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José Luiz Stape

Professor de Silvicultura e Ecologia da Esalq-USP

Op-CP-03

Como abordar a sustentabilidade das florestas plantadas?

É cada dia mais freqüente o uso do termo “sustentabilidade” no meio florestal. Este termo traz consigo duas idéias distintas:

1. Produzir madeira de forma perpétua numa determinada área, com seus benefícios econômicos e sociais; e
2. Possuir uma relação harmoniosa com o meio-ambiente, em termos de seus efeitos de longo prazo sobre os recursos naturais, como solo, água, flora e fauna.

A primeira idéia, da produção madeireira, é comum aos silvicultores, uma vez que a evolução técnica do setor florestal, nos últimos 40 anos, sempre se balizou pelos resultados volumétricos para o aperfeiçoamento das técnicas de produção. Foi desta forma empírica que a produtividade do Eucalyptus passou de 10-15 m³/ha/ano, no anos 60, para os atuais 35-50 m³/ha/ano, em várias regiões do Brasil. Este ganho de produtividade foi obtido através de ensaios experimentais nas áreas de genética, solos e manejo, juntamente com de redes de inventário, capazes de detectar a produtividade real das florestas.

A segunda idéia, porém, é mais complexa e processual na sua abordagem objetiva, e depende de forte conceituação ecológica, contendo a verdadeira noção de sustentabilidade. Assim, a primeira idéia é tendenciosa quanto à medição de sustentabilidade, pois se baseia simplesmente em produtividade de madeira, a qual é influenciada por uma série de fatores, que mudam a cada nova rotação, como material genético, sistema de preparo, clima e sistema de manejo.

Assim, a despeito do aumento da produtividade das últimas décadas, podemos estar, em alguns casos, perdendo capacidade produtiva (qualidade de solo), a qual é mascarada pelos ganhos advindos das outras áreas, que influenciam a produtividade final (genética, manejo ou clima).  Como exemplo vamos estabelecer uma relação entre a variação de produtividade entre ciclos (P, que pode ser ganho + ou perda), com suas potenciais causas, como variação do clima, do material genético, do manejo e do solo:
Produtividade = Clima + Genético + Manejo + Solo

Agora, vamos supor que entre o ciclo n e n+1 observamos P > 0, e isto nos levaria a crer (considerando este como um índice de sustentabilidade) que o manejo estaria adequado. Porém, se considerarmos que é o solo o verdadeiro indicador de sustentabilidade, deveríamos escrever: Solo = Produtividade - [Clima + Genético + Manejo]

Ou seja, o fato de Produtividade ser positiva não é condição suficiente para assegurar Solo >0, pois este depende também dos valores da variação do clima, genético e manejo entre rotações. Assim, se as condições genéticas, clima ou manejo forem melhores num próximo ciclo, elas podem compensar a perda da qualidade do solo. Neste caso, haveria ganho de produtividade, mas o sistema seria não sustentável, devido à perda de qualidade do solo, a cada ciclo.

Assim, tomamos consciência que devemos melhorar nosso critério de avaliar a sustentabilidade florestal, abordando a sustentabilidade da produção madeireira, conjuntamente com a sustentabilidade da qualidade do patrimônio edáfico (solo). É a variação desta qualidade do solo, em termos químicos, físicos e biológicos, o verdadeiro índice da sustentabilidade dos sistemas de florestas plantadas.

Considerando o interesse em avançar no manejo florestal, tornando-o cada vez mais científico e preditivo, surge a questão de como integrar itens tão díspares, como produtividade de madeira e qualidade de solo, num sistema único dotado de feed-backs? Isto é conseguido utilizando os chamados Modelos Ecofisiológicos, nos quais a linguagem é uniformizada, ao descrevermos o fluxo de energia e a ciclagem de matéria (água, carbono e nutrientes), dentro de um contexto processual, em que os padrões observados na natureza são “explicados” por processos que se baseiam em hipóteses científicas e leis físicas.

Como exemplo, imagine que a produção de madeira em m³/ha pode ser expressa como produção de biomassa que, por sua vez, é formada por C e nutrientes. Assim, podemos expressar produtividade de lenho, como sendo o fluxo de C para este compartimento da floresta.  Concomitantemente, se tomarmos o teor de C no solo, como um indicador de qualidade, podemos expressá-lo também como sendo um estoque, que depende das entradas, via floresta, e saídas de C.

Veja que agora produtividade florestal e qualidade de solo estão uniformizados nas unidades, e através da modelagem baseada em processo, podemos interrelacioná-los e estabelecermos os desejados feed-backs. Vale ressaltar que esta descrição dos processos baseia-se em teorias e hipóteses, e podem existir mais de uma teoria e várias hipóteses para o mesmo fenômeno biológico.

Conseqüentemente, haverá diferentes modelos, e a definição do melhor dependerá de constantes testes e comparações entre os mesmos. Esta fase de teste dos modelos requer grande disponibilidade de dados experimentais, e as universidades, institutos de pesquisas e os setores técnicos das empresas têm papel relevante em obtê-los e disponibilizá-los para tal fim, o que implica em delineamentos experimentais especiais e de longo prazo, a exemplo de projetos existentes com Eucalyptus (www.ipef.br/bepp) e Pinus (www.ipef.br/pppib).   

Finalmente, quando um modelo está adequadamente testado, com grau aceitável de confiabilidade, os silvicultores podem passar a utilizá-lo como ferramenta de simulação para responder, de forma estocástica, questões relacionadas, não só à sustentabilidade da produtividade florestal, de alto interesse para produtores e empresas florestais, como também à manutenção da qualidade do solo, e da produção de água de suas microbacias, de alto interesse para a sociedade local.