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Adriana Maugeri

Presidente executiva da AMIF - Associação Mineira da Indústria Florestal

OpCP68

Quem aceita perder vegetação nativa no Brasil e ganhar mais carbono?
Os benefícios climáticos proporcionados pela indústria florestal são múltiplos e alcançam diretamente os principais aspectos que hoje tomam a pauta das discussões sobre as mudanças climáticas, como uso eficiente de energia e, proporcionalmente, o percentual de fontes renováveis que compõem a nossa matriz energética, emissões de GEE das operações fabris, sequestro e estoque de carbono, desmatamento alarmante, incêndios florestais em crescente. 
 
Para cada um dos exemplos citados, a indústria florestal no Brasil tem se voltado, nos últimos anos, para oferecer soluções que sejam, de fato, aproveitáveis e benéficas a todos. Sem dúvida, o papel singular que as árvores plantadas realizam ao sequestrar e estocar carbono da atmosfera é o mais evidente benefício climático que a indústria florestal entrega para a sociedade. Muito mais que madeira, entregamos vida, ar limpo e, consequentemente, melhor qualidade de vida, indistintamente para todos os seres vivos. Motivo de alegria, inclusive, é vivenciar como a biodiversidade é grata ao receber florestas preservadas em harmonia com florestas plantadas, multiplicando as entregas positivas ambientais. 
 
Felizmente, só o ser humano, entre as classes animais, é eivado de “pré” conceitos que são absurdos, como discriminar espécies de árvores e de animais em razão de ideologias e um mergulho raso, bastante superficial na ciência. A história das civilizações nos mostra como essas “crenças” discriminatórias trouxeram perdas imensuráveis para o nosso planeta. Como a ciência perdeu disputas valiosas por causa da ideologia fundamentada, quase sempre, na manutenção do interesse de poucos, utilizando-se da manobra e massacre intelectual de tantos.
 
A indústria florestal destaca e, com razão, o incomparável estoque anual de 4,5 bilhões de tCO2eq em nosso país; frisa-se que o Brasil emite, anualmente, cerca de 1,15 bilhão de tCO2eq, ou seja, segundo a nossa eminente entidade representativa, a Indústria Brasileira de Árvores- IBÁ, a indústria florestal brasileira estoca, aproximadamente, quatro vezes o que o Brasil emite. 

Entretanto gostaria de reforçar aqui outro serviço climático que a indústria florestal realiza e que merece nossa atenção: a conservação de vegetação nativa a qual abordo em duas vertentes:
1) a vegetação nativa conservada dentro das áreas próprias das empresas que compõem o setor florestal brasileiro;
2) a vegetação nativa fora dos limites do setor, a qual está sob influência e protagonismo desse setor junto aos governos, projetos e políticas públicas para promover seu monitoramento e conservação. De acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), iniciativa do Observatório do Clima, cerca de 44% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil são provenientes da mudança do uso da terra, principalmente derivada do desmatamento. 

Em Minas Gerais, o mercado de madeira possui representatividade de praticamente todos os segmentos do setor. São, segundo a Associação Mineira da Indústria Florestal, a AMIF, 2,3 milhões de hectares de produção de florestas distribuídas por mais de 94% dos municípios mineiros. Mais de 800 municípios, que possuem a vocação histórica de plantar e cuidar de árvores e colocam o estado como maior produtor brasileiro.

A produção do carvão vegetal é destaque e, juntamente com a celulose, são responsáveis pelo consumo da maior parte da madeira ofertada. A produção de carvão vegetal para consumo industrial em MG somente é autorizada se oriunda de florestas plantadas, porém o fantasma da produção de carvão ilegal de madeira nativa, inconcebível dentro da sustentável indústria florestal, ainda é a escolha de alguns que não podemos sequer denominar “produtor”, mas criminosos. Essa dualidade é inaceitável no mercado mineiro e menos ainda por um setor que se destaca pelos benefícios socioambientais praticados. 
 
O setor ocupa, hoje, 3,33% da área de Mata Atlântica e 4,8% da área do Cerrado Mineiro, dados recentes que desmitificam a injusta acusação de ser um dos principais responsáveis pelo desmatamento em Minas. Somando aos 2,3 milhões de áreas produtivas, estão mais 1,3 milhão de hectares de vegetação nativa, totalizando 3,6 milhões de hectares de vegetação conservada ou manejada pelo setor no estado.

Essa entrega imensurável colocou o setor em posição diferenciada junto ao governo para propor que esse equilíbrio entre produção versus conservação se estenda para além de nossas fronteiras. Esse é o legado que o setor proporciona; ampliamos exponencialmente, aqui chamado propositalmente, o capital climático para a sociedade. Disponibilizamos vida, entregamos ar. Para esse legado, manter a vegetação conservada é essencial. Buscando maior entrega à sociedade mineira, o setor florestal se posicionou fortemente além do tradicional papel de cobrança por fiscalização e punição; ele se qualificou como parceiro atuante do governo nesse incansável combate.
 
Os crescentes índices de desmatamento e de incêndios florestais em MG atingiu a indignação e perplexidade daqueles que se esforçam para entregar ganhos socioambientais para esse estado: a AMIF e a IBÁ se uniram na formulação de uma proposta ao governo mineiro de implantação de um projeto de monitoramento e vigilância em tempo real, via sensores radar em órbita, de toda a cobertura vegetal nativa do estado. 

Para esse projeto, naturalmente a cooperação técnica é uma alternativa para aprimorar os sistemas e os resultados. Um projeto urgente e que deve unir as pastas públicas de interesse,como meio ambiente, agricultura e pecuária, desenvolvimento econômico e forças de segurança, em um movimento jamais visto por aqui.  Para monitorar de fato a vegetação nativa, oferecer efetividade contra o desmatamento, incêndios devastadores e invasões criminosas, completa o projeto o rito sumário nos processos administrativos e criminais para punir proporcionalmente aqueles que insistem em praticar atos criminosos. 

Um dos diferenciais é a rápida restrição de direitos junto ao estado daqueles que forem autuados, podendo se tornar definitiva, caso sentença afirmativa julgada. Estima-se que o tempo de resposta do estado para as identificações das infrações, apuração e o devido processo administrativo e legal reduza, no mínimo, 20 vezes do atual. 

Essa será uma ação contundente, de baixo custo de implantação e manutenção, e que trará Minas Gerais para a vanguarda da conservação ambiental inteligente e consolidará o setor florestal como o atuante e propositivo agente de conservação florestal para muito além de seus atuais limites.A indústria florestal, como pioneira na crescente bioeconomia e com pilares das práticas e resultados ESG, é uma das principais atividades econômicas que, em posição de cooperação com os governos e a sociedade civil organizada, pode exponenciar os seus benefícios climáticos. 

A eliminação do desmatamento em todos os biomas brasileiros deve ser nossa bandeira mais vibrante, pois sua ação está diretamente relacionada ao nosso negócio. Sabemos como fazer e fazemos muito bem; passou do momento de apoiarmos quem está começando a despertar para a necessidade de promoção de um futuro menos incerto para os brasileiros, pelo menos em relação ao clima.