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Francisco Borges Alves Bueno

Gerente de Comunicação e Relacionamento da CMPC Celulose RS

Op-CP-21

As empresas florestais e a sustentabilidade

Falando com uma amiga sobre o valor atribuído cinquenta anos atrás a produtos da natureza, lembrei a ela que perguntar o preço de lenha, verduras ou frutas produzidas em nossa casa, lá pela região das Missões, onde passei a infância, era quase uma ofensa. Isso tudo era generosamente doado, pois esses produtos praticamente não tinham valor econômico.

Minha amiga lembrou, então, de uma observação que ouviu de seu avô, lá pelo final dos anos 50:  “Do jeito que a coisa vai, ainda vamos acabar comprando água”. Esse comentário, pelo ridículo, provocou boas gargalhadas por parte das pessoas que participavam da conversa.

O perfeito entendimento do termo sustentabilidade e da virtuosa relação entre os três eixos nos quais ela está apoiada  – o econômico, o social e o ambiental  –, carece de uma análise mais abrangente. A sustentabilidade é um novo valor da sociedade moderna que precisa ser incorporado pelas empresas como o principal, pois ele afeta o valor da companhia.

Hoje, pensamos um sistema que considera a natureza um capital, um ativo a serviço da manutenção e da inclusão social das pessoas. Às empresas cabe desenvolver suas atividades e processos formadores da cadeia econômica do negócio de maneira sustentável, garantindo um desempenho economicamente competitivo, com o menor uso possível de recursos naturais, baixo impacto ambiental e máximo ganho social.

As empresas procuram reduzir o impacto de seus processos na natureza, num modelo que atenda às necessidades do presente, sem comprometer a utilização pelas gerações futuras. Gradativamente, a empresa privada brasileira, especialmente a florestal, toma consciência do poder transformador de que dispõe na construção de uma nova sociedade.

Poucas organizações têm um poder de transformação tão eficaz como o da empresa privada, especialmente se integrar os diversos atores da sua cadeia formadora de valor num esforço deliberado e dirigido para promover o crescimento das comunidades em que está inserida.

Esse poder de transformação será ainda maior se trabalhar associada com entidades públicas e do terceiro setor. Essa orientação, que dia a dia vemos crescer, não pode ser pensada como uma prodigalidade, mas entendida como sincera preocupação social de nossos empresários. É também uma manifestação de inteligência. Ela leva em conta os ativos ambientais a que nos referimos anteriormente e, mais do que isso, o comportamento de uma nova geração de consumidores que tende a preferir empresas ecoeficientes.

Isso leva os planejadores das companhias a fazerem algumas indagações: como lidar com os desafios mercadológicos em coerência com as necessidades de meio ambiente dos novos negócios? Como melhorar a performance de sustentabilidade, de modo a fazê-la percebida como quem procura avançar nesse aspecto? Quais são os fatores a serem profundamente explorados, no sentido de maximizar ganhos sociais e ambientais e, ao mesmo tempo, perpetuar a existência da organização? Por último, como fixar esses conceitos no público interno da empresa?

Respondidas essas indagações, o foco será a meta de internalizar a sustentabilidade no processo gerencial como principal valor da companhia, trabalhando-a em cinco dimensões: governança, transparência, relacionamento com públicos estratégicos, aspectos sociais e  aspectos ambientais.

Algumas empresas brasileiras já têm criado seus conselhos de sustentabilidade, revisando sua missão, visão e princípios. Especialmente as empresas florestais – um dos setores que mais preserva no Brasil –, têm trabalhado suas políticas e códigos de conduta; no campo da comunicação e imagem, são transparentes e prestam informações à sociedade, não tendo medo de se posicionar sobre assuntos críticos, como mudanças climáticas e questões fundiárias.

Têm dialogado com ONGs que estão abertas a uma discussão construtiva. É evidente que uma mudança profunda pode requerer algumas gerações, mas o importante é iniciar. E as empresas florestais já começaram esse trabalho. Isso posto, podemos dizer que, decorridos pouco mais de cinquenta anos da afirmação do avô de minha amiga, estamos acostumados a entender a cobrança por produtos da natureza, como a água.

Ainda assim, talvez possamos rir do possível comentário de alguém que vaticine a cobrança pela utilização dos raios solares, tão necessários à fixação do cálcio em nossos organismos e insumo precioso para o bronzeado de verão. Um participante mais entusiasmado da conversa poderá sugerir a cobrança do ar respirado pelo cidadão, incluindo até um medidor para o consumo. Nesse momento, certamente, gargalharemos todos.