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Carlos Frederico Wilcken

Professor de Entomologia Florestal e Diretor da FCA/Unesp - Campus de Botucatu e Líder do Protef/IPEF

Op-CP-50

Controle biológico de pragas exóticas
O Brasil tradicionalmente tem altos índices de produtividade das plantações florestais de eucalipto sendo referência a nível mundial, com incremento médio anual (IMA) entre 35 a 40 m3/ha/ano e potencial para 50 a 60 m3/ha/ano. Entretanto, a produtividade potencial é difícil de ser atingida por vários fatores, entre eles o ataque de pragas e doenças. 
 
Com relação às pragas, há as pragas nativas, sendo as principais as formigas cortadeiras, de ocorrência generalizada no Brasil, os cupins e as lagartas desfolhadoras. Além das plantações de eucalipto sofrerem com o ataque dessas e outras pragas nativas, há também a ocorrência de pragas exóticas ou invasoras. 
 
As principais pragas exóticas do eucalipto que foram introduzidas no Brasil são o psilídeo-de-concha (Glycaspis brimblecombei) em 2003, o percevejo-bronzeado (Thaumastocoris peregrinus) e a vespa-de-galha (Leptocybe invasa), ambos em 2008, e o gorgulho-do-eucalipto (Gonipterus platensis), em 1955.

Essas pragas já causaram e ainda causam muitos danos aos plantios de eucalipto, como redução expressiva da produtividade, variando de 15 a mais de 30% a menos no volume de madeira colhida em áreas atacadas. Além disso, as três primeiras pragas foram responsáveis por limitar os plantios com Eucalyptus camaldulensis e seus híbridos, sendo esses materiais os mais utilizados para regiões com déficit hídrico e para produção de carvão vegetal. 
 
A principal estratégia de manejo das pragas exóticas do eucalipto é o controle biológico clássico, com a importação de inimigos naturais da região de origem dessas pragas, a Austrália. Para o psilídeo-de-concha, em 2004 foi introduzido o parasitoide de ninfas Psyllaephagus bliteus. Após 13 anos das primeiras liberações desse inimigo natural, foi verificado o estabelecimento do parasitoide por todas as regiões produtoras.  
 
Nas áreas de eucalipto das regiões Sul, parte do Sudeste e nas regiões costeiras do Sudeste e Nordeste, as populações têm se mantido baixas, com índices de parasitismo relativamente altos. Entretanto, nas regiões com período de seca longo (acima de 60 dias), como parte de SP, e nos estados de MG, MS, GO, MT, TO, MA e PI, as plantações de eucalipto ainda sofrem surtos de psilídeo-de-concha, pois o inimigo natural é afetado por altas temperaturas e baixa umidade relativa.

Liberações mais frequentes de P. bliteus ajudam a aumentar o parasitismo, mas a criação massal do parasitoide ainda é um desafio. Nas regiões com altas infestações, há a utilização de métodos complementares de controle, como aplicação de inseticidas biológicos à base de fungos entomopatogênicos ou mesmo de inseticidas químicos. Porém, com resultados inconsistentes em alguns casos.
 
O controle biológico do percevejo-bronzeado é o que tem demonstrado melhores resultados. Essa praga, detectada em 2008, teve grandes surtos entre 2011 a 2014, causando perdas médias de 15% no volume de madeira e prejuízos acima de R$ 1 bilhão. O parasitoide de ovos Cleruchoides noackae, introduzido em 2012, foi liberado em 7 estados brasileiros e está estabelecido em quase todas as regiões produtoras. 
 
Nos levantamentos anuais de ocorrência de pragas e doenças florestais, feitos pelo Protef – Programa Cooperativo sobre Proteção Florestal, do Ipef, o ano de 2012 foi o pior, com aproximadamente, 245.000 ha atacados pela praga. Em 2015, ou seja, três anos após a introdução do inimigo natural, a área infestada reduziu para 46.000 ha no Brasil. 
 
A taxa de parasitismo tem aumentado desde a sua introdução, atingindo a 89% de parasitismo em 2017. É esperado o controle da praga para os próximos dois anos, com o retorno do nível de produtividade do período anterior da entrada da praga. O gorgulho-do-eucalipto, apesar de estar presente no País há mais de 60 anos, voltou a ser praga-chave, principalmente nos estados de SP e PR, com mais de 20.000 ha infestados anualmente no período 2015-16.

Apesar de o inimigo natural, o parasitoide de ovos Anaphes nitens, ter sido introduzido junto com a praga no RS e ter se disseminado até SP junto com seu hospedeiro, o inseto voltou à condição de praga desde dezembro de 2012, com taxas de parasitismo relativamente baixas, entre 30 a 60%, quando a taxa esperada é acima de 90%. As causas dessa redução nos níveis de parasitismo ainda estão sendo estudadas. A criação massal e as liberações frequentes têm ajudado a reduzir as populações do gorgulho-do-eucalipto. 
 
Métodos complementares como bioinseticidas à base de fungos e de B. thuringiensis, além de pesquisas com nematoides entomopatogênicos podem auxiliar no sucesso do controle biológico dessa praga. A vespa-da-galha também teve seu inimigo natural, o parasitoide Selitrichodes neseri, introduzido em 2015, vindo da África do Sul.

O parasitoide já foi liberado em 8 estados e está estabelecido em SP, MG e BA. As avaliações de parasitismo em campo estão ainda em andamento. O controle biológico tem demonstrado ser efetivo para o controle de pragas florestais, como está sendo o caso do percevejo-bronzeado. Entretanto, para o psilídeo-de-concha e o gorgulho–do-eucalipto, em algumas regiões ainda não se conseguiu o resultado esperado. Pode ser necessário introduções de novas raças dos parasitoides ou de novas espécies.

Porém, houve alterações na legislação de importação e exportação de inimigos naturais em 2015 e isso tem complicado a realização das importações, além de todos os estudos de seletividade necessários para comprovar a biossegurança dos parasitoides importados. Apesar dos obstáculos, o controle biológico ainda é a melhor opção de manejo, pois é bem aceita pelos sistemas de certificação florestal, pelo mercado e pela sociedade em geral, além de manter a produtividade florestal com baixo impacto ambiental.