Me chame no WhatsApp Agora!

Rudolf Woch

Diretor da Apoiotec

Op-CP-35

Manejo de plantas daninhas em florestas plantadas

Diferentes trabalhos demonstram a interferência das plantas daninhas na produção florestal. As interferências ocorrem por competição, alelopatia, dificuldades na colheita, hospedagem de pragas e doenças, entre outros. Em função do material genético, da comunidade infestante, do clima e da região, os períodos críticos de convivência das florestas com as plantas daninhas podem variar muito.

Alguns trabalhos apontam o início do período crítico aos 14 dias, outros, aos 120 dias após o transplante das mudas, ao passo que o final do período varia entre 107 e 360 dias. Como a quantidade de variáveis é muito grande, de modo geral, os melhores resultados de produtividade estão nas áreas onde as florestas são conduzidas sem a interferência de plantas daninhas.

Segundo a Abraf, em seu relatório 2013, com base no ano de 2012, a inflação no setor florestal brasileiro foi três vezes superior ao IPCA e quatro vezes superior à inflação média internacional. Isso contribuiu para a perda de competitividade do setor, que, no início da década, era líder mundial, com o menor custo de produção florestal, e, hoje, ocupa o 4° lugar, atrás de Rússia, Indonésia e EUA. O controle de plantas daninhas em eucalipto consome cerca de 25% dos custos totais com implantação florestal. Assim, a redução de custos nessa área pode trazer resultados substanciais para o setor.

EVOLUÇÃO DO MANEJO: No sistema atual, a maior parte do mercado trabalha com a seguinte sequência operacional:
1. Dessecação em área total com glyphosate;
2. Preparo de solo;
3. Plantio manual ou mecanizado;
4. Aplicação de pré-emergente em faixa de 0,5 m para cada linha de plantio;
5. Segunda aplicação de pré-emergente na faixa de plantio, em alguns casos, precedida ou conjugada com uma operação de lâmina mecanizada;
6. Duas a três aplicações de glyphosate nas entrelinhas, dependendo da época do ano e da região;
7. Uso de operações manuais – mecânicas ou químicas – em parte das áreas para solucionar deficiências de controle ou logísticas.

O uso de mão de obra está cada vez mais restrito e de qualidade limitada, ficando recluso às áreas não mecanizáveis. O uso de operações manuais em áreas mecanizáveis acontece, na maior parte das vezes, por questões operacionais, quando as equipes não entraram nas áreas no tempo correto, quer seja por questões ambientais, como chuvas por períodos prolongados concomitantes ao período das operações, quer seja por questões gerenciais e de monitoramento.

A evolução do sistema de manejo deve passar pelo sistema integrado. Nesse caso, faz-se uso de todas as ferramentas e tecnologias disponíveis. As ferramentas para o manejo integrado são:

  • Controle cultural, ou cobertura viva: todos os fundamentos de preparo de solo, adubação e nutrição, produção e seleção de mudas para plantio e qualidade do plantio devem ser bem executados para que o desenvolvimento da floresta seja pleno e rápido. Quanto maior a área sombreada em torno das mudas, menor a germinação e incidência de plantas daninhas ao seu redor;
  • Cobertura morta – mulch: restos da rotação anterior em casos de reforma de áreas ou cobertura referente à dessecação criam um sombreamento e reduzem a amplitude de variação térmica no perfil dos solos, prejudicando a quebra de dormência de muitas plantas daninhas. Assim, quanto maior a quantidade e melhor a distribuição de material ao longo das áreas de plantio, menor a incidência de plantas daninhas;
  • Controle mecânico: em algumas regiões do País, o período seco é muito pronunciado, como no MS, por exemplo. Como o período de plantio das grandes empresas se estende durante todo o ano, partes das áreas são liberadas sem que haja condições para a execução de uma dessecação de boa qualidade antes do plantio. Em alguns casos, o uso de implementos que permitam a ruptura do sistema radicular de plantas daninhas, associados à seca, pode proporcionar a redução da comunidade infestante, principalmente nas linhas de plantio, diminuindo os problemas com a chegada das chuvas – normalmente a partir de outubro.
  • Controle químico: nesse caso, entram os herbicidas, cujo uso deve levar em conta os custos, a longevidade e a seletividade dos tratamentos.


HERBICIDAS: Entre os critérios para seleção dos herbicidas, princípios ativos e dosagens no manejo de plantas daninhas, estão:

  • Características das áreas: nesse grupo, destacam-se o tipo de solo, comunidade infestante, sistemas de plantio - manual ou mecanizado –, sequência e intervalo entre operações;
  • Condições climáticas: função da região geográfica e da época do ano em que se deseja fazer o plantio e o controle. A seguir, uma relação dos herbicidas registrados no Brasil, de acordo com seu posicionamento:
    • Pós-emergentes: glyphosate, amônio glufosinato, ambos pós-emergentes não seletivos, e carfentrazone, pós-emergente para plantas de folha larga;
    • Pré-emergentes: sulfentrazone, isoxaflutole, fluomizin, pendimenthalin, oxyfluorfen;
  • Conjugação de ação pré-emergente e pós-emergente: clomazone associado ao carfentrazone.

A longevidade e a seletividade dos tratamentos dependem dos princípios ativos e de sua formulação e das doses aplicadas. O equilíbrio dessas variáveis com os custos determina os melhores manejos.

CONHECER PARA DECIDIR: Existem pesquisas em andamento em nossas universidades que contribuem para o setor na busca de melhores respostas para o campo. Na Esalq,  o Grupo de Experimentação em Biologia de Plantas Daninhas (GEBPD), sob coordenação do Prof. Dr. Pedro J. Christoffoleti, tem desenvolvido pesquisas na área de resistência de plantas daninhas a herbicidas.

Plantas resistentes a glyphosate são comuns em áreas agrícolas, por causa das aplicações consecutivas desse produto, e, agora, começam a aparecer em plantios florestais. Talvez um dos melhores exemplos seja a Buva, com sua rápida dispersão pelo vento. Segundo o doutorando Marcel S. C. de Melo, a realização do manejo de plantas daninhas sempre com o mesmo modo de ação aumenta o risco de seleção de plantas resistentes ou biótipos tolerantes. A longo prazo, isso pode significar a implosão do sistema. Sendo assim, o uso de ativos e de manejos diferentes deve ser adotado para evitar esse tipo de ocorrência.

Na Unesp, o grupo do Professor Dr. Caio A. Carbonari, dentro do NUPAM (Núcleo de Pesquisas Avançadas em Matologia), tem laboratórios que permitem analisar o comportamento dos diferentes herbicidas no solo e nas plantas, bem como sua estabilidade e comportamento nas diferentes condições ambientais. Esses estudos permitem indicar melhor as diferentes alternativas para o campo. Carbonari tem realizado trabalhos com o uso de herbicidas pré-emergentes em área total.

Algumas empresas que acompanhamos têm áreas comerciais com reduções significativas no número de atividades e custos. A seguir, a inovação na sequência operacional:
1. Dessecação em pré-plantio em área total: associação de herbicidas para amplo controle de plantas de folhas estreitas e largas, visando obter o máximo de desinfestação das áreas;
2. Preparo de solo;
3. Aplicação de pré-emergentes em área total;
4. Plantio;
5. Aplicação de barra protegida: associação de herbicidas dessecantes e pré-emergentes.

Note que, em comparação ao sistema usual, ocorre uma significativa redução de operações para manter a floresta livre de interferência pelo primeiro ano da implantação. Além da redução de custos, a gestão e a logística ficam simplificadas.

INOVAÇÃO E TECNOLOGIA: Os ganhos possíveis em manejo são interessantes, contudo, quando se encontra o equilíbrio das recomendações de dosagem, produtos, épocas de tratamento, longevidade e seletividade dos tratamentos, a tecnologia utilizada para a pulverização deve ser atualizada.

Aplicações de pós-emergentes com resultados insuficientes, muitas vezes, são compensadas com incrementos de doses. No caso de pré-emergentes, esse aumento pode significar uma interferência ainda maior nas mudas do que as próprias plantas daninhas. Com isso, a adequação da tecnologia de aplicação, como pontas de pulverização, sistemas de filtragem, sistema de estabilidade de barras e, em alguns casos, uso de controladores eletrônicos e GPS, é fundamental, mas continua sendo negligenciada.

Outro fator limitante à implantação de novos sistemas de manejo é a necessidade de especialização dos profissionais de silvicultura ligados à área de produção florestal. A associação com universidades para a criação de cursos de especialização na área deve ser considerada. O ganho de competitividade do setor passa pelo incremento de produtividade, com avanço de novos conceitos, de tecnologia e de conhecimento no manejo de plantas daninhas na produção florestal no Brasil.