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Otávio Cardoso Fernandes Pontes

Vice-presidente da Stora Enso América Latina

Op-CP-31

As florestas plantadas e a celulose

Existem hoje, no Brasil, cerca de 7 milhões de hectares de plantações florestais destinadas a uso comercial, fornecendo insumos para vários segmentos industriais, além de combustível para diversas aplicações, seja como lenha ou como carvão vegetal. Essas florestas começaram a ser plantadas há mais de 100 anos, para substituir o uso de madeira das florestas naturais, como lenha, e propiciaram o surgimento de setores muito competitivos da indústria brasileira, como os da cadeia de celulose e papel e de painéis, que têm importante papel na exportação e no atendimento ao mercado interno.

Das primeiras plantações de eucalipto, acácia e pinus até hoje, houve uma extraordinária evolução tecnológica, fruto de estudos e pesquisas de universidades e empresas, que permitiram o desenvolvimento de variedades mais bem adaptadas aos diversos climas do País, com aumento significativo da produtividade.

O resultado foi tornar o setor de florestas plantadas do País um dos mais competitivos do mundo, fato hoje reconhecido internacionalmente, além de criar milhares de empregos para profissionais de todos os níveis, desenvolver a engenharia florestal, possibilitar o crescimento econômico de diferentes regiões do País e trazer melhores condições de trabalho para os trabalhadores rurais.

A sustentabilidade é uma preocupação constante do setor, em especial dos segmentos voltados ao fornecimento de matérias-primas para a indústria de celulose, de painéis e de outros produtos de maior valor agregado.

As florestas plantadas para suprir a indústria desses segmentos é responsável, em muitas regiões do País, pela preservação e pela recuperação da vegetação nativa, que chegam a representar 40% a 50% das áreas próprias das empresas nas regiões em que o bioma, como a mata atlântica, é o principal. Essa postura do setor decorre da consciência geral das empresas e de seus dirigentes e profissionais sobre a necessidade de preservação do planeta.

E, ao lado disso, do reconhecimento que a legislação e a opinião pública estão cada vez mais exigentes, no Brasil e nos países desenvolvidos, o que obriga os produtores a manter padrões de sustentabilidade, para que sejam aceitos tanto localmente como por investidores e importadores.

Em adição aos cuidados ambientais, as empresas vêm tendo atuação cada vez mais ampla em políticas sociais, buscando oferecer às comunidades em que estão instaladas novas perspectivas de desenvolvimento. As ações junto às comunidades fazem parte integral do projeto de instalação das unidades industriais.

As exigências ambientais, sociais e econômicas crescentes das populações e do poder público são importante estímulo ao desenvolvimento de novas tecnologias e procedimentos nos diversos setores da indústria e do agronegócio.

É preciso, no entanto, que elas tenham visão e aplicação positiva, para trazer mais qualidade nos investimentos, e não um viés negativo ou ideológico para impedir projetos bem planejados e executados. A maior parte dos projetos florestais foi e está sendo implantada em áreas desmatadas no passado para retirada de madeira, em muitos casos ocupadas, posteriormente, por criação extensiva de gado, em que o trabalho era, em geral, pouco ou nada formalizado.

O setor de florestas plantadas, ao contrário, oferece empregos em condições adequadas e cobra de seus fornecedores a correta aplicação da legislação trabalhista. Com isso, vem gerando progresso às comunidades onde se localizam as plantações, com o aumento do nível de consumo e o consequente crescimento da receita pública.

A prática do fomento florestal onde as empresas estabelecem parcerias para o fornecimento de madeira tem trazido, além de uma melhor remuneração à atividade agrícola, um estímulo à adequação das propriedades às leis ambientais. No caso da Veracel Celulose, empresa onde a Stora Enso detém 50% do capital, foi dado, inclusive, apoio para que grupos de pequenos produtores buscassem e conquistassem a certificação florestal.

A Veracel tem mais de 97% do plantio de árvores para produção de celulose, em seu empreendimento na Bahia, situado em solos que foram antropizados para a criação de  gado, que pastaram por décadas naquela região, após o corte e a derrubada das matas originais. 

Nesse projeto, como nos demais implantados desde o final dos anos 80, quando se firmou a percepção da importância da preservação ambiental,  há um cuidado de não destruir qualquer remanescente das florestas tropicais ou de outros ecossistemas importantes.

Além disso, os projetos em região de mata atlântica vão muito além de preservar, buscando restaurar a cobertura florestal original, para o que contam com viveiros próprios de árvores nativas que hoje são referência no País.

Atualmente, aproximadamente 100 mil hectares (cerca de 50% das terras da Veracel) são áreas de conservação, apesar da exigência legal determinar cerca de 30% (soma das áreas de reserva legal e proteção ambiental). Até o fim de 2012, a Veracel tinha restaurado mais de 3.500 hectares de mata atlântica com o plantio de mais de 3 milhões de árvores.

Faz parte do manejo florestal proteger as florestas naturais remanescentes e as conectar para ajudar a preservar a flora e fauna. As condições edafoclimáticas brasileiras são ideais para o rápido crescimento de plantações de eucaliptos e pinus, graças à insolação favorável, pluviosidade e temperaturas adequadas, o que continua propiciando forte expansão da atividade.

Infelizmente, vivemos, no momento, um paradoxo no setor: há empresas internacionais estabelecidas no Brasil interessadas em ampliar seus investimentos, mas foram criadas dificuldades para a compra de terras por esses produtores.

Embora seja possível comprar madeira de terceiros, não há ainda, no País, a tradição de fornecimento que possa garantir o abastecimento regular de indústrias de celulose que exigem investimentos de alto valor e trabalham de forma contínua, e o mesmo se aplica a outros setores, como painéis de madeira.

Usar com responsabilidade a terra em benefício da economia, do ambiente e dos cidadãos do País contribui para a evolução favorável dos negócios no setor florestal. Essa é uma atividade de longo prazo, e é preciso garantir que, vinte, trinta e mais anos depois, ela continue a ser mantida com produtividade, bons resultados e sustentavelmente.

O setor de celulose, responsável por cerca de 30% das florestas plantadas no País, tem buscado e obtido as certificações internacionais mais importantes, como o selo FSC e o Cerflor, que estabelecem padrões de gerenciamento responsável nos cultivos florestais.

Florestas plantadas podem coabitar os solos com a vegetação nativa regional e com cultivos agrícolas e atividades pastoris, um sistema complementar que se vem ampliando e traz ótimos resultados quando bem manejado.

Programas de parceria com pequenos e médios agricultores incentivam esse uso das áreas de forma múltipla, gerando uma fonte adicional de renda para os proprietários e para as comunidades vizinhas. São benefícios para o País e para as pessoas,  gerados pelo setor de florestas plantadas.