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Silvio Frosini de Barros Ferraz

Professor do Departamento de Ciências Florestais da Esalq/USP

AsCP22

O caminho da sustentabilidade
Apesar de a palavra “sustentabilidade” estar em alta, o seu conceito não é bem compreendido. Trata-se de uma meta abstrata que sempre deve ser buscada, sem mesmo ter a certeza que será atingida. Algo sustentável se sustenta e se conserva, para sempre. Na agricultura, como se pode ter certeza disso? A produtividade, os recursos e os ecossistemas naturais precisam ser mantidos. Então, não se refere apenas à conservação das áreas naturais, da biodiversidade e dos recursos hídricos, mas também dos fatores de produção, como a água, o solo e o seu equilíbrio. Assim, não existe um sistema produtivo sustentável, e sim incrementos de sustentabilidade ao longo de um caminho sem fim definido.
 
Sabendo-se disso, é preciso ter consciência clara da motivação em seguir nessa trilha, já que existem tantas outras menos pedregosas. É sabido que esse é o caminho certo, aquele que leva ao futuro, e quem entrar atrasado pode ficar, literalmente, no caminho. Mas isso não basta, nem sempre se consegue fazer a coisa certa. E mais, ser bom para o planeta é muito legal, mas não paga os custos. Então, a consciência deve ser alavancada por mais conhecimento dos benefícios que poderão ser atingidos para o próprio sistema produtivo, para a comunidade local e como isso afetará positivamente o próprio negócio.
 
Ficar posando na trilha sem, de fato, estar nela é algo que não é sustentável. São inúmeros casos de greenwashing que derrubam empresas inteiras. É preciso entrar para valer, como um caminho sem volta, com a certeza de que o rumo é certo. 

Também é importante saber que não existe mágica nessa área, os sistemas de produção são muito bem ajustados, e o que parece ser uma solução pode causar outros problemas. Por exemplo, a remoção total da palhada da cana-de-açúcar para energia parece uma solução inovadora, mas é necessário considerar o impacto da remoção na qualidade e estrutura do solo, a emissão de carbono e a infiltração de água. 

A academia tem se esforçado para mostrar benefícios de ações de manejo mais sustentáveis na agricultura e também no setor florestal. É necessário mais investimento nessa área em pesquisas que ajudem a mostrar a viabilidade de práticas de manejo, que quantifiquem seus ganhos ambientais e de produtividade no longo prazo. Então, além daqueles valores intrínsecos que as empresas possam querer defender, investimentos em parcerias com as universidades podem ser a chave para o gap de consciência que pode mudar a atitude de uma empresa.

Para isso, é importante que diretores estejam diretamente envolvidos e quebrem a barreira naturalmente construída dos níveis inferiores que frequentemente estão “cegos” em busca de redução de custos e aumento da produtividade. Um exemplo de sucesso é o envolvimento de técnicos, gerentes e diretores de empresas florestais com o Programa de Monitoramento Ambiental em Microbacias (PROMAB), fruto de parceria entre a ESALQ e o IPEF. Em quase 30 anos de projeto, muita informação foi gerada, trazendo mudanças para o setor em benefício da conservação da água.

Vencida a barreira da consciência, é preciso movimentar a vontade e traçar um plano estratégico. Ninguém avança na sustentabilidade do dia para a noite; é necessário investimentos, mudanças de processos, e tudo leva tempo. A mudança gradual deve ser apoiada em mecanismos que deem suporte aos investimentos e agreguem valor à empresa. Cumprimento legal é o primeiro passo, mas não suficiente, é preciso ir além.

O Código Florestal garante o mínimo de proteção, a rewstauração de vegetação nativa leva tempo para os efeitos surgirem na biodiversidade, carbono, água e serviços ecossistêmicos. Mecanismos de certificação são importantíssimos, e o setor florestal, como pioneiro, tem mostrado o caminho para outros ainda incipientes. A certificação ESG também veio para ficar, é uma oportunidade.

E por onde começar? Por processos ou áreas críticas. Estudos do PROMAB com água, estradas e solos demonstram que um percentual pequeno de áreas críticas é responsável pela maioria dos impactos socioambientais. É necessário estudá-las, identificá-las e mapeá-las para entender a fragilidade natural e priorizar a ação nas nessas áreas. Não existem regras, mas, com consciência, conhecimento e vontade, cada empresa é capaz de embarcar rumo à sustentabilidade, aproveitando os mecanismos que já estão disponíveis, ou sendo proativa e criando novos.