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Iraê Amaral Guerrini

Professor de Manejo de Solos com Resíduos da Unesp-Botucatu

Op-CP-14

Uso de resíduos urbanos e industriais como fonte de nutrientes e condicionadores do solo

Nas últimas décadas, a intensidade da degradação ambiental tem crescido de forma assustadora e tem sido alvo de preocupação por parte de pesquisadores e governos de todos os países, uma vez que a conseqüência direta desse processo é a degradação generalizada dos ecossistemas e o empobrecimento da população que deles depende.

A inescrupulosidade de certas empresas - ou das pessoas que as dirigem, e do povo de uma forma geral, tem provocado grandes danos ao ambiente e à saúde pública. Isso não depende do grau de escolaridade, do poder aquisitivo e da raça das pessoas, mas do seu grau evolutivo. O ato de jogar uma lata de cerveja ou um papel de bala da janela de um carro é equivalente ao de despejar esgotos em um rio.

A atitude é a mesma, embora as conseqüências sejam diferentes. Entretanto, como a evolução é a meta do universo, imagina-se que no futuro - espera-se, não muito distante, o Homem conscientize-se do seu fundamental papel na preservação ambiental e, consequentemente, na construção de um mundo melhor. A produção de resíduos urbanos é cada vez maior no Brasil.

Cerca de 52,2% dos municípios têm esgotamento sanitário, sendo que 32% têm serviço de coleta e apenas 20,2% do esgoto doméstico é coletado e tratado. Com a tendência de crescimento nesses números, devido à conscientização do povo e conseqüente pressão sobre o governo, certamente haverá, cada vez mais, uma sobra em águas residuárias e lodo - biossólido.

A produção de lixo doméstico por pessoa é, em média, cerca de 1 kg de lixo por dia - varia de 0,8 a 1,2 kg/dia, em função do tamanho do município, sendo que 70% desse material é levado aos aterros sanitários ou lixões, os quais, nos grandes centros, já estão no limite de suas capacidades de recepção. Portanto, deve-se procurar alternativas que utilizem esses resíduos de forma ambientalmente correta e, se possível, com baixo custo.

Quanto aos resíduos industriais, a produção também é crescente. Por exemplo, em fábricas de papel e celulose produz-se cerca de 151 kg de resíduo sólido por tonelada de celulose, sendo, em média, composto por 24% de cascas, 22% de lama de cal, 17% de lodo de tratamento de efluente, 14% de dregs e grits e 11% de cinzas.

Em siderurgias, produz-se cerca de 250 kg de escória por tonelada de ferro-gusa. Também nesses casos, há a necessidade de se procurar melhores formas de utilização, do que simplesmente seu descarte em aterros industriais. A utilização dos diversos resíduos urbanos e industriais com finalidades agrícolas e florestais torna-se uma das melhores formas de aproveitamento desses materiais, uma vez que por possuírem elementos nutrientes, podem servir como fertilizantes químicos e/ou orgânicos, além de também serem usados como condicionadores de solo, melhorando suas características físicas.

Existem diversas pesquisas que comprovam esses fatos. Entretanto, também podem conter patógenos e elementos - metais pesados, sódio, etc, que, em quantidades excessivas, podem se tornar prejudiciais ao desenvolvimento das plantas e/ou ao ambiente e, portanto, necessitam de monitoramento após sua aplicação.

Apesar de existir a possibilidade desses efeitos negativos, a utilização desses resíduos em áreas agrícolas e florestais é fundamental para a redução da poluição ambiental, assim como para a redução de gastos com fertilizantes químicos, bastando, para isso, o uso de forma adequada e monitorada. Os plantios florestais são mais adequados para a recepção desses materiais em relação às áreas agrícolas, uma vez que seus produtos não são comestíveis, têm menor contato humano, apresentam serapilheira - maior infiltração e retenção de nutrientes, e ciclo mais longo das culturas, com maior intervalo de aplicação e maior eficiência de absorção de nutrientes.

Portanto, em tempos de aumento da consciência ambiental da humanidade, o uso dos resíduos industriais e urbanos como fertilizantes orgânico/minerais, especialmente em plantios florestais, traz muitos benefícios, não só ao ambiente, mas também às empresas, à população e ao planeta. As empresas que reciclam seus resíduos e os utilizam de forma adequada já estão obtendo vantagens econômicas e facilidades na comercialização de seus produtos, especialmente a nível internacional. Não se admitem mais o descarte aleatório e a contaminação ambiental proporcionados pela imprudência de certas pessoas e empresas. Se não estamos contentes com o que vemos hoje e queremos melhorar o futuro, precisamos mudar agora. É só dar o primeiro passo, que os outros virão como conseqüência.