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Antonio Cláudio Davide

Professor de Silvicultura da UF de Lavras

Op-CP-03

Evolução do processo de produção de mudas de eucalipto no Brasil

Mudas de qualidade superior, capazes de um rápido e vigoroso estabelecimento no campo, com capacidade de originar uma floresta com alta produtividade e qualidade adequada da madeira, são resultantes dos atributos genéticos das sementes ou propágulos vegetativos utilizados e dos tratos silviculturais empregados no viveiro.

Atualmente, isso parece óbvio para o setor florestal, mas, se voltarmos para o ano de 1975, veremos que houve uma rápida evolução no processo de produção de mudas de eucalipto. Nesta época, em visita ao viveiro florestal de uma grande empresa do setor de celulose e papel no estado de São Paulo, o cenário era: utilização de sementes originadas de áreas de coletas ou raramente de áreas de produção, aliadas a centenas de pessoas amassando barro e confeccionando torrões paulistas, trocando solo e fumigando sementeiras, realizando semeadura em sementeiras, repicando mudas para os torronetes..., era a tecnologia de ponta da época, juntamente com os sacos plásticos.

Nesse período, vi também, em empresas reflorestadoras, o plantio de mudas, produzidas em copinhos de jornal e até em pequenos torrões, confeccionados na palma da mão, e acondicionados em cestas de bambu: era a extrema falta de qualidade morfofisiológica e genética das mudas, resultando em florestas desuniformes e de baixa produtividade. Esses fatos teriam que acontecer, pois estávamos criando a silvicultura nacional.

Não havia materiais genéticos adaptados aos ambientes específicos e nem tecnologia de produção de mudas envasadas, já que os países com tradição florestal produziam mudas de raízes nuas. Trabalhando na vertente da qualidade genética, nas últimas 4 décadas, foram realizadas introduções e reintroducões de espécies, procedências e progênies de eucalipto, contando com o trabalho e interação de universidades, instituições de pesquisa e empresas florestais.

A adoção das técnicas de clonagem, a partir do início da década de 1980, permitiu capturar o ganho máximo adquirido no processo de seleção. Passamos de incrementos de 5m3/ha/ano, para 70m3/ha/ano em talhões monoclonais, recentemente implantados. O processo de clonagem de materiais superiores necessita da constante retroalimentação do processo de melhoramento, através da hibridação artificial, introdução de novos materiais e outras técnicas, como as de biologia molecular, apoiadas pelo projeto genoma do eucalipto.

É certo que já não teremos ganhos tão significativos em volume nas próximas gerações de seleção, mas podemos e devemos trabalhar na qualidade da madeira, resistência a pragas e doenças, resistência ao déficit hídrico, etc. Só para exemplificar, nos últimos anos, estamos vendo árvores de clones selecionados para alta produtividade de celulose e baixos teores de lignina tombarem ou quebrarem pela ação do vento, assim como a ação devastadora do ataque do psilideo-de-concha, em clones originados, principalmente, de E.tereticornis e E. camaldulensis.

Considerando a meta do PNF de atingirmos 600.000 ha de plantio de florestas em 2007 e que 90% delas serão de eucalipto, teremos a necessidade de produzir aproximadamente 1 bilhão de mudas/ano. Quase metade destas mudas serão plantadas em propriedades rurais, com recursos de programas de fomento das empresas florestais, financiamentos do governo e recursos próprios.

Seria muito interessante que esses agricultores pudessem ter acesso a clones, que permitissem usos múltiplos da madeira, capazes de atender à indústria de celulose e ao setor de madeira processada. Além de atender ao mercado futuro de madeira para outros usos, obrigaria o agricultor a manejar sua floresta, fazendo com que esta cumpra, não somente o papel de floresta de produção, mas também suas funções ecológicas, inclusive aquelas hidrológicas, tão visadas por vários segmentos da sociedade.

Sabemos que conduzir florestas sobre o regime de corte raso é mais simples e traz retorno econômico mais rápido, mas precisamos refletir sobre as funções da floresta na propriedade rural e no abastecimento de madeira serrada, que não seja originada somente da Amazônia. Quanto às técnicas silviculturais empregadas no processo de produção, que contribuem para a qualidade das mudas, é inegável que a adoção dos tubetes, as técnicas de clonagem como a estaquia, microestaquia e miniestaquia, a nutrição do mini-jardim clonal e das mudas, densidade de mudas e aclimatacão ou rustificacão, são os principais aspectos que devem ser considerados na produção de mudas de eucalipto.

Os tubetes, além de facilitar todas as etapas do trabalho, com redução no custo final da muda, permitem também obter mudas sem raízes enoveladas, que era um dos grandes problemas do saco plástico, além de permitir a alteração na densidade de mudas, sem alterar o volume do recipiente. Recentemente, mudas de tubetes têm sido plantadas mecanicamente: essa era a grande vantagem das mudas de raízes nuas.

O processo de clonagem por mini-estaquia está permitindo que pequenos viveiros, com capacidade de 1 a 5 milhões de mudas/ano, estejam sendo implantados por pequenos investidores, em varias regiões do Brasil. Isto torna possível o acesso a mudas com alta qualidade, por parte dos produtores rurais.

Dentro do processo de mini-estaquia, 3 fatores ainda carecem atenção especial: a nutrição do mini-jardim clonal, o “efeito C”, ou efeito da clonagem, e os problemas relacionados à arquitetura de raízes. Tivemos um enorme avanço na tecnologia de produção de mudas de eucalipto, mas isso não pode nos levar a uma acomodação. Novas técnicas que permitam redução de custo e aumento na qualidade devem ser buscadas.