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Paulo Sadi Silochi

Diretor Operacional da ArcelorMittal BioEnergia

Op-CP-17

A crise era passageira

A catástrofe começou em 15 de setembro de 2008, com o pedido de proteção por falência do Lehman Brothers. As previsões eram de que a crise se estenderia por três ou quatro meses, alcançando o final do ano. Depois, passou para o primeiro trimestre de 2009, e logo se falava que seria por um ano. As empresas passaram a produzir cenários diários de orçamentos, lembrando os tempos da inflação.

O caixa passou a ser a grande preocupação. Vender à vista, comprar a prazo, ou melhor, não comprar nada, receber todos os créditos e alongar as dívidas, zerar os estoques, reduzir produção, dar férias coletivas, reduzir o efetivo, como se fosse possível aplicar a mesma receita para todos. Foi exaustivamente explicada, nos treinamentos de adaptação aos novos tempos, a comparação usada por um professor de economia da UF-MG entre uma caixa d’água e a tesouraria das empresas:
“se a torneira de saída for maior que a de entrada, um dia a caixa seca”.

Como não podia deixar de acontecer, a economia parou. Enquanto o setor produtivo pisava o freio, os governos do mundo inteiro corriam em socorro das instituições financeiras para evitar um mal maior. “O mundo nunca mais será o mesmo”, profetizaram alguns. Um ano se passou, o balanço mundial da crise mostra que foi reduzido a cinza todo o PIB mundial de um ano.

Felizmente, há sinais seguros de que a crise está ficando para trás. Boas lições podem ser tiradas desse episódio, algumas bem elementares, tais como: o que gera riqueza duradoura é o setor produtivo. A especulação financeira produz milionários da noite para o dia, bônus fantásticos, visibilidade, sonhos, mas não enche a barriga de ninguém.

A especulação financeira cria ilusões e desenvolvimento sem sustentação. Olhando para trás, podemos concluir que a farra estava muita parecida com o tempo da hiperinflação no Brasil, quando as pessoas liquidavam seus ativos para aplicá-los no mercado financeiro. Quem não se lembra de alguém que vendeu o único apartamento e foi morar de aluguel, porque o rendimento diário da aplicação representava um ótimo ganho?

Quando a hiperinflação acabou e o mundo voltou ao normal, ficaram sem casa para morar e sem rendimento, apenas com uma pequena reserva no banco. O Brasil entrou na crise com o pé direito, estava com boas reservas, não precisou socorrer suas instituições financeiras, e a demanda doméstica foi mantida.

Num primeiro momento, o setor de exportação foi atingido pela parada do mercado.
O movimento de precaução tomado por todas as empresas no final de 2008, principalmente de consumir os estoques, trouxe uma redução no nível de produção industrial, mas os segmentos que são voltados para o mercado interno, logo voltaram ao normal.

A indústria automobilística é um bom exemplo desse movimento. Desde o final do primeiro trimestre deste ano, alguns modelos de carros populares não são encontrados de pronta-entrega. O setor siderúrgico voltado para exportação, principalmente o parque guseiro de Minas Gerais, foi um dos mais afetados. A produção foi zerada. Atualmente, 30% dos altos fornos voltaram a funcionar, e as previsões para 2010 são boas.

O setor de siderurgia voltada para a construção civil voltou a produzir nos patamares anteriores à crise. A expectativa do crescimento da construção civil para 2010 e anos subsequentes, em função das eleições presidenciais, copa do mundo e possíveis olimpíadas, é uma realidade a ser considerada. O Brasil, como produtor de commodities, deve experimentar, por um longo período, uma ascensão, principalmente pela incorporação da massa de consumidores asiáticos.

Sua indústria já é bem diversificada e moderna. Vai precisar é investir melhor em infraestrutura e educação, para dar sustentação ao seu desenvolvimento. O desemprego em declínio, os salários com sinais de recuperação, a alta nas vendas do varejo são indicadores positivos. A crise no Brasil permaneceu muito restrita. Não causou um aumento substancial do desemprego.

A produção industrial tem crescido desde janeiro. O mercado de madeira e carvão vegetal, que havia parado totalmente em Minas, voltou com os preços compensadores. Alguns negócios foram consolidados, e o que é mais importante, os produtores souberam segurar seus produtos para garantir preço, numa mostra de maturidade e confiança no futuro e de que a crise era passageira.