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Jorge Ivan Correa

Diretor Corporativo Florestal da Masisa - Chile

Op-CP-08

O que está acontecendo com as plantações das florestas da América Latina

Não há dúvida de que a situação, cada vez mais restritiva, relacionada com as questões ambientais, com temas de legislação, como das medidas regulatórias dos desmata-mentos ilegais, foi mudando o eixo do negócio florestal das florestas naturais, para florestas implantadas pelo homem, que, por suas características próprias, foram, em grande parte e para muitos usos, bons substitutos para as madeiras provenientes das florestas nativas.

Hoje, as plantações florestais ocupam 5% da superfície das florestas no mundo, mas representam 35% da oferta mundial, em volume, para usos industriais. Este fato teve dois grandes efeitos. Primeiro, a adequação da tecnologia para dar uso às florestas que geram madeira de menor diâmetro e menor idade (rotações), em função do desenvolvimento de produtos pela engenharia, que reconstituem características da madeira, necessárias para os diferentes usos, de variada natureza, como painéis colados lateralmente (Edge Glue Panels), emendas Finger Joint, aglomerados e chapas de partículas orientadas (Particle Board e OSB), placas de fibras de madeira reconstituídas e chapas duras (MDF, Hardboard), compensados (Ply-wood), madeiras laminadas e madeiras micro laminadas (LVL).

O segundo efeito foi sobre o tipo de manuseio de florestas com espécies de rápido crescimento, que tiveram no mercado e na indústria seus principais impulsores, agregando valor e rentabilidade às plantações florestais, lastreados na resposta da ciência e no manuseio florestal com a diversificação de espécies de produtos da árvore, adequando a qualidade e o tamanho da madeira colocada à disposição da indústria, processadora primária, secundária e de remanufatura.

O processo, consolidadamente sustentado no que diz respeito à valorização e aos interesses dos investidores, deve-se, sem dúvida, às características naturais da região, quanto à disponibilidade de terras, em extensões adequadas à escala do negócio, a uma muito boa produtividade dos solos, boas condições relacionados com as diretrizes que governam o negócio, em especial, para o cultivo de espécies de rápido crescimento, tanto relativo a espécies de fibra longa (gênero pinus), como de fibra curta (gênero eucaliptos).

Não somente as características mencionadas são excepcionais nesta área do mundo. A América Latina tem como atrativos para os investidores ativos com boa rentabilidade, baixa volatilidade e baixo risco; recursos renováveis que geram retornos por um longo período de tempo e que se encontram, em geral, negativamente correlacionados com as outras importantes classes de ativos, que constituem o portfólio para este tipo de investidores e, adicionalmente, têm alta correlação positiva em relação à inflação.

A evolução, no que se refere ao conceito da maximização da produção de toneladas de fibra, por unidade de superfície, por outro lado, foi dando lugar ao conceito de maximização de valor, para o volume estocado, por unidade de superfície. Sem dúvida, o processo anterior foi acompanhado e é o que lhe dá sentido. Ocorreu um aperfeiçoamento dos mercados locais e internacionais, com incorporações de tecnologias cada vez mais modernas para o uso integral dos produtos provenientes das árvores.

Importantes crescimentos foram observados na indústria da celulose e do papel, bem como na produção da indústria da serraria, na remanufatura, de compensados, de chapas de partículas, painéis de fibra, portas, janelas, móveis e várias outras indústrias de diferentes processos produtivos. Alcançando um melhor aproveitamento integral da árvore e dos subprodutos destes processos, como a serragem, as lascas, a casca, etc.

Isso veio agregar valor em toda a cadeia produtiva e resultou no desenvolvimento de negócios locais, satisfazendo as necessidades de mercados internacionais, no que se refere aos padrõesprodutivos, à qualidade e à certificação dos produtos. O crescimento da demanda internacional, bem como a melhoria das economias da América do Sul nos últimos anos, provocaram uma adequação dos países nas questões regulatórias e legais, assentando os fundamentos da sustentabilidade do negócio florestal como uma atividade econômica de longo prazo de maturação, que requer a estabilidade de uma sólida legislação, para que se promova um seguro desenvolvimento florestal.

São exemplos deste fato, num passado recente, o Chile, o Brasil, o Uruguai, a Argentina, e agora passam pelo mesmo processo, a Colômbia, o Peru, o Paraguai, dentre outros países. Entretanto, ainda há muito o que fazer e a ser melhorado nesta questão. Por outro lado, o crescimento da demanda colocou em evidência um desequilíbrio da existência de fibras e seu eventual estoque, versus uma demanda crescente pela instalação e anúncio de novos projetos, envolvendo megas investimentos, com características cada vez mais evidentes de diversificação na produção.

Isto destaca a necessidade de se dispor de superfícies de plantações maiores em um curto prazo, em relação à maturação dos mesmos e poder assegurar as disponibilidades de fibra em seus diferentes estados, para esta crescente demanda. Isto é muito animador para os que investem na criação de florestas produtivas. Como elemento adicional à conjuntura, está se instalando no mercado a possibilidade ou necessidade do uso alternativo da fibra ou das plantações para a cogeração de energia elétrica e a produção de biocombustíveis.

Isto gera uma pressão adicional sobre a demanda da fibra vegetal. Outra questão é a real possibilidade de mitigação do efeito estufa, gerando para as empresas um balanço positivo entre o seqüestro de carbono e a emissão de poluentes. Isto cria uma real agregação de valor às plantações, contribuindo para a rentabilidade do negócio.

Este cenário é realmente promissor para florestas plantadas com espécies de rápido crescimento, mas temos como desafio, para o futuro, dar equilíbrio a este negócio, com os conceitos de triplo resultado, para que seja validado pela sociedade. Neste sentido, deveremos ser visionários e repensar o que realizamos até hoje, que embora bem-sucedido, começa a mostrar algumas necessidades que requerem atenção.

Por requerer grandes extensões de terras, devemos refletir se esta atividade está afetando ou poderá vir a afetar o equilíbrio do sistema. Devemos investir constantemente em estudos e investigação, que permitam assegurar baixo impacto e equilíbrio ao ambiente, com a manutenção da biodiversidade, a regulação do ciclo hídrico, a diversificação de espécies, o cuidado com o solo, a variabilidade da paisagem, bem como dos efeitos e impactos que se tem sobre a população das comunidades dos arredores e das regiões locais.

Concluindo, os investidores em plantações de florestas, que serão bem-sucedidos no futuro, são os que forem, ao mesmo tempo, capazes de administrar e executar, em equilíbrio, as principais diretrizes do negócio, permitindo manter a rentabilidade, de acordo com o investimento realizado e a sustentabilidade social e ambiental do projeto.