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Aline Tristão Bernardes

Diretora Executiva da FSC Brasil - Forest Stewardship Council

As-CP-19

Manejo responsável como alternativa
O termo é antigo e já deve ter sido ouvido pela maioria das pessoas hoje em dia, mas, talvez, o conceito por trás dele e sua aplicação ainda sejam um pouco nebulosos. No ano de 1987, durante a Assembleia Geral da ONU, foi publicado um relatório intitulado “Nosso Futuro Comum”, que definia o que era desenvolvimento sustentável. Basicamente, procurar satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de sobrevivência das gerações futuras. Ou seja, o conceito de desenvolvimento sustentável está intrinsicamente ligado à ideia de continuidade.
 
Nesse sentido, a sustentabilidade está intrínseca e sinergicamente vinculada ao manejo florestal responsável – ou, pelo menos, deveria estar. Principalmente aqui no Brasil. Segundo dados do Imazon, 42% de toda a emissão de carbono em terras brasileiras se deve ao desmatamento. 
 
Ainda que sejam muitos os fatores que podem contribuir para a crise climática no planeta, é inegável que há um processo de aquecimento global em andamento. As temperaturas médias globais já subiram 1 grau centígrado desde o início da Revolução Industrial, e, segundo estudos, nos próximos cinquenta anos, poderemos ter um aquecimento de 4 a 5 graus, o que causaria o degelo das calotas polares, elevação do nível dos mares e inundação de cidades litorâneas.

Se, como seres humanos, queremos continuar por aqui para além da nossa própria existência, é preciso olhar com mais cuidado para as florestas e para as nossas escolhas diárias de consumo. Não é possível, apenas, trocar o carro pela bicicleta. É um começo, uma parte, mas é preciso ir além, questionando a origem dos produtos florestais que compramos – e que são milhares – e pressionando a cadeia produtiva inteira a adotar melhores práticas. 
 
O manejo florestal responsável respeita o ciclo natural da floresta, ou seja, os mecanismos de sustentação daquele ecossistema. As intervenções devem, ao mesmo tempo, causar o mínimo de impacto e aproveitar ao máximo as oportunidades. Qualquer colheita só é feita dentro dos limites de produtividade do sistema, da sua capacidade de suporte. Ilustrando, tiram-se três árvores numa área equivalente a um campo de futebol (um hectare) e só se volta a colher ali 30 anos depois, dando tempo de recuperação à floresta e a seus complexos sistemas biológicos. Outra coisa fundamental do manejo responsável é que todos os afetados por ele têm direitos e responsabilidades. 
 
Há 25 anos, o FSC está engajado nesse processo de demonstrar que os recursos florestais têm um potencial valioso para o desenvolvimento territorial, incluindo o manejo de florestas nativas, plantações florestais e de produtos não madeireiros, como erva-mate, resina de candeia ou açaí. No entanto esse desafio não deve – e não pode – ser encarado por apenas uma organização. Nosso trabalho faz diferença, mas não é suficiente, e corremos contra o tempo.

É fundamental incorporar nessa discussão os governos – todos os níveis –, o Ministério Público, setores econômicos, organizações sociais e ambientalistas. Apenas a visão holística e integradora de muitos atores será capaz de alavancar, por exemplo, a economia de base florestal da Amazônia brasileira, conformando uma indústria moderna e potencialmente responsável, como já é o setor nacional de papel e celulose. 
 
Um estudo comissionado pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, em 2016, quis entender qual seria o impacto econômico se a área sob manejo florestal fosse aumentada em 10 vezes. O resultado é surpreendente e inclui um aumento de R$ 3,3 bilhões no PIB brasileiro (considerando a produção florestal e a parte fabril da fabricação de produtos de madeira); uma arrecadação de impostos da ordem de R$ 250 milhões, para ambos os setores econômicos agregados; cerca de 170 mil empregos diretos e indiretos gerados entre 2016-2030; e um valor da produção em 2030 (21 milhões de m3) equivalente a R$ 6,3 bilhões (valores de 2015). 
 
Em tempos de economia em crise, as estratégias deveriam incorporar inovações, mudanças e propostas de desenvolvimento que tenham impactos social e ambiental concretos, como o manejo florestal certificado pelo FSC. Já é evidente que existe uma força de mercado que pressiona por essas práticas sustentáveis.

Acordos setoriais e a própria demanda não vão diminuir; o que pode acontecer é que outros países produtores ocupem posições de destaque num mercado potencial a ser “construído”. Portanto a sustentabilidade que se expressa na ideia de continuidade do desenvolvimento só será possível se olharmos para os outros com empatia, para as florestas como nossas e para nós como agentes de transformação.