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Daniel Carvalho de Moura

Diretor Florestal do Grupo Plantar

AsCP24

Na busca pelo equilíbrio
As nossas florestas plantadas são entremeadas de áreas de preservação: reservas legais, áreas de preservação permanente, áreas em regeneração, que, somadas, representam um alto percentual da utilização das áreas cultivadas com florestas em todo Brasil. Ao visitante atento, caminhando pelas florestas, compreendemos muito da dinâmica de desenvolvimento e mecanismos de resistência das florestas nas diferentes estações do ano. A observação das florestas naturais nos ensina muito sobre como manejar melhor as florestas plantadas. 
 
Historicamente, observamos os nossos solos como uma caixa de nutrientes minerais e suas propriedades físicas e damos pouca ou nenhuma atenção às suas propriedades biológicas. Compreender parte das complexas relações entre solo, planta e ambiente é a chave para o desenvolvimento de florestas mais saudáveis e produtivas. 

Um exercício importante para todo empreendedor florestal é fazer reflexões sobre as intervenções planejadas para o estabelecimento da floresta. Na prescrição do manejo, deve ser considerado, para além do custo da atividade, qual o seu impacto no sistema, solo, planta e ambiente. O amadurecimento da prescrição do manejo florestal, guiada pela sustentabilidade de todo o sistema, é também lucrativo, quando considerado no horizonte de longo prazo. A equalização do fluxo de caixa e o melhor manejo da floresta estão muitas vezes em conflito, mas eles se unem no longo prazo. Florestas bem manejadas geram mais caixa do que florestas que foram manejadas com perspectiva de curto prazo.

Assim como um edifício começa pelos alicerces, também precisamos começar com o nosso solo onde será estabelecida a floresta. Copiando as florestas naturais, precisamos inserir no nosso manejo técnicas de silvicultura visando o aumento de material orgânico, tão importantes para a cobertura de solo, preservação de água no sistema, ciclagem de nutrientes e enriquecimento da microbiota. Ainda copiando a natureza, na própria dinâmica de formação do solo, podemos adotar a rochagem. Na maior parte das regiões do Brasil, encontramos rochas, que são resíduos ou subprodutos, que podem ser utilizadas na remineraliralização do solo. 

Outra técnica é a utilização de microorganismos benéficos, que podem ser encontrados nas matas e incorporados ao sistema. Serão muito úteis na decomposição de material orgânico, formação de humus, intemperização das rochas e interações simbióticas com as raízes das plantas. É fundamental a utilização de plantas “amigas” que podem nos ajudar a construir um perfil de solo homogêneo e profundo, que será muito explorado pelas plantas, tanto para o desenvolvimento, quanto para a resistência às crises hídricas. Também consideramos a redução do uso de moléculas químicas, o que favorece o desenvolvimento de micro-organismos, reduz efeitos de fitotoxidade e contribui para o desenvolvimento de interações simbióticas.

Até aqui falamos de forma conceitual sobre alguns aspectos do manejo da floresta, não havendo nada de novo ou revolucionário nesses comentários. Estamos falando de algo conhecido há décadas pela agricultura e que tem sido resgatado. 

As florestas plantadas são fundamentais e capazes de suprir a sociedade em um universo enorme de produtos muito úteis e importantes. É possível produzir florestas sustentáveis, temos técnicas de manejo capazes de tornar os nossos solos produtivos por longo tempo. Compreender melhor as interações de solo, planta e ambiente é o caminho para a perpetuidade dos nossos projetos florestais. 

Este texto é dedicado àqueles que desejam dar uma pausa sobre as questões urgentes e fazer uma reflexão sobre a sustentabilidade do que estamos fazendo.

Reconhecemos que existem gestores e empreendedores mais pragmáticos e outros mais reflexivos. Assim, como aprendemos com a floresta, a diversidade pode se tornar nossa amiga, então desejamos promover não o distanciamento dessas perspectivas, mas provocá-las a trabalharem juntas. O estabelecimento desse diálogo sobre técnicas de manejo sustentáveis é fundamental; mais do que um desejo, é extremamente necessário para que as florestas plantadas continuem a ser uma resposta viável às demandas da sociedade.

Vou-me despedindo por aqui, desejando que você, meu caro leitor, seja estimulado por este texto a fazer as suas próprias reflexões de como tem conduzido ou participado das decisões de manejo florestal no seu negócio.