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Heuzer Saraiva Guimarães

Diretor Florestal da Satipel

Op-CP-11

Gestão de florestas plantadas: exemplo de conservação e preservação ambiental

Quanto mais se acumulam informações científicas sobre alertas e riscos globais, mais as mudanças climáticas emergem como o grande desafio do século XXI. Esta é uma verdade absoluta que integra os maiores riscos globais, como a fome, a pobreza, o crescimento populacional, a exclusão social, a poluição do ar, a degradação dos solos e a desertificação, dentre outros, como fontes de contribuição ativa para as mudanças climáticas.

Em 2007, o IPCC - Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, apresentou novos documentos, tratados como um marco, afirmando, com 90% de certeza, que os homens são os responsáveis pelas mudanças climáticas. De acordo com estes relatórios, para mitigá-las, a humanidade terá que diminuir de 50% a 85% as emissões de CO2, até a metade deste século.

Para o Brasil, um dos maiores problemas na emissão de gases causadores das mudanças climáticas é o desmatamento. As queimadas oriundas da destruição das florestas significam 75% das emissões brasileiras. As atuais projeções de crescimento populacional, com todas as conseqüências inerentes, particularmente aquelas que demandam matéria-prima oriunda da madeira, apresentam este desafio como benchmarking de complexidade e motivação.

Considerando a crescente e significativa evolução da demanda por produtos florestais, bem como a necessidade de conservação e preservação ambiental, as florestas plantadas configuram-se como principal fonte sustentável de matéria-prima florestal, consolidando-se como solução mitigadora para a degradação das florestas nativas, além de fator de competitividade para os segmentos de celulose e papel, painéis de madeira, siderurgia a carvão vegetal, energia industrial, produtos sólidos da madeira, móveis, entre outros.

O X Congresso Florestal Mundial, realizado pela FAO, em Paris, 1991, já destacava a relevância das florestas plantadas no contexto socioeconômico global e, dentre suas mais importantes recomendações finais, verifica-se a indicação de que tão importante quanto às controvérsias dogmáticas relacionadas com a introdução de espécies exóticas, as prioridades (de planejamento, pesquisa e manejo) devem visar à manutenção do potencial produtivo do solo, um adequado nível de biodiversidade e rendimento sustentado, além de promover desenvolvimento social e educação ambiental.

A pesquisa e o manejo de florestas plantadas devem ser planejados, com o objetivo de transformar plantações em florestas. Essa transformação não é um simples jogo de palavras, mas se trata de uma mudança conceitual considerável, que incorpora as questões ambientais e sociais, como parte integrante do processo.

O atual alicerce estratégico do manejo florestal estabelece a cadeia de valor inerente à produção de florestas plantadas, como efetiva base de conservação e preservação ambiental, ou seja, fonte primária de manutenção de ecossistemas e mitigação de impactos ambientais e sociais, em escala local. Mudanças climáticas são conseqüências da interação entre deficiências sociais e desequilíbrio ambiental.

Seguindo tal premissa, o modelo de gestão florestal tem como objetivo fundamental desenvolver tecnologias, que ofereçam inovação e melhoria de processos operacionais, suportados, pelo menos, por cinco componentes críticos do manejo sustentável:

 

  • solos, em termos de qualidade e potencial produtivo;
  • água, envolvendo balanço hídrico, regime de vazão e qualidade;
  • diversidade biológica ao longo da paisagem;
  • resistência a perturbações, e
  • progresso social, educação formal e respeito ao meio ambiente.

Os projetos de classificação de solos e sítios têm sido utilizados para geração de modelos sistêmicos de manejo da produtividade florestal, que consideram, por exemplo, não a reposição periódica dos nutrientes exportados do solo em cada colheita, mas a manutenção da qualidade e do potencial produtivo do solo ao longo do tempo.

A unidade básica de avaliação específica e manejo é a microbacia, envolvendo todas as interrelações, entre plantações monoclonais, operações florestais e qualidade e quantidade dos recursos hídricos disponíveis. Os levantamentos e monitoramentos de fauna e flora não seguem nenhum modismo ou se prestam apenas como fonte de criação para segmentos de marketing.

Estes levantamentos tornaram-se base de desenvolvimento de bioindicadores, capazes de qualificar a integridade dos ecossistemas, de antecipar tendências de impactos ambientais e de oferecer oportunidades, tanto de identificação de pragas, quanto de utilização de controles biológicos. Por fim, o reconhecimento de que a floresta plantada é um agente de integração econômica e social fez com que a gestão florestal iniciasse a aplicação de estratégias, que têm promovido o desenvolvimento socioambiental das comunidades.

Hoje em dia, os maiores incrementos em IDH, no Brasil, referem-se, exatamente, aos municípios que dividem com as empresas florestais a responsabilidade de produção de florestas plantadas. Esta aproximação e suporte mútuo são marcados por projetos de educação infantil e alfabetização de adultos, educação sanitária e desenvolvimento de programas integrados de saúde e segurança ocupacional.

É uma base de relacionamento capaz de gerar retornos em educação e conservação ambiental, envolvendo princípios de coleta seletiva e reciclagem de lixo doméstico, conscientização e respeito à legislação ambiental, segmentação das pequenas e médias propriedades e potenciais do uso do solo. O atual cenário de mudanças climáticas é o desafio deste século.

Potenciais soluções requerem ações que promovam cooperação entre nações, governos e sociedade, caracterizando cadeias de valor e estabelecendo co-responsabilidades. Essa premissa tem sido o diferencial de gestão das empresas florestais. As ações de gestão e manejo florestal demonstram ciência das mudanças sociais e ambientais, potencialmente criadas pelo cultivo de monoculturas, e têm estabelecido que a transformação e uso de recursos naturais, em razão de suas características inerentes de complexidade e incertezas, não podem ser conduzidas separadamente de suas interações com vários outros valores da sociedade. Esta integração cria o ambiente de cooperação gerador de aditividade para solução. Pequenas ações individuais em escala, somadas às grandes iniciativas governamentais e empresariais, é que reverterão a catastrófica previsão de caos, gerada pelas mudanças de clima, no país e no mundo.