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Paulo Roberto Pupo

Superintendente da Abimci - Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente

OpCP73

O Brasil florestal e o Brasil madeireiro
O setor florestal brasileiro tem alcançado resultados notáveis, em especial quando nos referimos às florestas plantadas. Elas demonstram ótima produtividade, calcadas nas melhores tecnologias de plantio, no desenvolvimento genético das principais espécies utilizadas - pinus e eucalipto - e na participação de um corpo técnico de profissionais e especialistas envolvidos na produção florestal, que certamente estão entre os melhores do mundo.

O resultado não poderia ser diferente, senão o de posicionar o Brasil como um dos mais importantes e expoentes players mundiais quando se trata de desenvolvimento florestal, produtividade por hectare e qualidade de nossas florestas. Fontes diversas no Brasil estimam a área de florestas plantadas em torno de 9,5 e 11 milhões de hectares, dependendo da metodologia utilizada.

Tomando como base o Estudo Setorial 2022 da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente), documento abrangente que mostra a amplitude de nossa matriz florestal e da indústria madeireira, entendo que, mesmo considerando a área plantada de 9,5 milhões de hectares, ela responde por mais de 90% de todo o suprimento de toras para a indústria brasileira nos mais diferentes segmentos e usos da matéria-prima.

Sabemos que a maior parte da produção florestal é destinada à produção de papel e celulose, o que de certa forma é compreensível, pois esses segmentos se utilizam de ciclos florestais mais curtos e de um perfil econômico com mudanças dinâmicas e constantes. No entanto, quando olhamos para a indústria de madeira processada, com seu eficiente parque industrial instalado,  que tem se modernizado a olhos vistos, fica claro que nossos produtos estão em boas condições de competitividade global em diferentes segmentos, como compensados, painéis, madeira serrada, molduras, portas, pisos, pellets, entre outros.

A olhos macro, a balança do suprimento florestal nacional pode estar ajustada e parecer adequada, mas este cenário exige uma reflexão mais profunda. Os anos pandêmicos mudaram significativamente a dinâmica de consumo e dos custos de suprimento florestal em todo o mundo, e estamos presenciando esses impactos desafiadores. Os patamares de produção, faturamento e de resultados aferidos pela indústria de base florestal nos últimos anos não é mais realidade.

Aliado a isso, o recente caos logístico presenciado prejudicou a performance de entrega de alguns dos nossos produtos em vários dos principais destinos, o que impactou nosso share e posicionamento no mercado. Mercados importadores ao redor do mundo buscaram se adequar para suprir as dificuldades enfrentadas no recebimento dos produtos, seja buscando por nossos concorrentes ou mesmo ampliando e readequando suas produções locais.

De forma resumida, essa é a nova dinâmica do mercado. Os resultados positivos alcançados recentemente não podem ser vistos como um padrão e muito menos utilizados como base para planejamento. As empresas não terão mais os mesmos resultados alcançados, e, sim, estamos enfrentando os desafios herdados desse desbalanceamento nos custos de produção e suprimento.

O grande desafio é como podemos sair dessa situação sem perder as oportunidades que nos cercam. No setor industrial madeireiro, as construções sustentáveis com madeira certamente são uma grande oportunidade de geração de escala de negócios e aumento do consumo per capita de madeira no Brasil.

O sistema construtivo com madeira engenheirada, por exemplo, está se apresentando como uma importante solução, pois o processo industrial utilizado para sua fabricação proporciona à madeira resistência mecânica, durabilidade, trabalhabilidade, flexibilidade em diversos tipos de empreendimentos e construções. Além disso, o sistema possibilita a redução de tempo construtivo, menor geração de resíduos na obra e baixo impacto ao meio ambiente.

Outra importante iniciativa foi o desenvolvimento da norma técnica brasileira do sistema wood frame. A recente publicação do documento pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), fruto de um intenso trabalho técnico que envolveu diversos interessados e especialistas no tema, certamente proporcionará uma evolução e ganho de escala nesse sistema construtivo industrializado no Brasil.

Redução do tempo de execução das obras e na geração de resíduos; na economia de energia e em ganhos ambientais, como o estoque de carbono, são alguns dos muitos fatores positivos das construções em wood frame. Este sistema também nos oferece uma oportunidade única para propor mudanças na política habitacional nacional, que, com sua capacidade crescente de produção, colocará a madeira como uma das alternativas para contribuir com a redução do déficit habitacional brasileiro.

Ambos os sistemas possuem caraterísticas atrativas para o mercado da construção civil, pois seguem as principais premissas de uso de materiais sustentáveis em obras, se enquadram nos princípios do ESG (Ambiental, Social e Governança) e estocam carbono ao longo da vida útil do empreendimento.

Exemplos práticos do avanço desses sistemas construtivos já estão em andamento, focados no desenvolvimento de políticas públicas e de incentivo às construções com madeira.

Missões técnicas têm sido realizadas em mercados já consolidados no uso desses sistemas, buscando melhor compreensão sobre o envolvimento das entidades governamentais e reunindo subsídios para a elaboração de um plano de ação para construções sustentáveis com madeira. Aproximações e troca de informações com órgãos técnicos do Governo, com entidades de financiamento, assim como centros de pesquisa, têm sido estruturados, como, por exemplo, no estado do Paraná, com o Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação, o NAPI Wood Tech PR, uma rede colaborativa voltada à pesquisa aplicada e inovação, com foco na utilização de madeira na construção civil.

Cabe a todos os envolvidos no setor madeireiro e de base florestal aproveitar as oportunidades e o futuro promissor que tem se estruturado. Mas para que isto seja possível, precisamos compreender e ter uma visão clara de que a condução e produção florestal nacional não podem ser apenas centradas no uso dos segmentos de celulose e papel, pois somos muito mais do que isso. Não podemos ter as toras mais caras do mundo, sendo esse o triste cenário atual, e que nos tira do jogo comercial e de competitividade.

Precisamos fomentar discussões sobre o suprimento florestal, buscando ciclos mais longos destinados à indústria de madeira processada. Não me refiro a uma mudança radical na condução florestal, mas, sim, a uma atenção maior para que uma parcela de nossas florestas seja destinada ao uso madeireiro e estrutural. Esta talvez seja uma questão cultural, de compreensão das vantagens dos ciclos florestais mais longos.

Desta forma, teremos matéria-prima suficiente para atender à demanda crescente das construções com madeira e aproveitar as oportunidades que nos cercam. Essas mudanças consolidarão cada vez mais a madeira, que possui alto potencial de crescimento, geração de negócios, emprego, renda e sustentabilidade para nossa indústria, florestas e sociedade.