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Rafael Ferreira Alfenas

Professor de Patologia Florestal da Universidade Federal-MT

Op-CP-46

Principais doenças da Teca no Brasil
Tectona grandis, popularmente conhecida como Teca, é uma espécie florestal de grande porte, nativa do sudoeste da Ásia. É conhecida por possuir uma das madeiras mais valiosas do mundo, devido às propriedades físicas e à beleza natural de sua madeira. Tem sido utilizada na construção de móveis luxuosos, na construção naval e como componente de objetos decorativos.

Em função da valorização e da versatilidade de uso da madeira, o mercado madeireiro de teca é crescente, e seu o plantio é considerado uma excelente oportunidade de investimento a médio e longo prazos. Atualmente, já são mais de 6,8 milhões de hectares plantados com T. grandis, concentrados principalmente na Índia, Indonésia, Myanmar, Gana, Nigéria, Tailândia, Bangladesh, Brasil, Panamá, Costa Rica e Equador. 
 
No Brasil, a Teca foi introduzida no final dos anos 1960, na região de Cáceres-MT, e, em função de sua adaptabilidade às condições edafoclimáticas locais, ao bom crescimento num ciclo reduzido e à valorização de sua madeira, tem-se observado uma expansão da área plantada no Brasil. Nos últimos cinco anos, houve um aumento de 34% da área plantada, e há, atualmente, cerca de 88 mil hectares, concentrados principalmente nos estados do Acre, Mato Grosso, Pará e Rondônia. 
 
Inicialmente, o corte final era esperado aos 25 anos, com produtividade média entre 10 a 15 m3 ha-1 ano-1 e os plantios eram seminais e com baixa tecnologia. Nos últimos anos, com o início dos plantios de clones e progênies selecionadas, a expectativa é de se realizar o corte raso em idade inferior a 20 anos, com produtividade superior a 20 m3 ha-1 ano-1. 
 
No entanto as doenças, sejam de origem biótica ou abiótica, afetam negativamente a produtividade e podem causar grandes perdas econômicas, comprometendo, consequentemente, o retorno esperado do investimento. Portanto é imprescindível adotar estratégias para minimizar os riscos de perdas causadas pelas doenças. E, para isso, o primeiro passo é identificar e conhecer as principais doenças e seus impactos na cultura.  
 
As doenças abióticas, causadas por agentes não parasitários, que não são transmitidas de uma planta doente para uma planta sadia, em geral, decorrem de condições inadequadas de manejo da cultura ou de condições adversas de ambiente. Os principais problemas abióticos já relatados são: sítios inaptos para o plantio, uma vez que é uma espécie exigente em cálcio e apresenta baixa tolerância a alumínio e ao excesso de umidade no sistema radicular, manejo silvicultural inadequado e ação de fatores físicos e químicos extremos, tais como quebra pelo vento e descarga elétrica (raio).  

As doenças abióticas são controladas por meio do plantio de material genético adaptado às condições de clima e de solo da região de plantio, bem como pela adoção de práticas silviculturais executadas de forma correta e em tempo hábil.
 
As doenças bióticas, causadas por agentes parasitários, são transmitidas de uma planta doente para uma planta sadia e, portanto, merecem atenção especial, uma vez que podem causar grandes prejuízos.

Diversas doenças, tais como as manchas foliares, causadas por diferentes patógenos (Phomopsis tectonae, Calonectria cylindrospora, Rhizoctonia solani, Myrothecium roridum e Xanthomonas sp.), a antracnose, causada por Colletotrichum gloesporioides, o oídio, causado por Phyllactina guttata e Uncinula tectonae, a galha, causada por Meloidogyne javanica e a podridão de estacas, causada por Myrothecium roridum e Fusarium sp., já foram encontradas no Brasil sem causar grandes prejuízos, mas apresentam potencial de perdas no futuro com a expansão das plantações e dos ciclos sucessivos da cultura. 



Atualmente, a ferrugem causada por Olivae neotectonae, a murcha-de-ceratocystis, causada por Ceratocystis fimbriata, a murcha-de-ralstonia, causada por Ralstonia solanacearum, e a podridão radicular de causa complexa são consideradas as principais doenças da cultura da teca no Brasil, em função dos prejuízos econômicos que podem gerar. 
 
A ferrugem causada por Olivae neotectonae é uma doença de fácil detecção, que incide tanto em viveiro quanto em plantios no campo. Nas plantas infectadas, observam-se manchas de coloração marrom escuro (necróticas) na face adaxial da folha e a presença de pústulas amarelas na face abaxial.

No campo, a doença pode ocorrer tanto em plantas jovens quanto em plantas adultas, e o principal prejuízo da doença é a desfolha prematura da planta, que pode reduzir em até 30% no crescimento. Recentes estudos e observações em campo indicam a existência de variabilidade para resistência, o que permite a seleção e o plantio de clones resistentes. 
 
A murcha-de-ceratocystis, causada por Ceratocystis fimbriata, é uma doença que pode levar a planta à morte, e, quando não, reduz significativamente seu crescimento e o valor da madeira produzida. As infecções ocorrem a partir do solo, por meio das raízes ou pelas podas, e atingem o sistema vascular da planta.

Inicialmente, ocorre a murcha de porções apicais da planta progredindo para uma murcha generalizada. Às vezes, observa-se depressão na casca e presença de exsudação de goma ao longo do tronco. Internamente, ao se fazer um corte longitudinal na árvore sintomática, observam-se lesões escuras e descontínuas no sentido do raio. 
 
Quando se faz o corte transversal, observa-se a presença do escurecimento radial da região central (xilema) para a região do floema. Os vasos das plantas infectadas ficam intensamente colonizados, impedindo a translocação de água e sais minerais, provocando a murcha e, consequentemente, a morte da planta.

A doença pode ser disseminada de várias maneiras, como o contato de raízes, ação de coleobrocas e outros insetos que podem carregar em seu corpo estruturas do patógeno, plantios de mudas infectadas e uso de ferramentas de poda. Como no manejo da cultura da teca são necessárias podas frequentes para condução do plantio para serraria, acredita-se que esta seja a forma de maior importância na disseminação da doença.



Ao realizar podas em uma planta infectada assintomática, pode haver acúmulo de serragem contendo inóculo do patógeno no equipamento, e, ao realizar a mesma operação em uma planta sadia, poderá ocorrer a disseminação da doença. Os danos causados pela murcha-de-ceratocystis são irreversíveis, e, para o controle da doença, a única forma é o plantio de material genético resistente, selecionado por inoculação em condições de ambiente controlado. Recentes inspeções de campo indicam variabilidade para a resistência nos materiais genéticos já introduzidos no Brasil.
 
A murcha-de-ralstonia causada por Ralstonia solanacearum ainda não foi relatada oficialmente em teca no Brasil, no entanto se trata de uma doença importante, com ocorrência já confirmada em outros países. Assim, como a murcha-de-ceratocystis, é uma doença vascular que pode levar a planta à morte.

A principal forma de disseminação dessa bacteriose é através do plantio de mudas infectadas, portanto é fundamental fazer vistorias periódicas, tanto em viveiro quanto em campo, a fim de minimizar os impactos causados pela doença e evitar a disseminação por mudas infectadas. 
 
A podridão radicular é uma doença de causa complexa, que tem sido encontrada com frequência em plantios com mais de 2 anos no Brasil. Os principais sintomas são murcha e morte da planta, geralmente em reboleiras e, às vezes, em plantas isoladas, achatamento na base do tronco, trincamento e desprendimento da casca, e, ao cortar a madeira, observa-se a degradação da região do cambio vascular, provavelmente pela ação de enzimas hidrolíticas de fungos.

Em alguns países, associa-se a podridão radicular à presença do fungo Phellinus noxius e/ou Kretzschmaria zonata, no entanto, no Brasil, ainda há necessidade de aprofundar os estudos para comprovar a etiologia da doença.
 
Embora as áreas plantadas com teca estejam em ampla expansão, a experiência brasileira ainda é incipiente. Portanto é essencial e estratégico para o Brasil realizar investimentos privados, em parceria com as instituições de pesquisa, em programas de melhoramento genético, em silvicultura e manejo e, principalmente, em proteção florestal, para garantir a sustentabilidade econômica dos projetos de investimento e impedir que doenças bióticas e abióticas comprometam o retorno esperado.