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João Paulo Ribeiro Capobianco

Especialista em Meio Ambiente

Op-CP-16

Especialista em Meio Ambiente

Ao longo da história da humanidade, a mistificação e o temor, que marcaram o início do relacionamento homem-natureza, converteu-se em dominação. O homem moderno subjuga e destrói o meio ambiente em um ritmo sem precedentes na longa trajetória do planeta Terra. Como justificativas: a riqueza, a melhoria das condições de vida, a produção farta e o desenvolvimento.

Como consequências: a pobreza, a degradação, a poluição e o subdesenvolvimento. O homem chega ao terceiro milênio tendo que encarar o fato de estar pondo em risco sua breve aventura na Terra. De um lado, a degradação dos recursos marinhos, desmatamentos em larga escala, redução da qualidade e da quantidade de água potável, acumulação na atmosfera de gases responsáveis pelo efeito estufa e perda acelerada de biodiversidade; de outro, a certeza de que o desenvolvimento é necessário, mas não suficiente para o bem-estar da humanidade.

O
s problemas ecológicos globais constituem um problema que ameaça, simultaneamente, o futuro - crise da sobrevivência - e questiona, radicalmente, um dos principais pilares da sociedade moderna: a supremacia da ciência e da tecnologia sobre os ideais, a sensibilidade e os sentimentos humanos. Ao apontar para os prováveis gravíssimos problemas ambientais, onde o efeito estufa é um dos mais fortes exemplos, o caráter controverso dessa questão coloca a humanidade diante de uma crise histórica.

A sociedade se depara com o dilema de ter que agir na mudança radical de processos produtivos e de padrões de consumo, sem ter a certeza científica de como e de quanto tempo dispõe para fazê-lo. Os desafios trazidos pelo panorama de evolução/transformação em que a sociedade se encontra, no entanto, não têm levado à implementação de mudanças concretas no sentido da sustentabilidade.


Os próprios resultados da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92, e as frágeis convenções dela resultantes mostram claramente as dificuldades de se definir políticas capazes de garantir ações baseadas na solidariedade global com as presentes e futuras gerações. O desenvolvimento sustentável, propalado como a solução para esse impasse histórico, por outro lado, não é tão simples como muitos gostariam.

Mais do que ligeiros acertos ou pequenas correções de rumo, sua viabilidade exige a adoção de posturas individuais e coletivas, que contradizem o processo evolutivo recente da humanidade. Sua implantação requer mudanças estruturais na sociedade, que passam a ter um caráter de mudança civilizatória.
Essas indefinições e contradições, características dos momentos de mudanças, não podem ser tratadas com simples discussões teóricas.

A complexidade do problema e a enorme dimensão do desafio exigem mais do que normas, leis ou programas de investimentos em novas alternativas. Exige um novo quadro de valores culturais e uma redefinição do ser humano e de sua responsabilidade com a natureza. Nesse cenário de complexidade crescente do processo de tomada de decisões político-econômicas, provocada pelas dificuldades trazidas pelas questões ambientais, estão surgindo novas teses que podem alterar profundamente a compreensão da sociedade sobre seu papel perante os aspectos socioambientais.

Uma delas, a tese da ciência pós-normal, estabelece uma ruptura com os procedimentos tradicionais de se fazer ciência. Segundo essa linha de pensamento, é necessário que os acadêmicos incluam entre seus parâmetros a incerteza e considerem a pluralidade de perspectivas dos diferentes atores sociais como legítimas, incorporando-a em suas análises, para que seja possível lidar com a complexidade e o dinamismo do meio ambiente.

Essa nova concepção implica a valorização do papel da sociedade nos processos de tomada de decisão. Outro mecanismo de grande importância surgido nos últimos anos é o do Princípio da Precaução. Segundo ele, a sociedade passa a admitir, e considerar legítima, a adoção por antecipação de medidas que visem evitar problemas socioambientais, ou implementar medidas de prevenção, sem que haja certeza científica de que esses problemas efetivamente se concretizem caso as medidas não sejam adotadas.


A viabilidade da aplicação de ambas as teses, que implicam a possibilidade de a sociedade humana tomar decisões contrárias à racionalidade econômica atual, no entanto, exige mudanças profundas, que passam, necessariamente pelo reencontro com a natureza e pela busca de outras visões de futuro. É um processo de descoberta interior, que encontra grandes dificuldades de operar num cenário de destruição e exacerbação do individualismo vivido neste início de século.