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Germano Aguiar Vieira

Diretor Florestal da Eldorado Celulose e Papel

OP-CP-34

Plantações florestais em áreas degradadas no MS

O Brasil possui, segundo dados do Incra, cerca de 170 milhões de hectares de pastagens, espalhadas nos diversos estados brasileiros, com forte concentração na região Centro-Oeste. Desse total, estima-se que 30% dessas pastagens estejam degradadas, com baixa capacidade de produção de proteína, ou seja, menor que 1 UA por hectare.

Degradação de pastagens é um processo evolutivo de perda de vigor e produtividade forrageira, sem possibilidade de recuperação natural, que afeta a produção e o desempenho animal e culmina com a degradação do solo e dos recursos naturais em função de manejos inadequados. A região do cerrado brasileiro é responsável por quase 50% da geração de proteína animal no País e é também onde se encontra a maior parte das áreas degradadas.

No Mato Grosso do Sul, onde a pecuária de corte tem a maior concentração no uso do solo, também se encontra grande quantidade dessa área degradada por uso intensivo, sem a devida reposição de nutrientes e sem manejo adequado.

Nesse estado, onde mais de 58% de sua área é dedicada à pecuária de corte, podemos ver na atividade florestal uma alternativa viável para organizar a produção de proteína e, ao mesmo tempo, ampliar a base florestal do estado, hoje considerado com bastante vocação para plantio de florestas de rápido crescimento.

O governo do estado estabeleceu um planejamento de uso de solo bastante adequado, observando as condições de cada região, permitindo retirar a melhor expressão econômica de cada local, de acordo com suas características edafoclimáticas, culturais e a vocação natural do ambiente.

Nesse zoneamento agroecológico e social, ficaram estabelecidas as regiões para produção agrícola, produção florestal e pastagens, sendo que, para produção de madeira, projeta-se uma área total de 1,2 milhão de hectares, com uma concentração na região leste do estado, conhecida como bolsão ou costa leste.

Atualmente, essa área com plantio de arvores está em torno de 600 mil hectares, 1,68% do total da área do estado, sendo que, na região da costa leste, são estimulados investimentos em indústrias de base florestal, como celulose, carvão vegetal para siderurgia e processamento de madeira sólida.

Cálculos nos mostram que a produção sustentável de madeira no estado esteja em torno de 15 milhões de m³ por ano, insuficiente para os projetos de celulose anunciados para os próximos anos. Muitas são as vantagens competitivas no estado para produção de florestas de rápido crescimento, como também são inúmeros os desafios que devem ser vencidos para buscar as condições ideais de custo, capaz de concorrer com outros estados produtores de celulose. Como características principais do estado do Mato Grosso do Sul, apontamos:

• Relevo favorável: Grande parte apresenta relevo plano a suavemente ondulado, onde é possível a mecanização de todas as atividades florestais.

• Intensidade luminosa: Estado bastante ensolarado, com raras incidências de longos períodos de dias nublados.

• Clima favorável: O estado atinge mais de 1000 mm de chuvas anuais em todas as regiões, sendo que, na região indicada no ZEE para plantações de florestas, ultrapassa os 1200 mm. No entanto a distribuição é bastante desigual ao longo do ano, tendo dois períodos bem distintos: a) uma estação chuvosa, que compreende os meses de meados de setembro a fins de abril, na qual se concentram 90% dos valores pluviométricos e, b) um período seco, com os restantes 10% das chuvas nos meses entre o fim de abril e o início de setembro.

• Muita terra, pouca gente: O estado possui uma área de 357.124,962 km² (o sexto maior do Brasil) e uma população de apenas 2.265.274 habitantes, o que caracteriza uma baixa densidade demográfica: 6,4 hab/km². Guarda uma longa área de fronteira com o Paraguai e com a Bolívia, significando que mais de 40% de seu território está incluso na área de faixa de fronteira.

Em termos geopolíticos, é composto por 78 municípios. Nos seis mais importantes do estado (Campo Grande, Dourados, Corumbá, Três Lagoas, Ponta Porã e Aquidauana), concentra-se mais da metade da população, sendo que, somente na capital, Campo Grande, vive um terço da população do estado.

Na região onde se encontra a maioria de pastagens degradadas, observa-se que o tamanho das propriedades é muito maior em relação a outros estados produtores de florestas, o que favorece os projetos florestais.

Mato Grosso do Sul apresenta imensos vazios demográficos e, nessa característica, encontramos um dos maiores desafios para plantio florestal que, ao contrário da pecuária de corte, exige grande quantidade de mão de obra para sua implementação.

• Solos: O estado das condições dos solos do Mato Grosso do Sul, considerando os diversos níveis de degradação ambiental, nos meios receptores, quanto aos poluentes líquidos e sólidos, no solo e gasosos na atmosfera, atingem o meio ambiente, assim como nos processos erosivos atingem as bacias hidrográficas;

• Neossolo Quartzarênico (Areias Quartzozas): ocupa uma área de 57.880 km2, representando uma área de 16,51% do total. Essa classe de solo encontra-se, em sua maior parte, na área da Bacia do Rio Paraná, principalmente na Zona das Monções, em uma pequena área da Zona Sucuriu-Aporé e na parte sul do estado na Zona Iguatemi.

• Latossolo Vermelho Distrófico (Latossolo Vermelho-escuro): ocupa uma área de 81.810 km2, representando 23,34% do total. Essa classe de solo está localizada, principalmente, na área da Bacia do Rio Paraná e distribuída em uma grande faixa acompanhando o Rio Paraná, abrangendo as zonas: Sucuriu-Aporé, das Monções, do Iguatemi e parcialmente na Zona Serra de Maracaju. Localiza-se também, parcialmente, na área da Bacia do Rio Paraguai, abrangendo, em pequenas faixas localizadas nas Zonas: Alto Taquari, Proteção da Planície Pantaneira, Depressão do Miranda e Zona do Chaco.

• Latossolo Vermelho (Latossolo Roxo): ocupa uma área de 37.757 km2, representando 10,77% do total. Essa classe de solo está localizada, principalmente, na área da Bacia Hidrográfica do Rio Paraná; em sua maior parte, encontra-se concentrada em toda a área da Zona Serra de Maracaju bem como ao longo da rede de drenagem nas Zonas: Sucuriu-Aporé, das Monções e Iguatemi. Encontra-se também no divisor de águas com a Bacia do Rio Paraguai em uma faixa estreita norte-sul.

Facilmente erodível, as características dos solos dessa parte do MS torna-se um fator que requer muito cuidado na escolha do manejo adequado dos plantios florestais, desde o preparo do solo, a fertilização, a conservação de estradas e a escolha de equipamentos adequados de preparo de solo, plantadoras e colhedeiras da madeira.

Nesse contexto, podemos concluir que o estado tem as condições adequadas para o desenvolvimento de grandes e médios projetos industriais de base florestal, favorecido pelas suas condições climáticas, terras, solo e relevo, mas também apresenta preocupações relevantes, com falta de mão de obra e estradas adequadas para escoamento dos produtos das fazendas para as indústrias; contudo podemos dizer que a combinação das duas atividades econômicas, pecuária e floresta, seja na forma consorciada, seja em plantios separados, é uma das soluções mais adequadas para a recuperação de áreas degradadas no MS.

Com esse recurso, o proprietário poderá se capitalizar e reverter parte dessa receita para recuperar parte de sua propriedade e investir em técnicas que tornem a atividade de pecuária mais rentável.  Aproveitar essa oportunidade que se configura no estado é uma excelente alternativa para a região da costa leste, que possui certa de 70% de suas terras ocupadas com pastagens para pecuária de corte, grande vocação do MS.