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Flavio Justino

Professor de Pós-Graduação em Meteorologia Aplicada na UF-Viçosa

Op-CP-61

Impactos da escassez hídrica e do fogo no setor florestal
A evolução social que incorpora o apogeu e o declínio de povos antigos foi afetada enormemente por variações climáticas de curto prazo, que, em sua maioria, esteve relacionada a secas severas e duradouras. Apesar do avanço tecnológico no que tange à melhoria na qualidade do monitoramento ambiental, na coleta de dados e medidas mitigatórias, problemas ainda persistem devido à influencia das variáveis climáticas, em particular temperatura e precipitação, como indutoras de sérios prejuízos e perdas econômicas, que, em várias situações, ceifam vidas humanas.

Eventos secundários, mas não menos importantes, são influenciados pelas mudanças no clima, como as queimadas. Queimadas são a segunda maior causa de emissões de gases produtores do efeito estufa no Brasil, sendo a atividade humana o seu maior responsável.

Os incêndios em vegetação são responsáveis por perda de biodiversidade, empobrecimento e mudanças no uso do solo e, subsequentemente, por meio de mecanismos de retroalimentação, levam a secas mais frequentes e temperaturas extremas, impactando fortemente o setor florestal. 
 
Entre os setores econômicos, o florestal está entre os mais impactados por eventos anômalos de tempo e clima. Apesar do avanço tecnológico do setor, no que tange à melhoria na qualidade da madeira e no aumento na produtividade, problemas ainda persistem devido à influência das variáveis climáticas, em particular temperatura e precipitação, como indutoras de sérios prejuízos logísticos e perdas econômicas.

Portanto é fundamental o entendimento das características climáticas das regiões produtoras, a partir de estudos climáticos de alta resolução espacial e temporal. É importante notar que, em adição a disponibilidade de água no solo, flutuações na amplitude térmica e eventos extremos consecutivos de altas temperaturas têm sido associados a respostas 
 
altamente variáveis entre as espécies florestais, que, em grande parte, ainda não foram bem quantificadas. Por exemplo, as figuras em destaque mostram que a maior parte do Brasil tem sido afetada por menores valores na precipitação, número maior de dias consecutivos secos e menos dias úmidos (áreas em amarelo) e aumento de temperatura.
 
Portanto estabelecer relações entre as variáveis chuva, disponibilidade de água no solo (umidade do solo) e evapotranspiração contribui na predição do potencial produtivo dos plantios florestais e é crucial para auxiliar na escolha de regiões e épocas de plantio que ofereçam melhores condições ao estabelecimento e crescimento da cultura.

Isso está diretamente ligado às mudanças no regime pluviométrico/umidade do solo/evapotranspiração, e a análise dessas variáveis possibilita a definição de medidas para um alto índice de sobrevivência das mudas no pós-plantio e maior potencial de sucesso ao longo do crescimento.
 
Torna-se claro que o impacto que tem sido observado no campo de chuva induz o secamento das áreas florestais, aumentando o potencial à incidência de incêndios erráticos, que, muitas vezes, têm origem em regiões fora do domínio dos plantios.  O uso de ferramentas mais modernas, como o satélites ambientais para a determinação de talhões mais vulneráveis por meios de estimativas de evapotranspiração e água no solo, é, portanto, crucial para a verificação em grandes áreas. 

Nas últimas décadas, surgiram várias metodologias que visam identificar, por meio de modelos de risco, regiões climaticamente vulneráveis ao fogo. Todavia, esses modelos mostram deficiências, em particular devido ao tratamento linear que é dado para a relação das variáveis meteorológicas. 
 
Por outro lado, esses modelos de risco de fogo geralmente não levam em consideração fatores relacionados ao tipo de vegetação predominante na região. Ora, sabe-se que a severidade do fogo está diretamente ligada à quantidade e ao tipo do material combustível.

O Índice Potencial de Fogo (Silva et al. 2020), que foi gerado a partir de milhares de focos de calor observados no Brasil, e faz uso de dados meteorológicos, condições de solo e vegetação, é uma alternativa viável para uso local devido ao processamento simplificado e ao alto número de acertos em áreas de alto risco de incêndios ou fogo de menor intensidade.

Dessa forma, prejuízos econômicos e ambientais podem são minimizados. A diminuição dos recursos financeiros advém do uso dessas ações mitigatórias e de adaptação, e eles podem ser empregados no melhoramento de políticas ambientais mais sustentáveis, em um melhor uso da água, e, por fim, conduzem a uma maior conscientização ambiental de todos os agentes envolvidos com o setor florestal, incluindo as comunidades locais.