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Antonio Carlos de Vasconcelos Valença

Engenheiro de Insumos Básicos do BNDES

Op-CP-01

O sol, a fotossíntese e o Brasil

Após o descobrimento, os portugueses perceberam que a riqueza da Terra de Santa Cruz estava na árvore de madeira avermelhada como brasa, utilizada para produção de tinta para escrever, colorir tecidos e fabricar arcos de violino e, por isso, decidiram mudar o nome daquela região para Brasil. Esta terra, que também encantou holandeses e franceses, apresentava uma característica especial: chuva e sol forte durante todo o ano, o que possibilitava o crescimento impetuoso das florestas.

E não só o pau-brasil, que mais tarde os botânicos batizariam como Caesalpinia echinata, despertava cobiça. Com o passar do tempo, foram identificadas outras árvores, com madeiras macias ou pesadas, flexíveis, duras, leves, resistentes e outras características que se adequavam a cada utilização. Logo, os cientistas iriam deduzir que a água da chuva era retirada do solo pelas raízes das plantas e combinava-se, utilizando a energia da fotossíntese, com o gás carbônico aspirado pelas folhas, ou seja: (5H2O + 6CO2)n <=> (C6H10O5)n + (6O2)n.

Ao lado esquerdo, vemos a junção da água com o gás carbônico e, ao lado direito, a formação de um polímero natural, que corresponde à formula empírica de diversos componentes da madeira, como a celulose, a hemicelulose e a lignina e, além disso, notamos a constituição e liberação para a atmosfera, de 6 moléculas de oxigênio.Em resumo: através da fotossíntese, as árvores adicionam gás carbônico à água e geram madeira e oxigênio.

Utilizando os pesos atômicos dos elementos (Carbono=12, Oxigênio=16 e Hidrogênio=1), pode-se inferir, de modo simplificado que, para cada tonelada de madeira formada, 1,2 t de oxigênio é liberada na atmosfera, o que corresponde, nas Condições Normais, a 840 metros cúbicos de oxigênio puro. Calculamos também, para a mesma tonelada de madeira, que 1,6 t de CO2 é retirada do ar e 0,6 m3 de água é utilizada.

Isso significa que, para uma produtividade florestal de 20t de madeira/ha/ano, numa região com precipitação pluviométrica de 1.300 mm/ano, as árvores retiram do solo e retêm pouco menos de um milésimo (0,1%) da água recebida, sob forma de chuva.  Enquanto as plantas estão crescendo, a equação funciona da esquerda para a direita e, no caso da oxidação (queima) da madeira, da direita para a esquerda.

Ao analisar-se a função ambiental das florestas, deve-se verificar como são usados os produtos obtidos, visto que a decomposição, por queima ou oxidação natural dos hidrocarbonetos, faz com que a água e o gás carbônico retornem à atmosfera, sendo consumidas as moléculas de oxigênio correspondentes. Iniciando outra linha de raciocínio: Como o eixo de rotação da Terra tem uma inclinação de 23,5°, em relação à vertical do seu plano orbital e, por isso, as regiões que recebem maiores quantidades de energia solar são as mais próximas dos trópicos, cujas latitudes, sul e norte, também correspondem a 23,5°.

Nestas regiões, em dias de céu claro, a “energia” que incide sobre a superfície da terra chega a 900 W/m2. Não é por acaso que grandes áreas desérticas do planeta, como o Sahara e kalahari, na África, Gibson e Great Sandy, na Austrália e Atacama no Chile, estão cortadas por esses trópicos. O Brasil pertence ao privilegiado grupo de 5 países que mais recebem energia solar em todo o planeta.

Isto nos concede vantajosa condição como fornecedores de produtos, que dependem do crescimento vegetal, sejam árvores, frutas, grãos, fibras, ou toda a série de alimentos. A localização de maciços florestais próximos aos trópicos, em regiões onde haja água suficiente, é essencial para que se obtenha maior produtividade. Neste grupo de 5 países, a posição do Brasil fica realçada no cálculo da energia solar recebida por km2. A Austrália lidera com 75 kWh/km2/s, em seguida o Brasil (com 62), seguindo China, EUA e, finalmente, a Rússia, com 32 kWh/km2/s

Por esses motivos, o Brasil faz parte dos planos estratégicos de todos os principais grupos industriais de base florestal, no mundo. Na produção de bens, onde o custo do investimento inicial é muito alto, como no caso da indústria de celulose e papel, a estratégia é: desativação das unidades operacionais mais custosas, situadas no Hemisfério Norte, à medida que os investimentos feitos no passado fiquem obsoletos.

Essas unidades serão relocalizadas nas proximidades dos trópicos. No entanto, tais decisões passam por vários entraves, decorrentes de pressões de grupos empenhados em preservar os interesses das empresas daquelas regiões, onde a atividade florestal é responsável por parcela importante da atividade econômica, especialmente na geração de empregos.

Cabe-nos agir com segurança na busca das soluções para nossos problemas internos de forma que mais planos e projetos não sejam adiados, em prejuízo de nosso inevitável desenvolvimento florestal, sem esquecer, também, que obstáculos para novos investimentos em florestas podem decorrer de nossas próprias vantagens, ou seja: pela competição com outros produtos agrícolas.