividades, como cafei-cultura e bovinocultura, o resultado é bem superior. Considero o fomento florestal oportuno e eficaz, porque é vantajoso para ambas as partes envolvidas.

Para o proprietário, porque pode fazer um investimento de certo porte e seguro. Normalmente, o proprietário rural está desca-pitalizado, o que dificulta investimentos. O fomento traz aportes financeiros, tecnológicos e insumos que o possibilita investir. É seguro, porque tem a garantia da venda do produto a um preço previamente acordado.

Para a empresa, a vantagem é maior, porque não precisa capitalizar em terras, o que, geralmente, tem um custo muito elevado. Os custos para a implantação e colheita da floresta serão iguais ou inferiores ao que ela gastaria com sua própria estrutura empresarial. O retorno do produto é garantido, por força contratual.

Ampliação do modelo: Este é o modelo específico da Aracruz para implantação de florestas de eucalipto, mas pode e deve ser aplicado em qualquer atividade econômica, onde haja cadeia de arranjos entre matéria-prima e transformação industrial.

O modelo pode ser adaptado para qualquer atividade, atendendo aos seus objetivos específicos, dependendo da criatividade em cada situação. O importante é que haja uma relação de parceria, onde as partes respeitem-se e garantam vantagens igualitárias. Hoje as grandes e médias empresas, em seus relatórios sociais, enaltecem sobremaneira a tal da responsabilidade social. No entanto, algumas, ou a maioria, agem na contra-mão do que pregam. Refiro-me especificamente à aquisição de grandes glebas de terras para atendimento de seu consumo de matéria-prima.

É justamente na acumulação dos meios de produção que jazem as maiores disfunções sociais, e a raiz da maioria dos problemas de pobreza, miséria e violência. As parcerias das indústrias com proprietários evitariam a acumulação de passivos, levaria mais recursos em forma de tecnologia, oportunidades de negócios, aporte financeiros com objetivos direcionados, ampliando a satisfação dos envolvidos e criando um grande número de pequenos empresários. Sem falar da fixação do homem no campo.

O futuro: Hoje a realidade para as indústrias que dependem de madeira é que não sobreviverão sem florestas plantadas. Entre elas, podemos citar as indústrias moveleira, de ferro gusa, cerâmica, embalagens, construção civil, celulose, etc. O Brasil está em pleno apagão de madeira. Uma das formas mais rápidas de acelerar o processo de plantio de florestas é através do incentivo a parcerias, nas quais o fomento é o modelo mais viável.

O Brasil tem um potencial enorme para a produção de madeira provinda de florestas plantadas. Uma política bem orientada para o setor fará do país o maior produtor mundial, com vantagens comparativas invejáveis. Hoje produzimos 40 metros cúbicos por hectare/ano, contra 5 m³ /ano, nos países nórdicos da Europa, que levam de 35 a 40 anos para colherem, contra 6 anos no Brasil.

E a madeira constitui a maior riqueza daqueles povos. Somos detentores de tecnologias avançadas, resultado de longas pesquisas na área de eucalipto, mas precisamos avançar, e muito, na cultura de essências nativas. Infelizmente, estamos hoje com uma reação descabida em vastos setores sociais, incluindo ONGs, intelectuais, igrejas, universidades, contra o plantio de florestas de eucalipto.

Reação que demonstra total desinformação em relação ao potencial da cultura e seus benefícios sociais, ambientais e econômicos. Enquanto ficam se apavorando contra o deserto verde, outros países emergentes, como China, já plantou 40 milhões de hectares de eucalipto, a Índia 20 milhões, contra apenas 5 milhões no Brasil. Se demorarmos, certamente chegaremos atrasados mais uma vez.