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Alexandre Valadares Mello

Assessor de Sustentabilidade, Comunicação e Assuntos Corporativos da Vallourec

Op-CP-38

Siderurgia e biomassa: uma solução mais sustentável

A energia de biomassa vem ganhando cada vez mais força no Brasil, tornando-se foco de avançadas pesquisas na busca por tecnologias mais eficientes e sustentáveis. O recurso renovável, proveniente de matéria orgânica – de origem vegetal ou animal –, já representa quase 10% de toda a matriz energética do País. De acordo com a Aneel - Agência Nacional de Energia Elétrica, essa fonte de energia é a que concentra maior potencial de crescimento nos próximos anos.

Tendo em vista a iminente crise no setor elétrico e seus impactos, o aumento do uso da biomassa como combustível representa um salto na percepção do mercado interno, oferecendo grandes diferenciais competitivos e ambientais. Quanto às estimativas para o futuro, se considerarmos a crescente demanda por energia, principalmente por países em desenvolvimento, como o Brasil, a biomassa corresponde à alternativa bastante atrativa para a diversificação da matriz energética.

Na siderurgia brasileira, cerca de 11% do aço doméstico é produzido a partir do carvão vegetal, segundo os últimos dados do Instituto Aço Brasil, contribuindo, e muito, para a redução das emissões dos Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera. Para se ter uma ideia, o setor é responsável por 16% dessas emissões, segundo a Convenção-Quadro da Organização das Nações Unidas (do inglês United Nations Framework Convention on Climate Change - UNFCCC).

Em outros países e grande parte do mercado interno, ainda há o emprego do carvão mineral, combustível fóssil não renovável. E ainda: as reservas de carvão mineral de alta qualidade não são suficientes para atender a toda a necessidade da indústria doméstica, o que pode representar um risco de competitividade. Mesmo observando o aumento do uso da biomassa no setor siderúrgico, a cadeia produtiva enfrenta novos desafios, como a necessidade de investimentos e estímulo para continuar produzindo o melhor aço, de forma ambientalmente responsável.

Isso sempre visando à melhoria dos sistemas por meio de inovações tecnológicas alinhadas às políticas de redução do consumo energético. Segundo a Cogen - Associação da Indústria de Cogeração de Energia, uma tendência que vem despontando é a autoprodução de eletricidade dentro das usinas. A prática vem ganhando força na siderurgia em virtude dos preços crescentes da energia elétrica no mercado, uma vez que o setor demanda o abastecimento contínuo e ininterrupto. 

A solução de engenharia aplica uma tecnologia de cogeração de energia, que consiste na utilização do Gás de Alto-Forno (GAF), residual do processo de produção de ferro gusa proveniente do aquecimento do carvão vegetal, para a geração de energia elétrica. Ele é coletado e canalizado em um duto para a central termoelétrica, combinando calor e eletricidade.

A principal vantagem é viabilizar economicamente a autoprodução e o aproveitamento máximo do conteúdo energético, o que acarreta a queda de sobrecarga do fornecimento do distribuidor e uma maior independência da qualidade da energia gerada pelas companhias, refletindo diretamente na redução dos impactos ambientais. Essa tecnologia de racionalização de GAF vem sendo aplicada, com êxito, dentro da usina da Vallourec localizada em Belo Horizonte, MG. Um terço de toda a energia consumida pela siderúrgica é proveniente do reaproveitamento desse resíduo, com capacidade para gerar 11.446 kWh. 

Em 2013, houve queda de 4,93% no consumo específico de energia elétrica em relação ao ano anterior. Essa redução equivale a 12.938 mWh, o suficiente para abastecer, aproximadamente, 7,2 mil casas durante 12 meses. A diminuição do consumo específico de gás natural foi de 2,6%, o equivalente a 13.641 mWh, número que corresponde a cerca de 78 mil botijões de gás de 13 quilos. As medidas também evitaram a emissão de cerca de 3,8 mil toneladas de CO2 na atmosfera.

Os benefícios do desempenho energético positivo incluem a diminuição de custos de produção e do uso de recursos naturais e a possibilidade de produção de aço mais barato e competitivo no mercado. Já existem projetos de pesquisa com o objetivo de associar a cogeração à produção de carvão vegetal dentro da unidade Florestal da Vallourec, em MG. Outro avanço que podemos observar no setor é a aplicação de técnicas especializadas da engenharia nas florestas energéticas de eucalipto, que permitem a retirada planejada de árvores adultas e respectiva reposição de mudas, aumentando a capacidade do sequestro de CO2.

Com relação à neutralização dos impactos do GAF da Vallourec, as árvores das 22 fazendas da unidade Florestal absorveram aproximadamente 2,25 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera durante sete anos de crescimento. É válido destacar que toda a política energética da empresa, incluindo a tecnologia de cogeração aplicada na usina, está alinhada aos projetos de redução de GEE, classificados no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).

Válido desde 2004, já gerou duas safras de créditos de carbono. Em 2013, ele foi renovado pela UNFCCC por mais sete anos. Devemos considerar que, apesar de não existirem metas formais para redução das emissões de GEE, o Brasil assumiu voluntariamente o compromisso, junto à UNFCCC sobre Mudança do Clima, de reduzir, até 2020, de 36,1% a 38,9% das emissões de GEE projetadas.

No contexto de racionalização de recursos naturais, em que a elevação da temperatura global já é realidade, um dos grandes desafios das siderúrgicas brasileiras é continuar mantendo investimentos em novas políticas de diversificação da matriz energética, mesmo com a recente desaceleração do desempenho produtivo do setor siderúrgico mundial.

Enfim, é imprescindível estreitarmos os laços entre a gestão sustentável e a competitividade, com a aquisição de novos sistemas de aprimoramento da geração de biomassa para práticas de eficiência energética e a consequente redução das emissões de CO2, grandes responsáveis pelas Mudanças Climáticas. E expandir o uso do GAF para a cogeração de energia dentro das unidades industriais é uma solução que acarreta ganhos econômicos, tecnológicos e ambientais.