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Fábio Luis Brun

Diretor-presidente da RMS do Brasil

OpCP68

Então, inventou-se a árvore!
Com o contínuo progresso do interesse humano em resolver, ou pelo menos mitigar, o aparentemente crescente problema do desbalanço entre emissões de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera e sua eventual captura, surgem alternativas cada vez mais criativas para se enfrentar esse desafio. Recentemente, tive a oportunidade de ler um artigo que tratava do tema onde a hipótese principal para uma possível solução para o problema seria por intermédio da adoção de uma tecnologia de captura direta do CO2 da atmosfera. O princípio básico propõe que o CO2 seja colocado em contato com um material sólido ou líquido (hidróxido de potássio, por exemplo) ao qual ele se liga quimicamente.

Esse material resultante é, então, processado, geralmente com grande dispêndio de energia, para extrair o carbono capturado e purificá-lo. Como essa etapa consome muita energia, a premissa é que ela também seja integralmente gerada por fontes renováveis, de modo que pouca ou nenhuma emissão adicional seja criada pelo processo. Já há diversas empresas desenvolvendo tecnologias de captura direta de carbono do ar, como a Carbon Engineering, no Canadá, a Climeworks, na Suíça, e a Global Thermostat, nos Estados Unidos.
 
No entanto a captura de carbono é um desafio duplo. Primeiro, há a necessidade de se capturar o dióxido de carbono, seja diretamente da atmosfera ou de fontes de emissões. Em seguida, há que se colocar em algum lugar que irá armazená-lo com segurança pelo maior tempo possível.

Uma alternativa, segundo o artigo, é que o carbono seja enterrado.  E uma possibilidade, para tanto, seria enterrá-lo em rochas capazes de absorver esse dióxido de carbono, como aquelas com alto teor de magnésio. Infelizmente, enterrar carbono não é necessariamente um processo barato e muito menos lucrativo. Uma estimativa de 2021 para o custo do uso de uma tecnologia de captura direta do ar em escala comercial era de cerca de US$ 600 por tonelada. E, muito embora enterrar o carbono atinja o objetivo final de removê-lo permanentemente de circulação, pelo menos em um período de tempo geológico, esse também não parece ser um empreendimento particularmente lucrativo. Justificável, talvez, caso créditos de carbono tenham um preço suficientemente alto para fechar a equação.

Para os profissionais florestais leitores do  artigo desta revista, e que aguentaram até este parágrafo, o óbvio ululante é que isso tudo já acontece naturalmente e faz parte do cotidiano mais ordinário do produtor florestal. O fato (ironicamente expresso na tirinha do Scott Adams) é que árvores já são as sequestradoras naturais de carbono. Cerca de metade da massa de uma única árvore é constituída de carbono puro. 
 
Ainda que resultados de alguns estudos indiquem que uma boa maneira de mitigar a mudança climática através do manejo florestal seja deixar as florestas crescerem e acumularem carbono em biomassa viva e matéria orgânica morta, a realidade é que o manejo florestal para benefícios climáticos, a chamada “silvicultura de carbono”, tem a capacidade de entregar exatamente o resultado que as tecnologias de captura direta de CO2 propõem, mas com apenas uma fração do dispêndio de energia e com o adicional de, em muitos casos, já solucionar o problema da destinação do carbono eventualmente fixado. 

Florestas de produção devem ser usadas para maximizar seus benefícios climáticos, uma vez que o uso de produtos de madeira pode reduzir as emissões de carbono de combustíveis fósseis. A madeira e outras biomassas florestais derivadas de florestas manejadas podem ser queimadas para energia, e a madeira serrada pode ser usada na construção para reduzir as emissões de carbono da indústria do cimento e do aço. A celulose originária de florestas de produção comercial pode ser convertida em produtos que substituem os produtos plásticos à base de petróleo.
 
E, ironicamente, concentrações mais altas de CO2 podem inclusive aumentar o crescimento florestal, num fenômeno conhecido por “fertilização por CO2”. Há evidências de que plantas já estão produzindo mais biomassa em resposta ao aumento da disponibilidade de CO2 na atmosfera.

Embora a captura de carbono nas árvores seja um processo natural, existem maneiras de incentivar as árvores a sequestrar mais carbono, através do manejo florestal de florestas plantadas. A estratégia talvez mais importante seja a de manter as áreas de produção florestal viáveis como tal. A prática da produção florestal sustentável é essencial para garantir que as florestas permaneçam lucrativas, saudáveis e “sumidouros” efetivos de carbono.

Os gestores profissionais florestais são componentes importantes no processo ao garantir aos investidores e proprietários florestais o atingimento dos seus múltiplos objetivos financeiros e de manejo, conservando o valor de seus povoamentos, uma vez que florestas produtivas que mantêm seu valor são mais propensas a permanecer como florestas produtivas no futuro.