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Leonardo Klabin

Diretor da MecPrec

Op-CP-03

A produção de mudas florestais

Quando comecei a trabalhar com formação de mudas, há 20 anos, só existia no Brasil o torrão paulista, a sacolinha plástica e o laminado. Hoje, 70% das mudas de pinus e eucaliptos são produzidas em tubetes, 5% em torrão paulista, 15% em sacolinha plástica e 10% em laminado. Atualmente, são produzidas 1,2 bilhões de mudas no Brasil, sendo 70% eucaliptos e 30% pinus.

As grandes empresas do setor siderúrgico, de papel e celulose, têm viveiros tão sofisticados quanto os melhores da Europa, Canadá, Estados Unidos, África do Sul, Austrália e Chile. Destaca-se que o mais sofisticado viveiro do mundo está no Brasil. Existem diversos tipos de viveiros, dos mais rudimentares, até os mais sofisticados, com todo tipo de mecanização, máquinas de encher tubete com substrato, máquina de semear, adubo de liberação lenta, irrigação e fertirrigação controlados por computador, até mesmo em viveiros de fundo de quintal, geridos pela unidade familiar.

O setor que mais consome mudas é o das empresas que plantam eucaliptos com fins energéticos, em seguida os produtores de papel e celulose, depois lenha, os moveleiros e os de uso múltiplos. As grandes empresas em geral têm seus próprios viveiros, porém hoje a demanda por muda está tão aquecida que mesmo essas empresas estão comprando mudas nos viveiros independentes.

Como em todas as atividades econômicas, o setor é regido pela demanda, as grandes empresas exigem mudas de qualidade, portanto, os viveiros que as produzem devem ter tecnologia, gerência, sementes ou clones com procedência, assepsia, ausência de patógenos e custos compatíveis. Hoje, no mercado de mudas, pode-se encontrar facilmente mudas de torrão paulista, sacolinha plástica ou laminado com preço entre R$ 75,00 e R$ 80,00, o milheiro.

Os viveiros que produzem mudas em tubetes estão vendendo mudas de sementes com preços que variam entre R$ 120,00 e R$ 190,00, dependendo do preço e procedência da semente. Já as mudas de clone são vendidas com preços que variam de R$ 250,00 a R$ 400,00 o milheiro, dependendo do enraizamento do clone, sua procedência e espécie.

Quem compra uma muda de torrão paulista, sacolinha plástica ou laminado são pequenos colonos que não tem conhecimento técnico e não estão preocupados com a produtividade. Possuem aquelas árvores para lenha ou uso doméstico, geralmente em áreas acidentadas, onde não poderiam cultivar mais nada. Nos últimos 10 anos, proliferou um número enorme de pequenos viveiristas, que produzem mudas em tubetes e as vendem para fazendeiros, que, na maioria, não sabem distinguir uma muda de qualidade que vai gerar uma árvore produtiva, de uma muda produzida com semente ou clone de procedência desconhecida, que vai gerar uma floresta de baixa produtividade.

Os viveiros de sacolinha, laminado ou torrão, são geridos, geralmente, pela unidade familiar, não usam substratos, as sementes geralmente são coletadas nas plantações das grandes empresas, os containeres são colocados em caixas de madeira com 100 unidades e sem nenhum padrão. Numa mesma caixa pode ter muda de 0,60cm, com colo de 3 mm, até mudas de 0,15 cm, com colo de 1,5 mm.

Um bom viveiro de tubetes tem máquinas para automação de lavagem de tubetes e bandejas, colocação de substrato nos tubetes, cobertura do conjunto, carrinho para transporte das bandejas para estufa, com plástico, sombrite, irrigação, pátio de crescimento e rustificação com fertirrigação automatizados, área de expedição de mudas. Um viveiro de sementes bem gerenciado deve trabalhar com 1 homem para cada 500 mil mudas, e um viveiro clone, com 1 homem para cada 100 mil mudas.

É recomendável que os tubetes e bandejas não saiam do viveiro. Para isso, é necessário que essas mudas sejam despachadas em rocambole, em caixas de plásticos ou papelão. Quando os tubetes vão para o campo, 20%, em média, não voltam ou estão danificados ou trocados e ainda existe o risco real de voltarem contaminadas por fungos ou bactérias.

Existem novas pesquisas, sobretudo na área de tubetes biodegradáveis. Até o momento nenhuma com resultados passíveis de torná-los viáveis, porém existe um nicho para esse tipo de tubete, que é o fomento, prefeituras e programas de revegetação para aqueles que não retornam. Na minha opinião, o futuro do setor será o seguinte: as grandes empresas vão suprir suas necessidades de mudas, com viveiros cada vez mais sofisticados e materiais genéticos de sua procedência.

O fomento deverá ser cada vez maior e será suprido por mudas de viveiros certificados com material genético, oriundo das grandes empresas, que têm pesquisa. Os fazendeiros estão se conscientizando da necessidade de uma maior produtividade e, conseqüentemente, deverão exigir qualidade das mudas. Os pequenos ou aqueles que não se atualizarem tecnologicamente deverão desaparecer em função da qualidade, já que não têm condições de oferecer mudas com material genético certificado, substrato com qualidade, formação do sistema radicular, colo do caule e ausência de patógenos.

Esses viveiros sempre vão ter preços muito baixos, já que não pagam encargos sociais, EPI e compram seus equipamentos e insumos sem recolher os tributos. Vejo o setor com muito otimismo, porque o Brasil tem todas as condições de crescer com a silvicultura e a produção de mudas é o primeiro elo da cadeia produtiva. É necessário que as pessoas envolvidas tenham compromisso com a qualidade das mudas, já que para termos uma floresta de qualidade é importante que a muda seja produzida com responsabilidade, carinho, tecnologia e gerenciamento. O viveiro é uma maternidade, nenhum de nós vai querer que um filho nosso tenha seus primeiros meses de vida num lugar desconfortável ou insalubre.