Me chame no WhatsApp Agora!

Sergio Ricardo Bentivenha

Gerente de Tecnologia Florestal Suzano

Op-CP-57

Manejo economicamente atraente
A presença de gemas nos tocos remanescentes, após a colheita das árvores, possibilita ao eucalipto a emissão vigorosa de novas brotações e o estabelecimento de uma nova floresta. A esse sistema silvicultural denomina-se “talhadia”.
 
O rápido crescimento inicial na talhadia, e consequente cobertura do solo, advém do fato de os tocos já possuírem um sistema radicular estabelecido e com reservas, possibilitando prover adequadamente água, carboidratos e nutrientes para as brotações jovens. Esse vigor de crescimento reduz os riscos, e os custos, da fase inicial de uma floresta estabelecida com mudas, as quais possuem um sistema radicular restrito e menor ritmo de crescimento. A talhadia é, assim, mais resiliente e possui menor custo de formação, comparativamente ao plantio de uma nova floresta (reforma).
 
Esse menor custo advém do fato de a talhadia não requerer operações intensivas e onerosas, como o rebaixamento de tocos, o preparo de solo, o plantio das mudas, o replantio, as irrigações e o uso maior de herbicidas pré-emergentes. Pode-se afirmar que as reduções no custo de formação florestal com a talhadia é de 50%, ou mais, comparativamente à reforma da mesma área.
 
Contudo, para que a talhadia tenha pleno êxito de estabelecimento, há necessidade de uma criteriosa observância de procedimentos operacionais, pré, durante e pós-colheita, para garantir a qualidade e a produtividade final das brotações. Apesar disso, existe uma tendência natural de nós técnicos nos preocuparmos mais com os plantios realizados na reforma ou implantação, uma vez que eles apresentam maior investimento inicial e são mais sensíveis às intempéries ambientais. 
 
Nas empresas de base florestal, normalmente menos de 30% da área de eucalipto colhida anualmente é conduzida por talhadia. Considerando que ela é um manejo tão eficiente e vantajoso, pode-se perguntar: por que esse percentual não é maior?  
 
Existem, basicamente, dois fatores principais que tendem a limitar o aumento das áreas conduzidas por talhadia no Brasil. A primeira condição está relacionada à necessidade de substituição dos genótipos atuais por materiais com maior resistência a pragas e a doenças, com maior produtividade ou com melhor qualidade de madeira para os fins industriais. O segundo aspecto diz respeito à qualidade da floresta a ser conduzida, pois, para viabilizarmos a condução de brotação, é preciso que, ao final da rotação, ela tenha adequada sanidade, sobrevivência e produtividade.
 
O crescimento das florestas depende do potencial genético aliado às disponibilidades de água, nutrientes e luz, considerando que o recurso luz não é limitante, e, mantidas as mesmas condições hídricas, nutricionais e de proteção da floresta contra ervas, pragas e doenças, a capacidade produtiva da brotação será a mesma que a do plantio anteriormente realizado, desde que se mantenha a ocupação do sítio (árvores/ha).
 
Contudo garantir a produtividade das áreas manejadas em segunda rotação não é tarefa simples. A talhadia é um processo que envolve muitos elos da cadeia produtiva, exigindo alto nível de controle e cooperação entre as áreas de interface da silvicultura e da colheita. Se um dos elos se rompe, teremos algum impacto para a qualidade e a produtividade das brotações.
 
Entre os fatores que mais impactam a produtividade da brotação, podemos destacar a sobrevivência do plantio, a altura de corte, os danos e o sombreamento das cepas, a ocorrência de pragas, as doenças e a matocompetição e a qualidade do manejo silvicultural adotado.   
 
O sucesso no manejo da brotação começa no planejamento do plantio da área. A definição do espaçamento e do arranjo de plantio, de forma a maximizar o aproveitamento da luz e a redução dos riscos ambientais, é de fundamental importância para garantir a manutenção da produtividade florestal e viabilizar a mecanização das operações nas duas rotações. Para a escolha do material genético, além dos parâmetros usuais de seleção, também se faz necessário conhecer a capacidade de emissão e estabelecimento de novas brotações desses materiais.
 
Já na fase pré-colheita, o processo de seleção das áreas que serão conduzidas precisa ser criterioso, reduzindo os riscos que uma má escolha poderia causar. Não basta confiar a análise apenas em números e banco de dados. É preciso colocar o capacete e validar no campo, efetuando-se o microplanejamento de colheita e pós-colheita. 
 
Sistemas e critérios de colheita e baldeio que permitam uma boa e adequada emissão de brotos também são fundamentais para o sucesso da talhadia. Adequar a altura de corte, bem como evitar a ocorrência de danos mecânicos e o sombreamento das cepas por resíduos, de forma a garantir quantidade e qualidade de brotos, são aspectos importantes e que devem ser considerados no processo de colheita da área. A remoção da madeira do interior dos talhões deve ser feita ainda quando as cepas não iniciaram a emissão de novas brotações, de forma a evitar danos oriundos do tráfego de máquinas.
 
Vencidas as fases de colheita, e garantindo-se boas brotações, há necessidade de uma fertilização que forneça macro e micronutrientes, cuja dose depende da fertilidade do solo, da quantidade de resíduos deixada pela rotação anterior e que deve ser ajustada para as expectativas de produtividades. Assim, solos pouco férteis, em locais com bom aporte hídrico, onde se esperam maiores produtividades, irão requerer mais fertilizantes que solos mais férteis ou em áreas com baixa disponibilidade hídrica.
 
Com o objetivo de selecionar os brotos que serão conduzidos, a atividade de desbrota, feita antes de 1 ano, também permite a compensação de falhas e o reestabelecimento da quantidade de fustes inicialmente plantados no talhão. Assim, essa prática permite recuperar, dentro de certos limites, plantios que apresentaram uma ligeira redução na sobrevivência do plantio.
 
Ainda, durante todo o ciclo de crescimento, precisamos estar atentos para a rápida detecção, monitoramento e controle das pragas e doenças e da matocompetição. Formigas cortadeiras chegam a representar uma redução de até 50% na produtividade das brotações, com apenas um corte. Nesse sentido, o monitoramento através de imagens e campo é essencial para identificarmos com precisão e agilidade eventuais desvios. 
 
Para obtermos um salto de desempenho no manejo de brotação, o primeiro passo é reduzir a variabilidade e a instabilidade do processo. Os diversos elos da cadeia, bem como a exposição ambiental, tornam esse controle ainda mais desafiador. E não podemos esquecer que as empresas são formadas por processos e pessoas, sendo fundamental a definição de metas compartilhadas entre as áreas e a existência de um programa contínuo de educação florestal, de forma a conscientizar e capacitar toda a cadeia produtiva. 
 
A talhadia é uma vantagem competitiva que o eucalipto nos oferece e que ainda precisa ser mais bem explorada. Trata-se de uma estratégica de manejo ecológica e economicamente eficaz e não apenas uma opção para reduzirmos os custos de produção, em momentos de restrição financeira. Em um negócio florestal, sempre teremos situações onde a reforma se fará necessária. O desafio, no entanto, é aumentar de forma paulatina e planejada as áreas aptas para a talhadia, onde temos um manejo mais econômico, eficiente e com a possibilidade de manutenção da capacidade produtiva, reduzindo o custo final de nossos produtos e aumentando nossa competitividade.
 
Nota-se, finalmente, que a opção entre talhadia e reforma é baseada em uma matriz de decisão que requer conhecimentos precisos das respostas da talhadia ao manejo. Assim, uma rede experimental de talhadia está sendo instalada na Suzano para que haja aumento do know-how sobre a interface Talhadia x Manejo x Clone x Região, com consequente aumento de precisão da matriz de decisão.