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Marcos Henrique Figueiredo Vital

Economista do Departamento de Meio Ambiente do BNDES

Op-CP-26

A ampliação do sistema silvicultural

O Brasil possuía, em 2010, 6,5 milhões de hectares plantados com florestas exóticas (73% com Eucalyptus e 27% com  Pinus). Enquanto as plantações de eucalipto concentram-se em MG, SP, BA e ES (bioma mata atlântica e cerrado), as plantações de pinus concentram-se no PR e em SC (florestas semideciduais, pampa e biomas de transição).

A base florestal brasileira cresceu ao ritmo de 3,5% a.a. entre 2005 e 2010. A expansão das plantações de eucalipto, em 2010, ocorreu sobretudo em MS (30%), MA (10%), MG (8%) e TO (7%). Observa-se queda do plantio de pinus no mesmo período em GO (20%), MS (18%), BA (14%) e ES (10%).

A demanda por madeira de florestas plantadas, por setor da economia, distribuiu-se, em 2010, da seguinte forma: celulose e papel (38%: 59% para exportação e 41% para o mercado interno); painéis de madeira (8%: 3% para exportação e 97% para o mercado interno); lenha, carvão e outros (35%: 1% para exportação e 99% para o mercado interno); serados de pinus (16%: 7% para exportação e 93% para o mercado doméstico); e, por fim, compensados (4%, sendo 55 % para exportação e 45% para o mercado interno).

As taxas de crescimento recentes desses setores, entre 2000 e 2010, comprovam a hipótese de excesso de demanda, lastreado em indícios como a elevação do preço da madeira e o aumento do desmatamento em certas regiões;  e estudos acerca da existência de um excesso de demanda por madeira, sobretudo para fins energéticos, no País.


Nesse caso, parte não suprida por florestas plantadas acaba sendo complementada com madeira de florestas nativas, constituindo em vetor de desmatamento. O setor que mais demanda madeira para fins energéticos é o de fabricação independente de ferro gusa à base de carvão vegetal – além de olarias, pizzarias e cerâmicas –, que também consomem carvão vegetal, porém em menor escala.

Se o ferro gusa in natura brasileiro fabricado por produtores independentes (11 milhões de toneladas de capacidade instalada, em 2010, de acordo com o Instituto Brasileiro de Siderurgia (com 50% da produção exportada para os EUA) não for produzido com carvão vegetal oriundo de florestas plantadas, podem ocorrer pressões sobre o desmatamento de matas nativas.

De fato, de acordo com a Abraf, dos 11,6 milhões de toneladas de carvão vegetal produzido no Brasil, em 2010, 55% foram provenientes de matas nativas. Historicamente, o BNDES tem apoiado empresas do setor de celulose e papel que possuem como rationale de abastecimento de longo prazo de suas fábricas grandes maciços florestais, dentendo parte substancial das florestas plantadas no País.

O BNDES apoia, ainda, empresas do setor de madeira cuja lógica de mercado de certificações e as especificações técnicas da madeira garantem a confiabilidade da origem da madeira. Recentemente, em 2009, o Banco alterou sua política operacional, de modo a incluir as atividades de carvoejamento, ferro gusa, ferro-ligas, dentre outros produtos intensivos em madeira para fins energéticos, como passíveis de recebimento de empréstimo – cumpridas certas exigências.

O BNDES entende que uma das saídas para a redução do desmatamento e do abastecimento de energia passa pela ampliação das atividades silviculturais para a fabricação de carvão vegetal, oferecendo as seguintes linhas para plantio de eucalipto e pinus. Do ponto de vista ambiental, chama atenção o avanço do eucalipto em direção aos biomas Pantanal e Amazônia. No Mato Grosso do Sul (crescimento de 27% em 2010), é preocupante, pela elevada biodiversidade e por seu caráter de área de preservação de espécies raras – específicas da região – e em risco de extinção.

A hipótese de o setor siderúrgico ser merecedor de atenção surge do fato de 68% das florestas dos associados da Abraf serem do setor de celulose e papel, e 18%, do setor siderúrgico. O perfil do consumo, por outro lado, é diferente. Entende-se que as atividades silviculturais são de fundamental importância para o próprio cumprimento do Código Florestal de 1965 – ainda em vigor –, que, em seu artigo 40, prevê que “Toda atividade à base de madeira deve comprovar que possui suprimento para desenvolver suas atividades”.

O BNDES, através das citadas linhas de crédito, espera poder auxiliar o País a superar essas questões ambientais e econômicas. A solução, contudo, depende, por um lado, de conceder condições compatíveis de crédito, assim, da garantia de execução das leis ambientais, e, por outro, dos mercados consumidores finais, ao exigirem dos fabricantes produtos em conformidade ambiental, induzindo, por fim, o engajamento das empresas.