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Marcelo Santos Ambrogi

Diretor Executivo da IMA Gestão e Análise Florestal

Op-CP-52

Gestão de Oportunidades
Oportunidade é descrita como a circunstância oportuna, favorável para a realização de algo. Do latim opportun?tas, define o momento ou a ocasião propícia para fazer ou aproveitar algo. O problema da oportunidade é primeiro enxergá-la, e, em segundo, oportunamente aproveitando a copa do mundo, convencer mais que o beque, a defesa inteira dos russos, para que se consiga transformá-la em fato. Buscar oportunidade não pode ser algo como ter uma grande ideia. Buscar oportunidade é uma das mais importantes atividades de investidores e gestores e deveria tomar uma boa parte do tempo deles. Qualquer que seja o tamanho do negócio. 
 
A maioria dos problemas de mercado não acontecem de repente. O que pode ocorrer de repente deve ser gerenciado através de uma análise de risco. As oportunidades estão dentro e fora do seu atual negócio. Dentro eu tenho certeza, baseada em experiência de gestão durante muitos anos e em treinamentos que realizo diretamente em empresas ou em parceria com instituições de ensino; vejo muitos profissionais identificando problemas e reclamando deles.

A maioria dos problemas e das reclamações são oportunidades. É uma questão de mudar o prisma de posição. Ou seja, procure no problema uma ou várias soluções que você nem precisará de um arco-íris para achar um pote de ouro. Em relação ao mercado de madeira, é o mesmo. Vivemos, nos últimos anos, impactos de problemas do passado e do presente: a “descoberta” do apagão florestal no início dos anos 2000, a crise mundial a partir de 2008, a crise da água baseada em clima e os problemas da economia brasileira desde 2014. 
 
Todos esses momentos afetaram o mercado de diferentes formas, considerando-se a cadeia de consumo de madeira e a região do País, mas todos foram impactados. Apenas para exemplificar, houve um excesso de madeira disponível em Minas Gerais, em função do grande período de crise de mercado que o setor de siderurgia passou, e, nos estados vizinhos da Bahia e do Espirito Santo, houve problemas de disponibilidade de madeira em função de condições climáticas e biológicas.

Os compradores identificaram a oportunidade melhor que os vendedores, provavelmente por uma visão estratégica mais elaborada e por maior capacidade de suportar os períodos de crise. Já os vendedores, com exceções, é claro, buscaram uma saída, e não uma oportunidade, o que levou a preços médios de madeira mais baixo, mesmo havendo demanda.
 
Monitorar o mercado, a relação oferta e demanda é fundamental para o pequeno, médio e grande investidor florestal. Isso é claro. Buscar oportunidades é diferente. Pode demandar investimento, estudo e análises. No Brasil, apesar de sermos o lugar de maior produtividade florestal do mundo, mesmo quando temos crises climáticas, temos apenas 4 grandes cadeias de negócio com grande escala e potencial de competição em mercados regionais.

Em escala mundial, temos uma cadeia que é permanentemente competitiva, a de celulose de mercado, e outras que são competividades no mercado internacional em condições específicas, como desvalorização da moeda nacional ou grande ciclos de crescimento econômicos mundiais, com grande peso da China, que são a do papel, de chapas de fibra e de siderurgia.
 
O movimento de negócios no setor de celulose mostra que o País continuará sendo o principal destino dos investimentos desse setor, e agora com novos players internacionais. A cadeia de siderurgia vem melhorando, indicando um ciclo de crescimento, e, no cenário econômico nacional, apesar de ele estar melhorando, existe ainda uma grande incerteza, como uma verdadeira montanha russa, com mais frios na barriga do que risadas.
 
O fato é que temos poucas cadeias de negócio em condições de competição em grandes mercados internacionais, como o de madeira serrada, compensados e lâminas e as cadeias de consumo de cavaco e pellets. Todas as avalições de consultorias internacionais indicam redução da oferta de fibra e de madeira no mercado mundial. Diferentes cadeias demandam madeira, e o Brasil deveria ser um dos grandes fornecedores de madeira para o mundo, assim como somos de outras commodities agrícolas.

As oportunidades em algumas cadeias no mercado internacional, como madeira serrada e compensado de pínus, demandarão otimização de custos, aumento de escala e consolidação, ganhando capacidade de motivar os novos plantios e criar mais competitividade para brigar no mercado internacional. 
 
Para a madeira serrada de eucalipto, assim como compensados, falta investimento na consolidação da imagem da madeira como substituto de qualidade para parte da madeira nativa na indústria de móveis, de pisos e da construção civil nacional e para ser qualificada no mercado internacional de hardwood. Isso vale para a teca, mogno africano, cedro australiano e as nativas plantadas, que possuem especificações e usos diferentes do que as madeiras de origem nativas que estão no mercado internacional.

Sem investimento em desenvolvimento de mercado, processos industriais eficientes e logística adequada, só existem problemas, pouca oportunidade. A queda de oferta de madeira nativa é uma realidade a cada ano, e a oportunidade está sendo estruturada. A falta de alternativa para a madeira nativa atrairá outros materiais para substituir, é uma questão de oportunidade. Setores baseados em siderurgia e concreto podem agir rapidamente e ocupar essa oportunidade. 
 
Considerando o manejo de florestas nativas, o maior amigo desse setor é o controle da madeira ilegal, o que faria os preços da madeira nobre serem alavancados pela qualidade e pela escassez. Além dos setores comentados, um outro com grande potencial de crescimento é o de geração de energia elétrica a partir de cavaco de madeira de plantios florestais. Os benefícios estratégicos para governos estaduais e Nacional é a geração de energia limpa, a única que fixa carbono, que tem estabilidade de produção, pois tem reservatório verde. 
 
Também é a que gera maior número de empregos regionais e rurais e que pode utilizar a rede de distribuição existente, reduzindo os investimentos. Considerando as demandas assumidas pelo Brasil relacionada às questões do clima, na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) assinada pelo país, essa modalidade de geração de energia colaboraria significativamente com diferentes metas do País, citando, como exemplos, as relacionadas à redução do desmatamento, à recuperação de áreas degradadas, ao aumento do percentual de energia renováveis.
 
Existe uma evolução na melhoria dos processos de leilões, mas ainda não estão totalmente adequados às condições econômicas do investimento. Atualmente, os projetos de geração de energia são baseados em usinas de 30 a 50 MW e múltiplos desses valores, que são as escalas que permitem boa eficiência na relação investimento e geração.
 
 Projetos de geração de 50 MW demandam algo em torno de 15.000 hectares de plantios (considerando densidade básica média de 500 kg/m³ e umidade de 35%), que serão colhidos em um ciclo de 7 anos. Os contratos com as distribuidoras são feitos através de leilão, organizados pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética). O projeto aprovado no leilão fixa contrato de fornecimento de 20 a 25 anos, com atualização do preço pelo IPCA.

Para se ter um bom projeto, é importante garantir o acesso próximo de água e de linhas de distribuição e, é claro, próximo dos plantios florestais. Um projeto bem estruturado possui logística de abastecimento de madeira otimizada, o que permite boa remuneração para o investimento florestal, assim como bom retorno para a geração de energia elétrica. 
 
Considerando a disponibilidade de madeira em alguns estados, um incentivo na forma de garantir a compra de um certo percentual da energia futura baseada em biomassa de plantios florestais, de forma competitiva, considerando não só os custos de geração de energia, mas os de transmissão e distribuição, poderia desenvolver uma nova e sustentável cadeia de negócio para o setor.
 
Para quem está pensando em investir em ativos florestais, primeiro tenha em mente que a logística é o maior inimigo do investidor florestal. A madeira como matéria-prima sempre estará limitada pelo custo da madeira posto consumidor. Essa deve ser uma das principais variáveis da estratégia de investimento, pois distância é para sempre, e alguém pode entrar no meio do caminho, mesmo com a terra mais cara, e pode ser mais viável. A terra barata nem sempre é uma oportunidade. Importante que as organizações de classes tenham como objetivo ampliar e fortalecer as cadeias de negócio. O setor de base florestal forte e resistente às intempéries e destacado internacionalmente fortalece a todos.