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Valter Bianchini

Secretário da Agricultura do Estado do Paraná

Op-CP-15

Atividade florestal, crise e oportunidades

O setor madeireiro, de forma geral, vem atravessando uma crise sem precedentes, que teve início com a forte desvalorização do dólar em 2007, situação que se emendou com o colapso econômico global, que vem atingindo o Brasil desde os últimos meses de 2008. Diante deste cenário, os fabricantes de papel, setor onde predominam as multinacionais, estão reduzindo as atividades, diante da queda das exportações e da perda de competitividade no mercado internacional.

No mercado interno, a situação não é diferente. Os pedidos para as indústrias madeireiras recuaram, resultando na diminuição das atividades na linha de produção. Este cenário, porém, está revelando as fragilidades da concentração da atividade agropecuária. Portanto, é em momentos de crise e de reavaliação que surgem as soluções que podem dar sustentabilidade ao setor.

O setor madeireiro é de fundamental importância no Paraná, responsável por um valor bruto da produção de R$ 3,12 bilhões em 2007, que corresponde a terceira maior renda bruta da agropecuária e o segundo item da pauta de exportações do agronegócio paranaense.
Cerca de 85% das propriedades rurais no estado são menores que 50 hectares.

Desta forma, o desafio que se impõe é traçar novas estratégias aos planos de expansão do setor madeireiro, incluindo a participação da agricultura familiar na cadeia produtiva da madeira, onde a atividade florestal entra como alternativa de diversificação nas pequenas propriedades.

O modelo que defendemos é integrar a atividade florestal com outros sistemas de produção como grãos, leite e frutas, entre outros produtos. Mas, para isso, é necessário um planejamento para a pequena propriedade familiar, para que os componentes de produção sejam demarcados de forma estratégica, permitindo renda no curto, médio e longo prazos.

A pequena propriedade familiar pode reservar um espaço para a silvicultura, para não ficar a mercê das frequentes oscilações de preços do mercado, que desestabilizam e, muitas vezes, inviabilizam a atividade agropecuária.
Em parceria com grandes empresas, que visam o fomento florestal, a nossa intenção é ocupar, no máximo, 30% da área da propriedade, por menor que ela seja, com atividade florestal, desde que esteja integrada com outros sistemas de produção.

O pequeno produtor pode e deve participar do cenário de produção de papel e celulose, concentrado nos grandes empreendimentos. Com um manejo adequado, é possível orientar o agricultor familiar a usar a floresta para atender a várias finalidades, desde a produção de madeira, para as laminadoras, serrarias, celulose, até para fins energéticos.

Assim, para ser construída uma base florestal produtiva madeireira, sob a égide da sustentabilidade, o setor deve cumprir seu papel, não só econômico, mas também ambiental e social. No Paraná, o modelo proposto sugere o apoio e a parceria dos setores produtivos, tanto da produção rural, como da base industrial existente, para que o setor seja um instrumento ativo de desenvolvimento sustentável.

A inclusão da agricultura familiar amplia a base florestal e, ao mesmo tempo, formata um mosaico produtivo na paisagem.
A meta é ampliar a base florestal do estado para dois milhões de hectares no prazo de desenvolvimento de, pelo menos, cinco ciclos florestais, em torno de 100 anos. O destaque desse modelo é a geração de milhares de novos postos de trabalho, além do efeito renda superior às demais atividades no meio rural e urbano.

Deve-se considerar também os aspectos ambientais proporcionados pela atividade, com baixos índices de utilização de agroquímicos e baixo impacto no meio ambiente, quando comparados com outras atividades agrícolas. Neste modelo, em que se coloca a atividade florestal madeireira a serviço do desenvolvimento rural e urbano, os ganhos na equidade de divisão de renda, as elevadas taxas de retorno econômico e a sustentabilidade de produção são garantidos e necessários.

Nesse aspecto, o Paraná tem grandes desafios a serem superados, como a construção de políticas públicas, acompanhadas de legislação, que promovam a silvicultura de espécies potenciais nativas, a desburocratização do cultivo e, ainda, a garantia para o investidor. Outro desafio é a necessidade de se determinar normas e procedimentos para o manejo em regime de rendimento sustentável da reserva legal, ainda vista como “área improdutiva” pelos agricultores.

Sabemos que são poucos os que usam as áreas florestais, através de técnicas de manejo florestal, obtendo produtos madeireiros e não-madeireiros. Desta forma, o manejo pode servir de exemplo de atividade economicamente viável, socialmente justa e ecologicamente correta.
Para finalizar, é necessária uma sistematização das informações estatísticas florestais para o Estado, para subsidiar a tomada de decisões e melhoria contínua por parte do setor público.