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Roberto Carlos Alves e Christiana de Castro Ferreira Alves

Fomentados

Op-CP-37

A vida, na prática, de um fomentado

O município de São João Evangelista – assim como grande parte do Vale do Rio Doce – foi profundamente castigado pela destruição da mata atlântica na exploração de madeiras nobres, para produção de carvão siderúrgico e pastagens “manejadas com fogo”, no início do século XX. Em conversa com um produtor de eucaliptos de Itamarandiba, Vale do Jequitinhonha, ele relatou uma previsão que seu avô fizera nos anos 1960: "em pouco tempo, não haveria, naquela região de cerrado, madeira para se construir uma casa, devido ao corte das árvores de maior porte".

Esse cenário crítico se inverteu a partir da década de 1970: nessas duas regiões, surgiu a exploração de florestas de eucaliptos, pelas empresas Cenibra e Acesita Energética (hoje Aperam Bioenergia). Os produtores rurais absorveram dessas empresas estímulo, apoio e tecnologia e passaram a produzir grandes quantidades de madeira para celulose, carvão vegetal, construção civil e rural.

É confortante ver na região uma quantidade enorme de construções feitas com madeira de elevada qualidade, cultivada na região, sem depender do desmatamento de florestas nativas de regiões distantes, numa feliz contradição àquela sensata previsão do velho senhor de Itamarandiba. Na nossa propriedade, temos a satisfação de morar numa casa construída com madeira 100% cultivada, produzida na nossa propriedade.

O ponto alto dessa influência na nossa região é, sem dúvida, o Fomento Florestal Cenibra, que teve início em 1985 e conta, na atualidade, com mais de 30.500 ha de florestas plantadas, o que ampliou a base de fornecimento de madeira para a indústria e gera oportunidades para os produtores rurais. Mais relevante do que ceder insumos e comprar madeira, esse projeto contribui para que os produtores rurais recuperem a autoestima, criem uma visão de longo prazo, aprendam gestão, ganhem dinheiro e façam a própria inclusão tecnológica, ambiental, fiscal e social.

Nós plantamos eucaliptos desde 1992. Iniciamos o projeto de fomento florestal em 2003, quando também começamos a instalar apiários nas propriedades da empresa, por meio de parceria apícola com as Associações de Apicultores da região. Relendo um artigo que escrevi há oito anos para a Revista Opiniões, constatamos que, nesse tempo, muitas mudanças ocorreram na nossa propriedade: a área de 24 hectares de eucaliptos plantados pelo fomento foi colhida, reconduzida no mesmo formato e ampliada para 68 hectares; os filhos que, na época apareciam na fotografia no artigo da revista, alcançaram a maioridade e estão cursando Biologia e Engenharia Florestal na Universidade Federal de Viçosa; estamos ampliando a apicultura de 250 para 500 colmeias; em 2016, acontecerá nova colheita de eucaliptos; e, principalmente, a vida melhorou muito!

No presente, vivemos ainda sob a influência da crise mundial de 2008, que, associada a uma percepção equivocada do governo brasileiro, desacelerou os investimentos também no plantio de florestas. Assim, 2015 será, inevitavelmente, o início de um novo ciclo de austeridade econômica, para quitar as contas da gastança dos governos e da corrupção ocorrida nos últimos anos e para voltar a atenção para a criação de infraestrutura.

Longe do ufanismo irresponsável e do pessimismo doentio, deve-se tomar emprestada a visão de brasileiros notáveis, como Antônio Ermírio de Morais, Israel Klabin, José Pastore e outros, para constatar que, após todas as crises registradas na história da humanidade, o mundo sempre ficou melhor. Isso é verdade. Assim sendo, a recuperação da economia mundial e da credibilidade do Brasil é uma questão de tempo, o que aponta para a necessidade de nos prepararmos para um novo ciclo de crescimento.


O planejamento de longo prazo, as reformas essenciais para o funcionamento do País, a reestruturação territorial e a abertura para o capital externo são desafios urgentes para os próximos governantes, para que o País volte aos trilhos do desenvolvimento – e para que o setor florestal encontre segurança. É dessa forma que nós, pequenos e grandes empreendedores do setor florestal, teremos um cenário positivo, para acreditarmos no futuro desta nação e fazermos os investimentos que o desenvolvimento requer.

Em busca do melhor cenário para os produtores rurais – fomentados e candidatos ao fomento florestal –, desejamos:
Segurança: confiança de que a terra continuará à disposição do processo produtivo, em clima de paz e prosperidade no meio rural, como resultado da melhoria da educação, do crescimento econômico e da distribuição de renda que leve em consideração também o mérito das pessoas, pois os conflitos agrários que ocorrem noutras regiões podem, com o tempo, nos atingir.
Desburocratização: melhoria do ambiente de negócios, pela simplificação e agilização dos processos necessários aos licenciamentos e autorizações para implantar, conduzir, colher e comercializar as florestas. É um cipoal de leis e documentos que o produtor rural deve adquirir, com pouca disposição dos órgãos governamentais para os emitir.
Legislação trabalhista: reforma da legislação trabalhista para atender à elevada demanda de mão de obra da produção florestal, considerando as justas demandas do trabalhador e as especificidades do processo produtivo, sob responsabilidade do empregador. Devemos nos prevenir para o “apagão da mão de obra”, que só não chegou de fato por causa da crise mundial de 2008.
Infraestrutura: ampliação das estradas antigas, construção de novas estradas e retomada das ferrovias, para preservar a competitividade original dos produtos. A exploração florestal demanda logística complexa e, em muitos casos, a ampliação das estradas para retirar madeira das fazendas depende do apoio financeiro da Cenibra.
Apoio: ampliação das linhas de financiamento governamental e abertura para que novos empreendimentos florestais possam ser implantados com capital externo. O crescimento dos grandes empreendimentos florestais, bem como a criação de novos empreendimentos, demanda mais fomento florestal, mais produtores rurais no processo e gera mais oportunidades.

Consolidando esse cenário desejável, o plantio de florestas pelo fomento florestal, por financiamento governamental ou com recursos próprios, contribuirá fortemente para o desenvolvimento do País. Depois do ciclo de distribuição de renda ocorrido por mais de uma década, o nosso país necessita de uma injeção de investimentos em produção que sustente a elevação da expectativa de nível de vida dos brasileiros.

Especificamente na nossa região, a dependência que a maioria dos municípios tem da transferência de recursos do Governo Federal precisa ser substituída pelo desenvolvimento da economia local. A violência é uma marca inquestionável da estrutura social brasileira e gera enormes reflexos negativos na organização do trabalho e na produção.

Portanto investimento na produção é parte da solução dos problemas sociais, por oferecer ocupação e renda para as pessoas que estão inseridas numa sociedade de consumo. A desocupação de pessoas é significativa nas nossas cidades, e isso é uma ameaça social. Do lado ambiental, a ampliação da moderna produção florestal brasileira pode contribuir ainda mais para a preservação de áreas de elevado valor ecológico, para o aumento do valor ecológico das áreas atualmente preservadas e para a recuperação de áreas degradadas, convertendo-as em áreas produtivas e de preservação.

É importante salientar que a paralisação do processo de degradação dos solos e a recuperação da degradação existente exigem investimentos elevados, que podem ser absorvidos pela implantação de florestas de eucaliptos – é a atividade econômica contribuindo para a melhoria ambiental. O setor florestal brasileiro, do qual nós fomentados orgulhosamente fazemos parte, está consciente da sua parcela de responsabilidade para o desenvolvimento do Brasil e sabe que, “no caminho da perfeição, não avançar é retroceder”.