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Fabiano Rodrigues

Diretor Florestal e Suprimentos na Sylvamo

OpCP68

Uma oportunidade de protagonismo
O Brasil e o setor florestal têm uma oportunidade real de exercer seu protagonismo na agenda de combate às mudanças climáticas. Para isso, será fundamental assumirmos nossa posição de liderança, participando ativamente das estruturações de normas e regulamentações para o tema. É preciso pragmatismo, governança e visão de Estado para endereçar a questão que, há muito tempo, deixou de ser ambiental e está se tornando uma mudança de contexto econômico. 
 
Essa mudança de contexto econômico traz um efeito de governança global, que busca se organizar de diferentes formas para gerir o assunto. Gestores de grandes fundos passam a exercer influência sobre conselhos de administração de empresas, cobrando por ações concretas que vão além dos relatórios de sustentabilidade. Consumidores e investidores pessoa física passam a exercer seu direito de escolha, traçando novos limites para o que é ou não aceitável, se produtos são realmente sustentáveis e se a cadeia de produção respeitou critérios e práticas de respeito às pessoas, fauna e meio ambiente de modo geral. Não se pode negar que se trata de uma evolução. O acesso à informação, a consciência sobre escassez, o potencial de rastreabilidade de cadeias de suprimentos e o acesso à educação vêm transformando a forma como vemos o mundo e o quanto nos importamos com a sustentabilidade. 
 
Acredito que, quando falamos sobre questões mundiais, como a agenda do clima, mercado de carbono, produção de alimentos e tantos outros temas, nosso papel como líderes nessa discussão é o de promover a colaboração. Isso é possível por meio do diálogo entre setor público, academia, setor privado e sociedade civil organizada.

Em um ambiente de tantas incertezas, a única forma de avançarmos é com um fluxo cada vez mais integrado de informações. O setor tem um papel-chave e muito a contribuir, principalmente quando olhamos para nossa legislação ambiental e florestal, que está entre as mais exigentes do mundo.

O Brasil tem um potencial enorme quando falamos de redução de emissões no planeta, pois tem disponibilidade de energia limpa e uma incomparável capacidade de produção de energia de biomassa. Segundo dados da IBÁ – Indústria Brasileira de Árvores, associação responsável pela representação institucional da cadeia produtiva de árvores plantadas, nossas florestas plantadas são responsáveis pela estocagem de mais de 1,7 bilhão de toneladas de Co2eq somado a estes outros 2,5 bilhões de toneladas de Co2eq em áreas protegidas de Reservas Legais e Áreas de Preservação Permanentes.
 
Nossas florestas plantadas aportam para esta nova economia uma possível indústria de captação de carbono, um dos principais vetores de mitigação das mudanças climáticas. Além disso, temos níveis de excelência em todos os demais vetores, como em nossos produtos, estocando carbonos durante todo seu ciclo de vida, ou pela eficiência energética da indústria e suas emissões evitadas.
 
Todos esses ativos aportados por nosso modelo de negócio ganham relevância nesse novo mercado de títulos sustentáveis, que vem experimentando crescimento acelerado. Títulos verdes vêm atingindo recordes de emissões, e, segundo a Climatebonds, o apetite para novas emissões pode passar de 1 trilhão de dólares ainda este ano. Princípios, critérios e indicadores para acesso a esse capital têm sido desenvolvidos com um olhar próximo de investidores e sociedade organizada.

É o que sugere o Green Bond Principles - GBP, conjunto de macrocategorias desenvolvido para avaliar a elegibilidade de projetos verdes.  Fundamentalmente, há um entendimento de que iniciativas que ajudem a cumprir os objetivos globais com os do Acordo de Paris demandarão investimentos e esforços; padrões como esse podem facilitar o fluxo de capitais, dando segurança para investidores, emissores e demais participantes dos projetos. 
 
A estrutura busca oferecer orientações claras e expectativas comuns aos participantes do mercado de capitais sobre as práticas, ações e divulgações a serem disponibilizadas ao levantar fundos para esse propósito.  O GBP sugere que a avaliação de projetos elegíveis à captação de green bonds deva considerar os seguintes macrocomponentes: o uso do recurso, o processo de avaliação e seleção do projeto, a gestão dos recursos e como os resultados e o andamento serão comunicados.

Como se pode perceber, a aceleração de tendências ou a construção de um novo modelo ultrapassa os limites do ambiental, se tornando uma mudança clara do contexto econômico e de conduta de seus agentes. Compromissos de Estado como os discutidos no acordo de Paris e seus desdobramentos nas demais conferências da ONU para mudanças climáticas passam a integrar gradualmente modelos de governança. Por isso, é necessário que o setor de florestas plantadas, diretamente ou por meio de suas associações, participe ativamente das discussões sobre o clima, utilizando eventos como a COP27 como uma oportunidade de articulação e defesa dos interesses do setor, estrategicamente se posicionando e enriquecendo o debate para que os resultados não se limitem a estratégias de protecionismo regional, mas tenham, de fato, um efeito positivo sobre o meio ambiente.