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Sharlles Christian Moreira Dias

Gerente de Tecnologia e Competitividade da Eldorado Brasil

OpCP67

Eucalipto: novas perspectivas à luz da nova conjuntura
Hoje, segundo o último relatório da Ibá - Industria Brasileira de Árvores, o Brasil tem 9 milhões de hectares de florestas plantadas, sendo 77,4% de eucalipto, destinados à indústria de papel, ao carvão vegetal, às serrarias, aos produtos de madeira sólida e processada. O gênero Eucalyptus têm ocorrência natural na Austrália, Papua Nova Guiné e Indonésia.

Possui mais de 600 espécies e variedades de ocorrência natural, porém, comercialmente, 9 espécies florestais (chamadas big nine) constituem mais de 95% das florestas plantadas de eucalipto do mundo; são elas: E. grandis, E. urophylla, E. globulus, E. camaldulensis, E. nitens, E. pellita, E. saligna, E. tereticornis, E. dunnii, todas elas pertencentes ao subgênero Symphyomyrtus. 
 
É de fácil percepção a evolução da produtividade florestal, quando se observa que, na década de 1960/1970, os plantios realizados com sementes, sem definição explícita da espécie, fertilização e manejo adequados, produziam florestas com 18 m³/ha/ano, e, atualmente, é possível encontrar florestas com produtividade variando de 30 m³/ha/ano (em ambientes marginais, de elevado déficit hídrico) a 50 m³/ha/ano. De acordo com o último relatório Ibá, a produtividade média de eucalipto no Brasil (2019) foi de 35,3 m³/ha/ano.

Contudo é interessante salientar que os ganhos de produtividades vão ficando cada vez menores, ou tendem a se estabilizar, a partir da evolução de um programa de implementações de melhoramento genético com gerações avançadas, estudos de solos, nutrição de plantas, manejo florestal e fitossanidade. 

Para atenuar esse efeito, é sempre necessário agregar novas ferramentas biológicas, estatísticas mais apuradas, tecnologias de precisão em aplicação e monitoramento das necessidades de insumos “mais inteligentes”, modelagens ecofisiológicas, e um arrojado programa de inovação tecnológica para implementação de tecnologias, almejando ganhos constantes e sustentáveis da produtividade.

O aumento das áreas plantadas, na última década, ocorreu principalmente nas chamadas “fronteiras florestais” (termo muito utilizado nos anos 2010), com destaque para o estado do Mato Grosso do Sul. Nessas regiões, temos predominantemente o bioma cerrado, com solos tropicais, altamente intemperizados, baixa fertilidade natural e, em sua maior parte, com textura arenosa ou franco-arenosa.

Portanto, são solos que dependem da aplicação de boas práticas de fertilização e monitoramento nutricional para garantia de produtividade. Esse fato já é bastante conhecido e estudado, com importantes contribuições da Embrapa na “domesticação dos solos do cerrado” e também de universidades e centros de pesquisa com a criação e o aprimoramento de softwares e sistemas para recomendações de adubações.

O desafio relacionado a este tema é o fato de o Brasil ser um grande importador de fertilizantes (80% da demanda) e, atualmente, responsável por 8% do consumo global, ocupando a quarta posição, atrás da China, Índia e EUA. As adversidades são ainda maiores considerando os engargalamentos logísticos causados pela pandemia e pela guerra entre Rússia e Ucrânia, afetando significativamente a oferta dos fertilizantes, em especial o potássio (Rússia e Belarus estão entre os principais fornecedores de K para o Brasil). 

As variações climáticas representam, provavelmente, um dos principais desafios para a produção florestal. De acordo com informações do INMET – Instituto Nacional de Meteorologia, a última década foi a mais quente registrada no País. O levantamento analisou os dados de 1961 a 2020 e constatou que 9 dos 10 anos mais quentes registrados ocorreram a partir de 2005. Como consequências, é possível a ocorrência de aumento de eventos extremos, como chuvas mais volumosas em um curto período, secas mais severas e ondas de calor mais intensas. Existe ainda a possibilidade de mais danos causados por rajadas de ventos e tempestades.

Em condições mais adversas de clima, além da possibilidade da redução da produtividade, existem efeitos na sanidade florestal. Plantas estressadas apresentam maior susceptibilidade ao ataque de pragas e doenças, com a possibilidade de surtos e desequilíbrios populacionais. Exemplos recentes da interação entre clima e pragas infelizmente já foram experimentados por empresas florestais no sul da Bahia em 2015/2016 e, mais recentemente, no Mato Grosso do Sul, em 2021, ambas com ocorrências significativas de lagartas-desfolhadoras.

Se os cenários são adversos e de incertezas, o setor deve responder com ciência, conhecimento e tecnologia para mitigação dos possíveis impactos. Esses trabalhos são desenvolvidos internamente pelas equipes de P&D das empresas, ou através de parcerias com programas cooperativos junto a universidades e institutos de pesquisa, em níveis pré-competitivos entre as empresas.

O Programa de Melhoramento Genético, além de oferecer clones para o upgrade da produtividade e qualidade da madeira, tem como objeto fundamental garantir a sustentabilidade em face dos eventuais estresses de materiais genéticos em decorrência de variações edafoclimáticas, distúrbios fisiológicos e fatores bióticos (pragas e doenças). 

Com as variações climáticas já discutidas, temos, no melhoramento, uma importante ferramenta para antecipação e agregação de estratégias para mitigação dos possíveis efeitos, inclusive com espécies não tradicionais para o setor de celulose, como E. brassiana, E. pellita, E. camaldulensis, E. tereticornis, E. longirostrata, seus híbridos, além dos híbridos do gênero Corymbia.

O manejo florestal é determinante para o sucesso das florestas e, diante das incertezas, deve ser dinâmico e levar em consideração as informações mais atualizadas. Atualmente, as empresas têm investido em desenvolvimentos de modelos de predição que visam simular possíveis cenários sobre a produtividade florestal.

Esse tipo de abordagem permite aos silvicultores avaliarem possíveis impactos e antecipar estratégias para mitigação dos efeitos ou perdas. A depender dos graus das mudanças, principalmente das climáticas, as práticas de manejo são ajustadas para enfrentamento das condições, podendo envolver desde ajustes mais simples até ajustes de maiores complexidades, custos e riscos. 

Nesse contexto, a figura abaixo propõe algumas etapas e ações, de curto, médio e longo prazo, em função dos cenários de mudanças (mais brando ou mais severo) e levando em consideração o nível de riscos, custos e incertezas. São ações que devem ser consideradas pelo setor na definição das estratégias de pesquisa, de planejamento e com alto potencial para mitigação dos cenários de incertezas. 

Cada uma delas mereceria um artigo à parte aqui na Revista Opiniões, mas a minha intenção é pontuá-las como oportunidades de novas pesquisas, investimentos e de aprofundamento pelo setor. Os desafios são ainda mais intensificados quando consideramos que, nos últimos anos, a inflação florestal, sistematicamente, tem sido maior que inflação do País, pressionando ainda mais os custos de produção.