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Paulo Yoshio Kageyama

Professor de Ciências Florestais da Esalq-USP

Op-CP-16

O que é meio ambiente? Para quem?

O meio ambiente, ou o conjunto de fatores físicos e biológicos naturais onde os humanos e os outros organismos coabitam, é onde as contradições do chamado desenvolvimento vêm ocorrendo, tanto no meio rural como no urbano deste planeta. A biodiversidade, um elemento essencial deste meio ambiente, juntamente com a água, vem sendo cada vez mais valorizada e considerada estratégica para a espécie humana, mas também está sendo destruída a cada dia, mesmo considerando que conhecemos somente 2-5% de toda essa riqueza biológica.

Os humanos, prevalecendo-se de suas características de pseudossuperioridade, vêm colocando sua força para dominar com brutalidade essa natureza, ou o meio ambiente com que convive. Agindo assim, nós, os humanos, estamos colocando o nosso planeta sujeito a um alto risco de implosão, nesses tempos de foco nas mudanças climáticas globais.

Sendo pesquisador e promotor de políticas públicas sobre o tema biodiversidade, na natureza e no meio rural, isso sempre exige que tomemos uma posição e determinada postura com relação ao meio ambiente, do qual essa biodiversidade é parte importante. Nesse sentido, o equilíbrio fundamentado na alta biodiversidade dos trópicos deve ser para nós o referencial para as regras dessa convivência, principalmente nessas regiões.

Pois é isso o que verificamos quando entramos numa floresta tropical: nenhum sinal de ataque de pragas ou doenças nos vegetais - há um equilíbrio ecológico dinâmico, conseguido nos milhões de anos da evolução dos organismos e de coevolução entre eles. Dessa forma, como já temos constatado na maioria das regiões, quando a alta biodiversidade dos trópicos é substituída sem nenhuma precaução e parcimônia por monocultivos em escalas enormes, com o uso cada vez maior de agrotóxicos, impactando tanto a saúde humana como o meio ambiente, a natureza clama por socorro, que é o que estamos vendo e vivendo.

Com os sinais evidentes de que as nossas ações antrópicas são as responsáveis pelo aquecimento global, resultados da somatória das atividades impactantes em cada bioma e ecossistema, o que estamos constatando a cada momento, ações emergenciais vêm sendo exigidas, para conter essa exploração dos recursos naturais de forma errônea e perversa.

O rumo da ciência e da tecnologia, muitas vezes voltadas aos interesses das indústrias, aponta, nesses casos, rumos contrários às práticas voltadas às necessidades socioambientais. Nesse sentido, medidas que visam minimizar esses impactos ambientais vêm sendo apontadas, sendo que uma das mais importantes tem como base o uso da agrobiodiversidade no meio rural, ou a inclusão de outros organismos associados, imitando ao mínimo o ecossistema original natural.

O uso da agrobiodiversidade como ferramenta para práticas mais sustentáveis na agricultura, pecuária e silvicultura já mostra exemplos reais de novas formas de uso do solo, fazendo com que esse componente essencial para o meio ambiente rural venha sendo destacado. No Brasil, campeão absoluto de biodiversidade no mundo, esse fator se torna importante e possível.

A incorporação das Áreas de Preservação Permanente e Reservas legais como estratégicas para incorporação de biodiversidade nos agrossistemas, inclusive para equilíbrio e aumento da produtividade, é um axioma que vem sendo comprovado. Ao mesmo tempo, verifica-se que há um movimento contrário, apontando que essas propostas seriam contra o desenvolvimento.

Da mesma forma, a própria inclusão da biodiversidade nos sistemas produtivos, tanto agropecuários como silviculturais, também vem sendo pesquisada e preconizada com sucesso, porém, negligenciada. Para os agricultores familiares, principalmente, os denominados Sistemas Agroflorestais, que conjugam biodiversidade funcional às espécies carros-chefe no sistema de produção, apontam formas de incorporar equilíbrio ecológico ao meio ambiente agropecuário e silvicultural, sem perder a perspectiva de retorno econômico e qualidade de vida no meio ambiente rural.

Associadas à(s) espécie(s) produtiva(s) economicamente, temos também, nesses sistemas, espécies produtivas de serviços, de nutrientes, além da biodiversidade. Esse é o meio ambiente saudável que enxergamos, sendo a utopia que apontamos, assim como vimos implantando, para o meio rural, que pode associar a produção de alimento saudável com qualidade de vida e práticas amigáveis ao ambiente.