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Luiz Gylvan Meira Filho

Professor Convidado do Instituto de Estudos Avançados da USP

Op-CP-28

A única alternativa possível

A minha abordagem do tema é sob a óptica da mudança do clima. Sustentabilidade, para mim, implica legarmos para as futuras gerações um mundo em que elas tenham pelo menos as mesmas oportunidades que nossa geração teve. Em particular, a sustentabilidade engloba necessariamente legarmos um clima estável, ou seja, somente com a sua variabilidade natural e não com um aquecimento progressivo e sem limite, como atualmente.

Voltar ao clima da época pré-industrial já não é mais possível, a oportunidade foi perdida. Trata-se, agora, de mantê-lo sob controle, ou seja, com condições estáveis, ainda que em um nível diferente daquele pré-industrial.

Nossos líderes, em Copenhague, em 2009, decidiram que, em conjunto, faríamos com que a mudança do clima ficasse limitada a um aumento de dois graus Celsius na temperatura média global da superfície do planeta, no ano de 2100.

Para lograr esse objetivo, será necessário fazer com que as emissões antrópicas globais de gases de efeito estufa, no ano de 2050, sejam reduzidas em 60% em relação aos seus níveis de 1990 (e, portanto, em mais de 70% em relação aos níveis atuais, uma vez que as emissões globais aumentaram desde 1990). Essa redução será necessária, ainda que se decida estabilizar o clima em outro nível que não o de dois graus Celsius.

O professor Robert Socolow, da Universidade de Princeton (EUA), realizou interessante estudo sobre os aspectos tecnológicos e econômicos associados às diferentes formas de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. A conclusão é de que as reduções necessárias podem ser obtidas com tecnologias já desenvolvidas, mas ainda não usadas em grande escala, e a um custo suportável. Sua conclusão é de que será necessário recorrer a medidas em vários setores.

Em particular, o plantio de árvores é um componente essencial da sustentabilidade do planeta sob o ponto de vista climático. O crescimento de árvores plantadas em terreno onde não há vegetação de porte significativo representa uma transferência líquida de carbono da atmosfera, onde está na forma de dióxido de carbono, para a matéria orgânica das árvores em crescimento, o que equivale a uma emissão negativa durante o crescimento das mesmas.

Além disso, se a biomassa for utilizada para substituir o uso de combustíveis fósseis e se a floresta for replantada sempre que colhida, temos o benefício adicional de trocar a emissão de dióxido de carbono de origem fóssil por aquele renovável da biomassa plantada com rotação. Isso é verdade, na realidade, não somente para florestas, mas também para outros tipos de vegetação de crescimento rápido.

É o caso, por exemplo, do etanol feito com cana-de-açúcar, bem como do carvão vegetal feito com eucalipto, capim-elefante ou bambu. No Brasil, o carvão vegetal renovável feito com eucalipto é especialmente importante.

As propriedades mecânicas desse carvão vegetal permitem o seu uso em altos fornos, enquanto aquele feito com capim-elefante está limitado à fração que possa ser injetada em altos fornos. Mas há ainda aplicações a desenvolver. O uso de biomassa renovável na fabricação de briquetes para fins energéticos ainda está engatinhando.

É interessante o fato de que a expansão das florestas plantadas para fins energéticos de fato contribui para a preservação da mata nativa, pois aumenta a oferta de biomassa renovável, o que eventualmente ajuda a diminuir a pressão sobre a mata nativa.

Na Europa e na América do Norte, a demanda por biomassa para fins energéticos, inclusive por parte das ferrovias, provocou uma importante diminuição das florestas nativas. Na África e na América do Sul, inclusive no Brasil, isso ainda ocorre. O problema só será equacionado e resolvido quando forem oferecidas alternativas para o suprimento de energia, que hoje é feito com biomassa de vegetação nativa – floresta ou cerrado.

As florestas plantadas são a única alternativa possível. As regras existentes, ao exigir que as florestas plantadas sejam acompanhadas de proteção de vegetação nativa, além do interesse na presença desta para fins de conservação do solo e disponibilidade de água no solo, fazem com que a contribuição das florestas plantadas para a sustentabilidade estenda-se além da proteção do clima, para incluir também o cuidado com a biodiversidade, a flora e a fauna.