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Nilton José Sousa

Diretor Administrativo da Fupef-PR

Op-CP-30

A consolidação da liderança

Quando recebi o convite para participar desta edição da Revista Opiniões, me foi perguntado se “o setor florestal está fazendo os investimentos necessários para a manutenção e o avanço da nossa liderança no setor florestal” e “qual é o papel que a instituição que represento – a Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná - Fupef –, tem na pesquisa florestal brasileira”.

Confesso que achei difícil responder à primeira pergunta com precisão. Para tentar chegar a uma resposta, comecei a elaborar um panorama mental do nosso setor, buscando visualizar como é que conseguimos, em tão pouco tempo, avançar tanto em vários setores da produção florestal.

Nessa reflexão, surgiram vários fatores e cenários, como o investimento público dos incentivos fiscais, a natureza privilegiada que temos, o pioneirismo e a audácia dos empresários, entre vários outros fatores. Mas, acima de tudo, concluí que o avanço só foi possível porque fomos capazes de aliar investimento com  inovação.

Em relação aos investimentos, basicamente eles têm duas origens, a iniciativa privada ou o governo. Em relação à inovação, esta só ocorre quando são geradas informações qualificadas sobre um determinado tema. Estas, por sua vez, podem ser compradas de outros países e adaptadas aos nossos processos, ou, então, podem ser geradas e desenvolvidas para as nossas condições e realidade; para tanto, a principal fonte é a pesquisa criteriosa e com base científica.

Realizada essa contextualização, a pergunta inicial pode ser mais específica: os investimentos em pesquisa são suficientes para o avanço e a  manutenção da nossa liderança no setor florestal? Eu considero que não, os investimentos em pesquisa florestal são escassos em nosso país e inferiores ao que deveríamos ter.

Resumidamente, a principal fonte de investimento é o governo, que realiza pesquisas nessa área através das universidades e dos centros de pesquisa. Se tudo o que é investido for somado, sem dúvida, o número é expressivo, porém, como é fragmentado para dezenas de instituições e centenas de professores, pesquisadores e alunos, o valor torna-se inexpressivo.

Mesmo assim, muito se é realizado: apenas na UF-PR, em quarenta anos de existência do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, já foram produzidos e defendidos quase mil trabalhos, entre dissertações e teses.

Grande parte dessas dissertações e teses só foi realizada graças à participação e ao investimento da iniciativa privada, pois o setor empresarial colaborou e colabora, de forma decisiva, para a execução das atividades de pesquisa da UF-PR, custeando e fornecendo a infraestrutura necessária para a execução de inúmeros  projetos e experimentos de nossa instituição.  

Concluindo a questão dos investimentos, eu considero que não fazemos os investimentos necessários. Os investimentos em pesquisa florestal são escassos e inferiores ao que deveríamos ter. Tenho sempre a sensação de que a cúpula de nosso governo não entende o setor florestal, não sabe de suas necessidades, por isso não investe de forma adequada.

Em relação ao setor empresarial, conforme citado, a colaboração e o apoio são imprescindíveis para a viabilidade e aplicação das pesquisas geradas. Porém a pesquisa em muitas empresas ainda é vista como custo e não como estratégia de desenvolvimento, por isso, na maioria das empresas, essa atividade sempre está na linha de corte e redução de investimentos.

Quanto ao papel que a Fupef tem na pesquisa florestal, primeiramente, é preciso um esclarecimento. Alguns acreditam que uma instituição como a Fupef tem a missão e a obrigação de patrocinar e gerar pesquisas. Isso não é verdade, nem é possível. A Fupef não possui um quadro funcional de pesquisadores, não tem um mantenedor que paga suas despesas e que fornece recursos para o desenvolvimento de pesquisas, portanto não tem como executar diretamente atividades de pesquisa.

Instituições como a Fupef são o elo entre as universidades e a iniciativa privada; sua missão é viabilizar os projetos de pesquisa que professores, pesquisadores, alunos e empresas querem executar, fornecendo-lhes estrutura administrativa para a captação e o gerenciamento de recursos. Portanto afirmar que a Fupef, ou qualquer outra instituição similar, desenvolveu pesquisas não é correto.

O que é correto é que, sem essas instituições, certamente, a maioria das pesquisas desenvolvidas, entre universidades e empresas, não teria acontecido.  No caso específico da UF-PR, a Fupef precede a fundação do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, pois o programa teve início em 1972, enquanto a Fupef foi fundada em 1971.

Também é correto e seguro afirmar que boa parte dos 949 trabalhos realizados no nosso Programa de Pós-Graduação até agora (325 teses e 624 dissertações) só foram possíveis graças ao apoio da Fupef.  

Nesses 42 anos de existência, a Fupef passou por várias transformações e adaptações: inicialmente, atendia apenas ao curso de engenharia florestal da UF-PR e às empresas do setor florestal.

A partir de 2007, seu estatuto foi revisto e ampliado, com isso, a  Fupef passou a ter o status de Fundação de Apoio da UF-PR, atendendo a outros setores da UF-PR. Entre eles, o setor de ciências da terra, o setor de ciências biológicas, o setor de tecnologia, e, principalmente, o seu setor de origem: as ciências agrárias.

Entretanto continua sendo mantida sua finalidade principal que é apoiar o desenvolvimento da ciência florestal, através de pesquisas científicas. Para tanto, a Fupef tem se reinventado a cada dia, agora como Fundação de Apoio da UF-PR; nossa meta é mostrar para a comunidade florestal todo o potencial que os diferentes setores da UF-PR tem para o desenvolvimento de pesquisas, e, com isso, colaborar para a consolidação da nossa liderança no cenário florestal internacional.