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Saulo Philipe Guerra

Diretor da Agência UNESP de Inovação - AUIN e Líder Científico do Programa Cooperativo sobre Mecanização e Automação Florestal

OpCP67

A real energia da árvore
O setor de florestas plantadas de Eucalyptus spp. e Pinus sp., com mais de 9,5 milhões de hectares em áreas produtivas e respeitando integralmente as exigências legais e ambientais nacionais e internacionais (mais de 6 milhões de hectares de área conservada), produz, de maneira sustentável e certificada internacionalmente, matéria-prima e produtos derivados relevantes para o Brasil.
 
A nossa silvicultura é reconhecida pela sua alta produtividade, qualidade em seus produtos e derivados, sustentabilidade, tecnologias e inovações nas operações florestais, desde o preparo de solo, passando pelo plantio e irrigação, até a colheita da madeira. 
 
A produção e a exportação dos principais produtos da silvicultura nacional, em 2020, representaram 8,9% das exportações mundiais. Os produtos tradicionais do agronegócio nacional, como soja, açúcar, café, carne (bovina e de aves), milho e algodão, ainda lideram nosso ranking de exportação que seguem para China (32,4%), União Europeia (14,5%) e Estados Unidos da América (6,4%), superando R$ 2 trilhões – 27% do PIB nacional. 
 
Nesse contexto, as florestas plantadas contribuem com 4,8% dos produtos da cadeia de exportação do agronegócio, ou seja, 2,7% do PIB nacional, com cifras que somam mais de US$ 11 bilhões em 2020. Os principais produtos florestais são celulose, papel, painéis e pisos laminados, madeira serrada e compensados, colocando o Brasil na posição de maior exportador de celulose do mundo.
 
Mas, além da participação e representatividade internacional, as florestas plantadas contribuem de forma relevante na matriz energética nacional, sendo a biomassa florestal uma fonte renovável, contribuindo pelo fornecimento de 9% da eletricidade consumida em todo o País. 

O Brasil possui menos de 1% do território ocupado pelas florestas plantadas, que é responsável por atender 91% de toda a demanda de madeira para fins industriais no País, e 1 milhão de hectares é destinado aos plantios energéticos.

Nesses plantios, a biomassa florestal, importante material orgânico sintetizado pelas árvores na fotossíntese, que abrange componentes acima do solo (folhas, galhos, fuste, casca e toco) e abaixo dele (raízes), pode ser convertida em energia térmica ou elétrica. O mesmo vale para a biomassa morta ou residual, que é caracterizada pelo resíduo de lenho, raízes e tocos e restos da colheita remanescente no campo.

Tradicionalmente utilizada no velho continente desde os anos 1600, exportada durante os anos de 1800 pelos países nórdicos, a biomassa residual florestal retomou posição de destaque nos anos 2000, na Europa, e, mais recentemente, no Brasil. A biomassa é considerada uma das principais alternativas para redução da dependência e importação dos combustíveis e seus derivados fósseis, sendo, hoje, a terceira fonte mais utilizada no País.
 
Hoje, temos grandes investimentos em operação, convertendo tocos e raízes de eucalipto em energia elétrica, como a termoelétrica da Eldorado Brasil - Onça Pintada, Três Lagoas-MS, com capacidade para gerar e entregar mais de 50 MW de energia limpa e sustentável junto ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). É a maior usina termoelétrica a biomassa florestal em operação no País!
 
Na esteira do aproveitamento integral da biomassa florestal, novos investimentos em usinas termoelétricas são aprovados no Brasil, como em Uruguaiana-RS e Lençóis Paulista-SP, para citar apenas dois exemplos. A planta do Rio Grande do Sul terá capacidade de gerar energia para atender a uma cidade com 100 mil habitantes. Já a usina paulista terá capacidade de produzir até 80 MW de energia limpa, suficiente para abastecer uma cidade com 1 milhão de habitantes, e início das operações previsto para 2024. A contribuição da energia de biomassa florestal é importante para o País, com forte perspectiva de crescimento. Nos momentos de crise econômica, ou de crise sanitária, ou de restrição de fornecimento de energia fóssil importada, o tema ganha força. 
 
Agora, num cenário onde as três situações acima ocorrem conjuntamente, a pergunta “Plantar florestas: pra quê?” se torna uma questão estratégica de Estado. Nosso setor deve ser apoiado pela sociedade civil e pelos governos federal, estadual e municipal, considerando o enorme potencial de geração energética, os compromissos assumidos na COP26, a conservação da biodiversidade e a sustentabilidade das suas atividades na produção de matéria-prima florestal.
 
Os investidores e empresários terão o desafio de produzir produtos inovadores derivados da madeira, como lignina, etanol, bioplásticos, nanofibras, tall oil e bio-óleos, dentre outros, que estarão em nossas vidas e nas mais diversas indústrias, num curto espaço de tempo, graças aos investimentos em P,D&I realizados pelas indústrias de base florestal, universidades e institutos de pesquisa.  Dessa forma, vamos capacitar profissionais e gestores para lidar com os desafios da silvicultura de florestas plantadas, tornando-as mais tecnificadas e produtivas, em um ambiente cada vez mais digitalizado e sustentável.