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Manoel de Freitas

Consultor da Manoel de Freitas Consultoria Florestal

Op-CP-42

Até onde chegaremos?
Neste artigo, desenvolveremos dois temas dos mais relevantes para prospectar o futuro do setor de plantações florestais no Brasil: a área plantada e a produtividade dessas plantações. Como Eucalyptus e Pinus predominam no Brasil – 92% do total plantado em 2014 –, teremos em mente somente esses dois gêneros florestais quando nos referirmos às projeções da expansão da área florestal.  Importante mencionar que, em 2005, o eucalipto representava 61% da área plantada, e o pínus, 33%.  

Contudo, em 2014, o eucalipto passou a 72% do total, e o pínus caíra a 21%. O pínus reduziu-se de 1,83 milhões de hectares, em 2005, para 1,59 milhões de hectares, em 2014 (queda de 240 mil ha), enquanto o eucalipto subiu de 3,41 milhões para 5,56 milhões de hectares, um aumento de 2,15 milhões de hectares. Isso posto, como consequência disso, no tocante às projeções da produtividade florestal, optamos por focar, neste artigo, apenas o gênero Eucalyptus, o mais plantado e que detém também a maior produtividade entre as espécies citadas nas estatísticas do setor.

Por último, concernente a essas estatísticas, os dados que serão citados nesta matéria têm como fontes os arquivos de Manoel de Freitas Consultoria e os conhecidos relatórios da Abraf e Ibá. No que se refere ao histórico das florestas plantadas, comecemos pelo ano de 1966 – início do programa de incentivos fiscais para fins de reflorestamento. Nesse ano, estimava-se uma área de 600.000 hectares de florestas plantadas no País. Quando da extinção do programa de incentivos, em1987, corria a informação de que os incentivos permitiram que a área plantada no País alcançasse uns 5 milhões de hectares, com predominância de eucaliptos e pínus. 

 
A disposição de reflorestar, turbinada pelos enormes atrativos do programa de incentivos fiscais, permitiu que, em 21 anos (tempo em que durou o programa), se produzisse uma média de expansão da área plantada de algo como 210.000 ha/ano, calculada para o período. Tem-se como boa a informação de que a área líquida plantada existente, poucos anos após o fim dos incentivos fiscais, caíra para uns 4 milhões de hectares, formada predominantemente de eucaliptos e pínus, isso no começo dos anos 1990.
 
Lá pelo ano 2000, a área de pínus e eucaliptos, conforme registros, totalizava 4,8 milhões de hectares. Considerando, agora, como ponto de partida, os 4 milhões de hectares do começo dos anos 1990, encontramos um aumento médio da área plantada de 80.000 ha/ano entre 1990 e 2000. Ressalte-se que, nesse período todo mencionado, de 1966 a 2000, as exigências quanto a licenciamentos não tinham o mesmo rigor que existe nos dias de hoje. 
 
Também as disponibilidades de terras e seus preços, mão de obra eram muito menos limitantes ao crescimento florestal do que nos dias atuais.  E, mesmo assim, não conseguimos sair de um máximo de 210.000 ha/ano no crescimento da área plantada. Vindo para o presente, no final de 2014, já alcançamos 7,2 milhões de hectares com plantios de eucaliptos e pínus. Foram 2,4 milhões de hectares a mais, tendo como base o ano 2000, o que nos deu, de média, um aumento na área plantada de 170.000 ha/ano. 
 
E contando com um período virtuoso da nossa economia em pelo menos uns 10 anos nesses últimos 14 anos. Cabe o esclarecimento de que nos referimos sempre a aumento anual da área plantada, para diferenciar de área de plantios anuais, pois é sabido que houve, ao longo dos tempos, muitas reformas em áreas já existentes e que não entraram nas contas acima. Quanto à perspectiva futura da floresta plantada, supondo que continuaremos a expandir a área florestal ao ritmo dos últimos tempos, de 170.000 hectares ao ano, chegaremos a um total de florestas plantadas, nos próximos 20 anos, em 2035, ao redor de 10,6 milhões de hectares, entre eucaliptos e pínus.
 
Submetendo essa conclusão a algumas outras evidências, principiamos por comentar que se percebe certo esgotamento nas áreas disponíveis para reflorestamentos nas áreas tradicionais da silvicultura brasileira.  Vejamos. Em estados como Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Bahia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo, que, de larga data, plantam florestas, observamos que, no período de 2005 a 2014, o crescimento da área florestal foi de 114.000 ha/ano. Esses estados representavam, em 2005, aproximadamente 90% do total existente.
 
Por outro lado, nas demais regiões do País, nesse mesmo período, a expansão foi de 143.000 ha/ano. Essas regiões, que representavam 10% em 2005, agora, em 2014,  respondiam por 26% do total plantado. No período mais recente, 2010 a 2014, a média de expansão nos citados estados tradicionais, de repente, caiu para 45.000 ha/ano. Tudo indica, portanto, que a expansão da base florestal deverá ocorrer a partir de outras regiões não tradicionais. 
 
Para se chegar aos mencionados 10,6 milhões de hectares até 2035, um montante de 3,4 milhões de hectares deverá ser acrescido aos atuais 7,2 milhões de hectares. Em acontecendo, serão mobilizados algo como uns 6 milhões de hectares de terras totais, num aproveitamento médio estimado entre 55 e 60%, já que boa parte será em regiões onde haverá maior exigência com Reserva Legal (exemplo: no estado do Tocantins, a Reserva, se em área de cerrado, é de 35%) e com aproveitamento menor em função da qualidade do solo, normalmente inferior às regiões tradicionais. Por último, esta quantia elevada de 6 milhões de hectares de terras por si só esbarrará em 3 entraves da maior importância: 
 
  • disponibilidade de áreas;
  • localização estratégica para fins de interesse industrial e comercial; e
  • preços que sejam compatíveis com o negócio florestal. 
No que se refere ao Incremento Médio Anual – IMA, pelo meu banco de dados, tenho como produtividade média do eucalipto, no início dos anos 1970, um IMA de 20 m3/ha/ano. Em 2000, o IMA já crescera para 30 m3/ha/ano. Este salto – de 50% – muito se deveu à adoção da clonagem, que se iniciara para valer a partir dos anos 1980. Em 2005, o IMA já alcançara 34 m3/ha/ano. Em 2014, a produtividade passou para 39 m3/ha/ano, o que deu quase 100% de ganho em 44 anos – 1970 a 2014.  
 
Cabe observar, contudo, que, conforme os dados, de 2005 a 2014, o IMA cresceu apenas 5 m3/ha/ano no período, ou algo como 15% em 9 anos, sinalizando uma perda de ritmo de aumento na produtividade das plantações de eucalipto no País. Esclareço que eu trabalho sempre com média e descarto os casos pontuais, em que o privilégio de contar com solos de fertilidade para agricultura, chuvas abundantes e bem distribuídas, clones apropriados, manejos corretos podem levar a produtividades superiores a 50 e mesmo 60 m3/ha/ano.
 
Tenho acompanhado, dentro do possível, o que acontece com as grandes plantações comerciais. Recebo a informação, quase generalizada, que está ocorrendo, em inúmeros locais do Brasil, certo declínio clonal do eucalipto (na ausência de um melhor nome) com recuos de 10 a 20% nas produtividades antes conhecidas. De momento, a explicação mais aceita é aquela que é decorrente das mudanças climáticas, com ocorrência de poucas chuvas, bem como do surgimento, nos últimos anos, de novas pragas, com elevados efeitos danosos. 
 
Devemos, ainda, considerar que o aumento de área plantada com certeza se fará de forma considerável em novas regiões com maiores déficits hídricos, solos com fertilidades mais baixas, o que deve contribuir para que a média do IMA futuro sofra o efeito de um viés de baixa em relação às produtividades atuais. Muito se fala em plantas geneticamente modificadas, poliploidia e outros recursos da biotecnologia. Talvez aí, o caminho para o aumento da produtividade. 
 
Mirando o futuro, como consultor, até 2035, chegaremos por volta de 10,6 milhões de hectares com a área plantada com eucaliptos e pínus no Brasil. A produtividade média do eucalipto no País deverá estacionar em algo como 39 ou 40 m3/ha/ano, e, se passar disso, será por incrementos pequenos e de forma lenta – salvo avanços concretos na biotecnologia que permitam produção de mudas em larga escala e economicamente viáveis, acessíveis à maior parte dos empreendedores florestais.