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Ricardo Berger

Professor de Economia Florestal da Universidade Federal do Paraná

Op-CP-21

Desenvolvimento sustentável

Colaboração: Alexandre Nascimento

A natureza limitada dos recursos naturais associada às necessidades ilimitadas do ser humano tem levado muitos pesquisadores a se preocuparem com uma falta de bens e serviços para futuras gerações, trazendo à tona críticas aos atuais padrões de desenvolvimento.

A preocupação com a escassez de recursos não é assunto de hoje. No fim do século XVIII, Thomas Malthus, verificando que o crescimento da população vinha ocorrendo a uma taxa maior que o crescimento de alimentos, já preconizava o caos social, caso não fossem adotadas medidas drásticas de controle de natalidade. Como se fala nos dias atuais, o colapso mundial seria inevitável. A população do planeta não cresceu conforme suas previsões.  A produção de alimento superou as expectativas, levando as suas previsões a um fracasso.

Apesar do insucesso das previsões de Malthus, as suas ideias continuaram fortes ao longo do tempo através do "neomalthusianismo" e "ecomalthusianismo" os quais, no seu âmago, defenderam e defendem a mesma ideia de Malthus, ou seja, um desenvolvimento sustentável.

Previsões incorretas sobre o futuro dos recursos naturais não foram um privilégio de Malthus. Frequentemente, ocorrem chuvas de previsões catastróficas sobre o fim da humanidade. Na década de setenta, havia um claro consenso sobre o fim do petróleo já no início do século XX. No entanto o mundo vivencia, a cada dia, novas descobertas de petróleo.

No Brasil, o Pré-Sal. Outro exemplo é a previsão, pelas Nações Unidas, de colapso de água já no ano de 2025. Na área florestal, a sociedade brasileira ficou abalada, na década dos sessenta, com o fim das florestas de pinheiro do Paraná. Não haveria mais madeira nem para se fazer uma cadeira. O País sobreviveu! Nos anos 2005/2006, todos falavam no “Apagão florestal”. Era eminente o fim das indústrias de madeiras processadas mecanicamente. Essas indústrias, hoje em dia, estão vivenciando problemas sim, mas não por falta de madeira.

Apesar de passados 200 anos da teoria de Malthus, as previsões atuais seguem a mesma base de raciocínio, ou seja, são fundamentadas a partir de um descompasso entre crescimentos passados do consumo e da produção de um determinado recurso. Assim, caso o crescimento do consumo ocorra em uma magnitude maior que a produção, entende-se que se caminha para um colapso.

Obviamente, o conhecimento do presente e do passado não confere o status de vidente a nenhum pesquisador, por mais sofisticado que sejam os métodos e modelos quantitativos utilizados. Qualquer previsão de um futuro distante não passa de adivinhação. Até então, as falhas ocorridas nas previsões referentes ao colapso ambiental ocorreram principalmente por uma subestimação do mercado, como regulador da atividade econômica, da falta de confiança na mão invisível de Adam Smith.

Apesar de aparentemente simples, não é demais relembrar como o mercado trata escassez. Economicamente falando, escassez ou falta de sustentabilidade é quando a quantidade demandada é maior que a quantidade ofertada, levando a um aumento constante e temporal no preço do recurso ou do produto. Assim, em economia, a sustentabilidade está associada à escassez ou ao aumento do preço. Se isso não ocorre, é porque o bem não é escasso. É sustentável, pelo menos no curto prazo.

No entanto, se os preços reais estão caindo, o recurso é abundante; a sua sustentabilidade está garantida por algum tempo. A sustentabilidade pode ser alcançada se os preços reais flutuam muito pouco dentro de um horizonte de tempo. É inegável a contribuição que o mercado teve para que a raça humana chegasse até os dias de hoje.

Não há dúvidas de que a possível pressão de um aumento de preços dos alimentos na época de Malthus, bem como o alto preço que o monopólio da OPEP impôs ao petróleo na década de setenta, viabilizaram o desenvolvimento de novas tecnologias, proporcionando um aumento geométrico da produção desses recursos.

Da mesma forma, a constante preocupação com a falta de água nos dias de hoje já deve estar levando muitos empreendedores a buscarem soluções e, quem sabe, uma nova técnica de dessalinização em larga escala. A escassez de madeira de pinheiro no Sul do Brasil foi eliminada com o uso de novas essências florestais. Da mesma forma, a criação de novos produtos, tais como chapas de MDF e OSB, está possibilitando a substituição de madeiras sólidas oriundas da Amazônia.

Na verdade, o problema do mercado não está no seu mecanismo de regulação; este é muito eficiente. Certamente, um aumento de preço vai levar a uma redução do consumo ou a um aumento da produção ou os dois ao mesmo tempo. O problema está na falta de informações que levem a um julgamento tendencioso sobre o que está se tornando escasso e insustentável e o que não está.   

A contínua elevação dos preços permite que se abram espaços para a adoção de novas tecnologias, visando à substituição de recursos ou à obtenção de uma máxima eficiência no seu uso. Esta tem sido e será uma linha de trabalho para a sustentabilidade dos processos produtivos. O aumento de preços favorece a adoção de tecnologias e a redução ou mesmo a substituição parcial ou total de recursos.

Não há dúvidas de que o mercado possui força suficiente para evitar o colapso de qualquer recurso. Isso pode ser alcançado através da expansão da oferta ou via consumo, pela redução brusca da demanda. Para manter a sustentabilidade dos recursos, ações estratégicas devem ser focadas não somente para com o lado da oferta, mas também, e principalmente, com relação à demanda. Aqui, cabem duas considerações. A primeira diz respeito à renda da sociedade. Quanto maior a disponibilidade da capacidade financeira, maior o interesse em adquirir bens e serviços.

Em sociedades menos desenvolvidas (elevada propensão marginal ao consumo), aumentos de renda se refletem em consumos maiores de recursos. Desenvolvimentos tecnológicos, ao criarem soluções para a redução e/ou substituição de recursos, também criam condições para a produção de novos bens e serviços. Gera-se um efeito virtuoso de crescimento e de pressão sobre os recursos.

No entanto, existe outro efeito atuante sobre a demanda: o contínuo aumento e concentração do tamanho das sociedades. Os recursos são finitos, mas os desejos das sociedades continuam em crescente desenvolvimento. Essa pressão compromete de forma rápida a sustentabilidade dos recursos.

Deixar para as forças do mercado (preços) e para o desenvolvimento tecnológico a adequação da sustentabilidade dos recursos, sem uma ação sobre o crescimento populacional, é uma aposta muito alta para as sociedades. Enfim, o mercado não é perfeito. Falhas na alocação de recursos ocorrerão, e, junto com elas, problemas ou crises ambientais sem proporções globais continuarão acontecendo, penalizando algumas pessoas e forçando a mudanças de atitudes de todos. O importante é buscar adquirir informações de forma a não permitir que interferências ambientais inconsistentes tirem a competitividade do País na geração de riqueza e, por outro lado, buscar aproveitar as novas oportunidades “verdes” existentes.