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Germano Vieira e Dayana Seidel

Diretor Florestal e Especialista em Viabilidade de Projetos da Eldorado, respectivamente

OpCP74

A árvore acalma o planeta
Em uma cadeia de produção tão ampla e diversificada, como é o agronegócio, muitos ainda se questionam sobre a razão de investir no plantio de árvores para novos empreendimentos. Essa pergunta, embora comum, encontra uma resposta evidente na expansão contínua das fronteiras florestais globais e nos consideráveis investimentos no setor de celulose e papel, painéis reconstituídos, carvão vegetal siderúrgico e outros, mostrando ser uma opção lucrativa, mas que, além de tudo, oferece muitos benefícios.

Além de possibilitar o desenvolvimento de regiões remotas, melhorando a distribuição de renda por meio da geração de empregos, temos importantes contribuições ao meio ambiente. Com uma grande evolução nas últimas décadas, a silvicultura brasileira é uma atividade altamente agregadora que, associada ao avanço da tecnologia, tem utilizado boas práticas de conservação do solo, emprego de fertilizações mais calibradas, controle de pragas via soltura de inimigos naturais, prevenção e controle eficiente de incêndios florestais e plantio de clones cada vez mais adaptados a cada região, produzindo mais madeira por hectare e aumentando consequentemente o sequestro de carbono. Essas práticas resultam na utilização consciente do espaço agrário e da recuperação de áreas degradadas para a produção florestal. Esse processo não apenas atende às demandas do mercado, mas também desempenha um papel crucial na mitigação das mudanças climáticas.

Comparado a outros países, vemos o Brasil se destacando como um dos polos de alta atratividade para produção de madeira para diversas finalidades, reunindo particularidades especiais que o diferencia em termos de critérios e atributos necessários para investimentos no setor. Sua dimensão continental, com grande disponibilidade de terras, a riqueza e o acesso às águas, o privilégio do território ser contemplado com um grande período de irradiação solar, as condições climáticas, a produtividade do solo, uma cadeia logística razoável, a disponibilidade de mão de obra qualificada, e, na maior parte do país, regras de licenciamento ambiental claras e fatores políticos e econômicos de baixo riscos.

Conectado a isso, atualmente, as empresas de base florestal utilizam sistemas de certificação ambiental avançados. Por meio de auditorias rigorosas, essas certificações atestam as práticas sustentáveis em cada etapa da cadeia de produção florestal. Essas auditorias não apenas endossam, mas também ajustam os processos, garantindo sua conformidade com os padrões e referências globais de sustentabilidade. Esse comprometimento reflete a busca incessante por operações alinhadas aos mais elevados padrões ambientais em escala internacional.

Para tanto, conciliar a monocultura de árvores com a biodiversidade existente de cada região requer uma abordagem estratégica e cuidadosa que considere seus interesses econômicos, sociais e ambientais. Como exemplos de grandes projetos bem-sucedidos em suas implantações, podemos citar o estado do Mato Grosso do Sul, o qual possui grandes áreas do bioma cerrado, considerado também um hotspot mundial devido à sua rica biodiversidade, demonstrando ser possível a produção florestal e a preservação da biodiversidade local e os recursos naturais.

Vejam os gráficos abaixo, que registram a melhoria do índice de biodiversidade nas áreas de APP e RL em 5 projetos na região Centro-Oeste do Brasil, antes e 5 anos após implantada a floresta de eucalipto.

Em análise aos dados do índice de diversidade de Mastofauna e Avifauna monitoradas, é observado que, para a maioria das fazendas avaliadas em 2022, houve um aumento no índice de diversidade em comparação com o monitoramento de 2017, sendo possível afirmar que o manejo florestal adotado pela empresa influencia positivamente a comunidade de animais e aves estudadas, reforçando a indicação de que os fragmentos das fitofisionomias do Bioma Cerrado estão em bom estado de conservação e em constante evolução.

A silvicultura, muitas vezes, é associada à simples produção de madeira. Porém, ela revela-se como um sistema de produção multifacetado e crucial quando consideramos os seus impactos positivos.

Hoje, comprovadamente, sabemos que os plantios de árvores desempenham um papel fundamental na mitigação das mudanças climáticas, absorvendo dióxido de carbono da atmosfera, um dos principais gases de efeito estufa.

Estima-se que o plantio florestal com eucalipto sequestra, em média, até 170 toneladas de Co2 por hectare, além de servir de barreira contra pragas indesejáveis a produção agrícola, demonstrando um efeito positivo no ambiente ao seu redor, protegendo as áreas de preservação permanente e os recursos hídricos e as reservas de alto valor de conservação, melhorando a qualidade da biodiversidade dessas áreas.

Vários cálculos apontam para uma demanda de cerca de 150 árvores para cada ser humano mitigar suas emissões de CO2 numa vida média de 70 anos. Considerando esse cálculo correto, cada um de nós deveria plantar pouco mais de 2 árvores por ano. Ainda calculando e fazendo uma referência à silvicultura brasileira, 9,5 milhões de hectares plantados, nós cobrimos com folga essa demanda, significando que somos eficientes e sustentáveis.

Outro ponto importante no equilíbrio dessa equação de produção sustentável é, também, a implementação de sistema integrados, tais como a agrosilvicultura ou iLPF – Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. Ela congrega sistemas agrícolas, pecuários e florestais em uma mesma área, com práticas de cultivo consorciadas, em sucessão ou em rotação, de forma que haja benefício mútuo para todas as atividades, e otimizando o uso da terra, aumentando a produtividade e mitigando a emissão de gases causadores de efeito estufa.

Também é notório que as áreas florestais plantadas contribuem para formação de corredores ecológicos estratégicos e eficazes, atuando como pontes entre os sistemas de produção e a conservação da biodiversidade, promovendo o fluxo gênico. Isto tudo evidencia que a presença de áreas florestais bem geridas não são apenas um investimento econômico, mas um compromisso com a saúde a longo prazo do nosso planeta e com suas diversas formas de vida.

Manter a saúde das florestas é crucial para um sistema de produção equilibrado. O controle de pragas e doenças, por meio do manejo integrado, garante a preservação da vitalidade dos ecossistemas. O controle biológico, através da liberação de inimigos naturais e do uso de espécies e clones resistentes, destaca-se pelos benefícios em relação aos métodos químicos. Este método baseia-se na identificação precoce, quantificação/classificação das ocorrências e implementação de diferentes abordagens de controle, considerando processos biológicos, físicos, químicos e comportamentais, assegurando a proteção ambiental e a segurança das pessoas envolvidas.

Monitoramentos, também, devem ser executados no sentido de avaliar as áreas naturais mais importantes para a conservação ambiental, além das áreas legalmente protegidas, e a sua dinâmica em função do manejo florestal, buscando sempre a melhoria contínua de processos, atividades e integridade ambiental dos recursos naturais.

Entre os processos estão a identificação e a recuperação de áreas degradadas, cujos objetivos é garantir o atendimento legal, em especial às áreas protegidas, como as Áreas de Preservação Permanente – APP,  e as áreas de Reserva Legal – RL.

Outro ponto de grande importância, diretamente ligado à silvicultura, são os recursos hídricos. A implementação de monitoramentos efetivos para garantir a qualidade e a disponibilidade do recurso, realizada em seus pontos de captação e micro bacias em que existem manejos ou em áreas sob responsabilidade da cadeia de produção.

Áreas que visam garantir ou melhorar a qualidade de vegetação nativas também são estudadas para o estabelecimento das Áreas de Alto Valor de Conservação (AAVC), tendo como focos o mapeamento e a qualificação de possíveis atributos, além de estudar a dinâmica da fauna e flora em relação às suas operações, garantindo, preventivamente, a identificação de qualquer distúrbio e/ou melhoria das medidas mitigatórias.

Assim, à medida que exploramos os diversos aspectos do verdadeiro valor da silvicultura, torna-se evidente que essa prática vai muito além da simples plantação de árvores. Do plantio inicial ao equilíbrio com a biodiversidade, o monitoramento ambiental e a gestão dos recursos hídricos, a silvicultura revela-se como uma aliada importante na construção de processos produtivos sustentáveis, integrando práticas inovadoras e, também, fortalecendo as bases sociais das comunidades envolvidas na cadeia produtiva, gerando bônus sociais que vão desde a geração de empregos até o apoio à educação ambiental.

Por fim, sabedores de que, apesar de também consumir oxigênio, uma árvore madura produz uma média de 120 kg de oxigênio por ano, correspondendo à metade do consumo anual de um adulto, e ocupando um papel fundamental na regulação do clima, podemos reafirmar que uma floresta bem plantada acalma o planeta e gera verdadeiro valor para a vida humana.