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Susete do Rocio Chiarello Penteado

Pesquisadora da Embrapa Floresta

OP-CP-34

A boa saúde de uma floresta plantada

Nas últimas décadas, a área plantada com espécies de pínus e eucalipto no Brasil aumentou significativamente. Em função do rápido crescimento, da adaptação ao solo e do clima brasileiro, esses plantios se estabeleceram, e, por muitos anos, principalmente o pínus, permaneceu livre do ataque de pragas.

Porém, grande parte desses plantios encontram-se estressados, criando condições favoráveis ao aumento populacional, tanto de espécies nativas, como é o caso dos danos provocados por roedores, pelo macaco-prego (Cebus nigritus), em pínus e em eucalipto, das lagartas desfolhadoras e de coleópteros, em eucalipto, como também das espécies introduzidas, incluindo a vespa-da-madeira (Sirex noctilio), o pulgão-gigante-do-pínus (Cinara atlantica e C. pinivora) e o gorgulho-do-pínus (Pissodes castaneus), em pínus e do percevejo bronzeado (Thaumastocoris peregrinus), a vespa-da-galha (Leptocybe invasa) e várias espécies de psilídeos, em eucalipto.

Esses organismos são responsáveis por grandes perdas de produtividade, e altos investimentos para garantir a viabilidade dos empreendimentos florestais. Entre os fatores responsáveis pela introdução, colonização e estabelecimento de pragas em plantios florestais, podem-se destacar:

• intensificação do comércio internacional, favorecendo a introdução de várias espécies de insetos;
• ausência de inimigos naturais específicos das pragas introduzidas, favorecendo a sua reprodução e o seu estabelecimento;
• simplificação do ambiente – plantios compostos por um número restrito de espécies;
• intensificação da monocultura – abundância de alimento disponível em áreas contínuas;
• regimes de manejo florestal – alta densidade de plantas por hectare e utilização de práticas silviculturais inadequadas, favorecendo o estresse das plantas;
• problemas no desenvolvimento do sistema radicular das plantas, que podem ser causados tanto pela qualidade das mudas como do plantio, tornando-as suscetíveis ao ataque de insetos.

Vale a pena comentar um pouco mais sobre este último item – desenvolvimento do sistema radicular das plantas –, uma vez que, geralmente, os sintomas serão expressos apenas quando a floresta já está estabelecida, por volta dos dois anos, embora plantios jovens também possam apresentar os sintomas se forem submetidos a algum fator de estresse.

A nutrição deficiente, em função do “enovelamento”, ”encachimbamento” ou “estrangulamento“ das raízes, ocasionados na fase de produção das mudas ou no plantio, tornará essas plantas suscetíveis não só a pragas, mas também a outros fatores bióticos e/ou abióticos.

Esse é um problema que tem sido registrado com muita frequência em plantios de pínus e, normalmente, o sintoma que dá o alerta para o problema é a presença de plantas com a copa amarelada. Assim, a boa saúde dos povoamentos florestais poderá ser obtida se forem considerados e adotados alguns cuidados fundamentais, nas diferentes etapas de implantação e condução dos plantios, sendo elas:

• produção das mudas – tamanho do recipiente adequado ao desenvolvimento do sistema radicular da espécie a ser produzida; tempo de permanência da muda no viveiro;
• utilização de sementes e mudas de origem conhecida e de boa qualidade;
• preparo do solo e plantio – cuidados, principalmente no plantio, para que não ocorram problemas no desenvolvimento do sistema radicular das plantas;
• realização das práticas silviculturais no momento certo, levando em consideração a qualidade do sítio e o espaçamento inicial utilizado;
• monitoramento periódico dos plantios visando à detecção precoce de pragas;
• utilização de medidas de controle imediatamente após a detecção do aumento populacional e dos danos provocados por insetos.

Portanto a prevenção de danos economicamente importantes em plantios florestais é basicamente um problema de manejo, que pode ser conduzido pela vigilância dos plantios e pela aplicação de tratos silviculturais adequadamente. Entretanto, se essa etapa foi negligenciada ou não pôde ser realizada, como tratamento curativo, é fundamental a utilização de medidas de controle baseadas em um Programa de Manejo Integrado de Pragas (MIP).

Segundo a FAO, MIP “é o sistema de manejo de pragas que, no contexto, associa o ambiente e a dinâmica populacional da espécie, utilizando todas as técnicas apropriadas e métodos de forma tão compatível quanto possível e mantém a população da praga em níveis abaixo daqueles capazes de causar dano econômico”.

Os diferentes métodos de controle que podem fazer parte do MIP são: métodos legislativo, genético, cultural, mecânico, físico, resistência de plantas, químico, comportamental e biológico. Eles podem ser utilizados em conjunto, ou selecionados, de acordo com a situação existente, em função do conhecimento prévio sobre a espécie-alvo.

Assim, devemos conhecer um pouco mais sobre a espécie que queremos controlar, realizando sua identificação, necessária para se buscar informações a respeito da biologia, dinâmica populacional, modo de ação e inimigos naturais da praga.

Essas informações são fundamentais para a tomada de decisão e para a seleção dos métodos a serem utilizados dentro do Programa de Manejo Integrado, visando a maior efetividade das ações de controle e, dessa forma, garantir a produtividade da floresta.